Nojo, arrependimento, náusea. O local cheirava a vômito e carne podre, 175 vomitou ao entrar no local. As paredes do galpão tinham uma mistura de musgo e sangue, e cheiravam como coisa morta. Era escuro, apenas iluminado pelo olho da criatura que entrou conosco.
Meu corpo desabou ao ver aquela cena, e 175 começou a chorar de desespero, eu gostaria de nunca ter visto isso, de nunca ter entrado nesse lugar. Jovens pendurados pelo pescoço eram visíveis em nossas frentes, uns 50, pelo menos. Alguns tinham um corte profundo em suas barrigas, e suas víceras penduradas em seus abdômens.
Alguns tinham olhos revirados, outros, os olhos perfurados e até mesmo arrancados, é como se as criaturas gostassem de brincar com seus olhos, talvez achassem divertido. Um pouco mais a frente, é possível ver uma série de objetos de tortura, objetos tão bem construídos que era impossível achar qualquer um deles em livros de história ou sites de historiografia.
Em alguns desses objetos, também tinha jovens... 1209, 3984, 5978, 6098... e os números não paravam de subir. Mas um número me chamou atenção.
Bem no meio da sala, uma cabeça empalada em uma estaca, e no meio da estaca uma placa com o número "01".
Uma garota, cabelos loiros, desbotados e secos, seu rosto estava irreconhecível, a boca semiaberta, seus olhos foram comidos por larvas, larvas aparentemente implantadas propositalmente para cumprir essa função.
Aquela cena me enoja, me enjoa, me arrepia. O cheiro desse lugar, as visões, tudo é horrível aqui, o que fazer agora? 175 está chorando, com a mão nos olhos, vomitou três vezes. O que fazer?
A criatura leva 141 para uma cadeira e olha diretamente para nós, consigo sentir seu desprezo pela raça humana, seu ódio e seu sarcasmo. Eles fazem isso por pura diversão, e todos os jovens que chegaram ao segundo andar acabaram no purgatório. Esse... vai ser o nosso destino?
175 está desesperada, chora alto, grita, e parece paralizada com tamanho horror. Eu... estou perdida...
Não sei o que fazer, 141 está em perigo, e a criatura está olhando pra gente, expondo seu ódio e rancor. Tenho certeza de que estaria rindo se tivesse uma boca. Eu quero gritar, mas não sinto minha língua.
A criatura se aproxima de nós lentamente, 175 está horrorizada demais para correr, já eu, não quero correr. Se for pra morrer, que seja com 141, não importa o que eu precise enfrentar, estivemos juntos desde o início, e ficaremos juntos até o fim. Ele é meu parceiro.
Num movimento rápido e involuntário, puxo a faca improvisada que usei para matar Dennis e arremeço em direção a criatura.
Eu errei, errei feio, e a criatura continua andando em nossa direção.
Crise de pânico, e não sou a única, 175 está em desespero mas não consegue correr. Eu não vou correr.
Não sei o que fazer, é o fim, vamos ser mortas aqui, torturadas junto com 141, vão arrancar nossos olhos e expôr como troféus. Nós vamos morrer, mas eu não vou correr.
Eu preciso gritar, mas não sinto minha língua.
Por um breve momento, a criatura se vira ao sentido oposto a nós, foi acertada por algo, a ponta de uma caneta. Assim que a criatura vira, 141 empala a faca improvisada que caiu ao lado de sua cadeira no olho da criatura, arrancando-o, e assim a matando, ela se contorcia e desaparecia, virava pó, sumia da existência.
Eu vou gritar, eu sinto minha língua dentro da minha boca.
Dou um grito estridente, atordoa a todos, até mesmo os corpos pendurados balançam ao ouvir meu grito, a pilha de cadáveres no meio do galpão treme, os crânios espalhados pelo chão parecem querer se quebrar. O cheiro podre e atordoante se dissipa pelo ar, o nojo se transforma em ondas sonoras que penetram nos ouvidos pútridos dos cadáveres da sala. Minhas lágrimas se misturam com o sangue seco no chão que se liquidifica novamente. O atordoamento se torna vibração que move o corpo de 141 até meu colo antes de apagar de vez. Estou ofegante.
141 está apagado no meu colo nesse lugar nojento. 175 está exausta e assustada. Eu estou aliviada e motivada, meu medo se dissipou pela sala e deixou o clima desse lugar muito mais pesado do que quando entramos aqui. Vou carregar 141 até a saída desse lugar dos infernos.
175 trouxe o olho da criatura, que novamente brilha em um azul neon. 141 ainda está desmaiado, exausto. Estamos todos exaustos.
"Eles" devem nos procurar em breve, não temos para onde ir, além do galpão só tem mato, um campo florido, com flores laranjas muito chamativas e bonitas, apesar de suas folhas incomodarem as pétalas.
Esse lugar é onde 141 me levaria se tivesse a chance. Ele sabe que eu amo flores, já me deu algumas. Nesse momento as flores não tem importância, e o cheiro podre do purgatório ainda percorre minhas narinas, fazendo o jardim florido parecer morto e desprezado.
O motivo das criaturas fazerem isso... qual é? ódio? inveja? entretenimento?
Por que fazem isso? Por que nos odeiam? Por que nos torturam?
Seu ódio se tornou como a chuva fina, que cai sobre nós três nesse momento. Sentamos no meio das flores e... choramos. Eu e 175. Choramos muito.
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Prisão de Mandela
Misterio / Suspenso"Acho que eu sou louca" Uma jovem se encontra em um mundo totalmente diferente do que conhecemos, entidades de um único olho a atormentam, adultos são insensíveis e desprezíveis e outros jovens não são encontrados. Até nossa protagonista conhecer u...