Desejos fora de controle

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Agatha apreciava o silêncio. Mesmo que sua cabeça fosse barulhenta demais. Sua mente era como uma vasta estante cheia de acontecimentos bons e ruins, no qual ela garante manter-se separados. Quando sua cabeça não estava preenchida por problemas de trabalho, deixava-se vagar por algum tipo de leitura de seus favoritos livros, por conversas de Nicholas sobre seu dia na escola ou sobre algum personagem favorito, na cumplicidade que possuía com Wanda e nos assuntos aleatórios que Aurora costumava manter.

Porém, sempre quando ouve a voz de sua mãe ou marido, a enxurrada de pensamentos negativos invadem sua mente. Ela se sentia em uma prisão, onde Joseph e Evanora eram as grades que a prendiam. Anos da sua vida foram dedicados em agradar sua mãe, em ser a filha que a mulher sempre sonhou, mas tinha momentos em que sua mãe não estava satisfeita. Ela nunca estava satisfeita.

De frente ao fogão, Agatha olhava a chaleira roxa sobre o fogo, aquecendo a água do seu chá. Já se passavam das onze da noite, Nicholas já estava em seu quarto dormindo, Aurora existiu em ir para casa, na desculpa de não querer encomendar a tia, e Joseph, infelizmente, estava em casa. Ela se controlou para não voar no pescoço do homem quando o mesmo veio com as provocações idiotas de sempre.

Seu corpo estava confortável em um shorts curto e uma regata azul. Caminhou pela cozinha até os armários, para pegar sua xícara. Após pegá-la, deixou-a sobre a pia, indo pegar um pacotinho de chá de camomila. Um fraco suspiro saiu dos seus lábios, seu corpo estava tenso, como se estivesse um enorme peso em suas costas.

Como um passe mágico, os grandes olhos castanhos invadiram sua mente.  Agatha passou as mãos no rosto, irritada com tal pensamento. Mas a imagem da outra mulher, a encarando com deboche e malícia, havia grudado em seu subconsciente, impedindo-a de arrancar. Ela sabia que quanto mais negasse pra si mesmo, o desejo avassalador que sentia por Rio, ficava cada vez mais difícil arrancá-lo de seu corpo. Rio era intensa demais. E Agatha se assustava em alguns momentos, pois não estava acostumada com tamanha intensidade. Mas ela gostava disso, desse jeito avassalador que a mais nova possuía, a deixava intrigada, curiosa e excitada.

Seus pensamentos são interrompidos por batidas vindo da porta de entrada.  Confusa, caminhou até a sala, escutando as suaves batidas com mais clareza. Abriu a porta, franzindo o semblante, encontrando a vizinha parada em frente à sua porta, tarde da noite.

— Você tem noção do horário que é? — indagou levemente irritada.

Rio, que sorria para a mais velha, balançou a cabeça.

— Eu sei ver as horas. — disse sem tirar o sorriso do rosto.

Agatha suspirou, a sua irritabilidade já estava aflorando.

— O que você quer, Vidal?

Rio tirou as mãos de trás do corpo, revelando a pelúcia branca com manchas marrom claro em suas mãos.

— O Nicky esqueceu o Señor Scratchy lá em casa. Eu sei que ele não consegue dormir sem ele.

Agatha sentiu seu coração errar uma batida. Não esperava que a mulher se importasse com algo relacionado a Nicholas. Seus dedos que seguravam a porta, apertaram com força a madeira. As íris azuis estudavam Rio, tentando decifrar a mulher a sua frente.

Pigarreou, ajeitando sua postura novamente.

— Ótimo. Obrigada, Vidal. — estendeu a mão para pegar a pelúcia, porém seus dedos esbarraram nas mãos de Rio, que continuava a sorrir. Agatha sentiu uma onda de eletricidade percorrer seu corpo.

Rio, que até então não tirava os olhos de Agatha, arrepiou-se com o toque suave da mais velha. Por impulso, aproximou-se da outra, ficando cara a cara, sentindo as íris azuladas a queimarem. Agatha ofegou com a aproximação repentina, seu corpo entrou em combustão, o que a fez passar a línguas em seus lábios. Rio não pode impedir o baixo gemido que saiu de seus lábios, ao ter a visão da língua e lábios carnudos tão próximos de si.

Um Caminho Para Duas | agathario Onde histórias criam vida. Descubra agora