A pintura de Nicholas François, "A Mulher Amaldiçoada", de 1859, capturava uma cena intrigante: uma mulher nua cercada por três figuras em posições sugestivas. No entanto, naquele momento, era a mente de Pérola que se perdia naquelas imagens. Sua mão, segurando uma taça de vinho, tremia levemente. Ela podia jurar que não era apenas sua mão a tremer.
Os olhos de Pérola se desviaram para as anfitriãs da noite. Morgana estava na ponta da mesa, enquanto Gaia ocupava a outra extremidade. Pérola se posicionava perfeitamente entre elas, como se fosse a peça central de uma obra de arte. A mesa, grande o suficiente para oito pessoas, abrigava apenas três cadeiras, cobertas por um toque de elegância.
O aroma do vinho se misturava ao perfume de cada uma das mulheres, criando uma atmosfera envolvente, entrelaçada com o cheiro do Ravioli em sua frente. Enquanto as anfitriãs conversavam animadamente, Pérola permitiu-se olhar ao redor. O único móvel na sala de estar que se destacava era a mesa, e em cada canto, plantas exóticas, que ela mal reconhecia, adornavam o ambiente. Pérola nunca se interessara por botânica, mas sabia que Gaia tinha uma paixão por elas. Por isso, dias antes, ao receber o convite para o jantar, ela se dedicou a estudar sobre plantas, apenas para não parecer incompetente ao conversar com a ruiva.
Morgana, ao contrário da esposa que amava as plantas, era uma amante das artes. Não havia uma parede no apartamento que não estivesse adornada por uma pintura, pelo menos nos lugares onde Pérola havia passado. — Lola, você está bem? Parece distraída — a voz de Morgana trouxe a mente de Pérola de volta ao jantar. Ela olhou para a mulher, mas antes que pudesse responder, Gaia interveio, sua voz soando com um tom de autoridade.
— Acho que ela bebeu demais. E olha só, mal tocou no risoto. Baby, você não pode beber álcool sem comer. — Nesse momento, a única coisa que passou pela mente de Pérola foi a pergunta de como o tom da voz de Gaia havia adquirido uma certa firmeza e reprovação. Por que isso causou um leve tremor dentro dela, e não apenas nas mãos?
Antes de responder, tomou um gole do vinho e deixou a taça sobre a mesa, ao lado do prato que mal fora tocado. — Não estou bêbada, essa é apenas a segunda taça. Não fico embriagada assim tão fácil. E, para ser honesta, estava apenas admirando as obras nas paredes. Elas são realmente lindas.
Não era um jantar de amigas, onde fofocariam sobre os outros, falariam sobre garotas e garotos ou comentariam sobre novas tendências. Embora compartilhassem informações sobre pessoas conhecidas, a realidade do encontro só se impôs quando um silêncio repentino tomou conta da mesa. O olhar de Pérola transitou de uma mulher para a outra, e ela se esforçou para não ser óbvia em sua ansiedade. No entanto, suas mãos traíam seu nervosismo, e foi tão automático o gesto de colocá-las sob o colo, abaixo da mesa, que ela percebeu que havia sido evidente demais quando ouviu a risada baixa de Morgana.
— Eu... — começou a dizer, mas foi interrompida por Gaia, que se levantou e arrastou a cadeira até seu lado.— Você? — perguntou, com um sorriso que misturava curiosidade e desafio. — O som do arrastar da cadeira chamou a atenção de Pérola, mas Morgana não se juntou a elas. Em vez disso, ela se posicionou do outro lado da mesa, de frente para as duas, como se estivesse montando um tabuleiro de xadrez onde cada movimento contava.
Os olhos de Pérola acompanharam os movimentos da ruiva ao seu lado. A maneira como ela se sentou de lado na cadeira, a mão que deslizou pela coxa exposta da mulher, provocando mais do que simples arrepios em seu corpo, até que subiu em direção à mesa, pegando um garfo sem pensar. Pérola estava ocupada demais, prestando atenção na proximidade dos lábios. Ela fechou os olhos, pesando o contato macio entre ambos, mas tudo o que sentiu foi o calor da outra se afastando. Ao abrir os olhos, viu o garfo com ravioli à sua frente.
— Abre a boca — a fala que saiu lentamente dos lábios vermelhos de Gaia soou mais como uma ordem do que um pedido, repetindo-se na mente de Pérola. Ela estava começando a entender o que estava acontecendo. A outra realmente queria alimentá-la? Ela parecia alguém que precisava receber comida na boca? A vergonha foi automática. E se não fosse pela pouca iluminação do lugar, teriam notado a vermelhidão em seu rosto. O olhar de Morgana, à sua frente, encontrou o dela, calma demais, observando tudo.
— O ravioli vai esfriar; eu fiz com tanto carinho. Você realmente vai fazer pouco caso? — O sentimento de tristeza no tom de Gaia era mais do que óbvio. E para provar que era puro fingimento, foi a risada baixa de Morgana, impossível de não ouvir. A mão de Pérola buscou o vinho em cima da mesa, mas antes que pudesse tocá-lo, o barulho do garfo caindo e batendo contra o prato chamou sua atenção, seguido de um tapa forte da mão Gaia sobre a sua. — Não disse que podia beber.
Antes de pegar o garfo, Gaia se aproximou da outra. Com os lábios contra o ouvido de Pérola, ela disse — Se quiser ir embora, pode ir. Não vamos te prender aqui. Você pode sair por aquela porta e vamos fingir que isso nunca aconteceu. Mas, se você ficar, vai abrir essa linda boquinha e vai comer. E não e so sobre comida que estou falando —
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Lábios e Pecados
Short StoryAqui você vai encontrar uma coleção de contos que mergulham fundo no desejo, na ousadia e nos limites do prazer. São histórias onde a intimidade é explorada sem medo, onde o poder e a entrega se cruzam em jogos de submissão e controle. Aqui, o praze...