A segunda pintura que veio à mente de Pérola naquela noite foi "A Grande Odalisca", de Jean-Auguste-Dominique Ingres. A obra retratava uma mulher nua reclinada de forma sensual, com um olhar que sugeria intimidade e sedução. Ao contrário da primeira pintura, que havia surgido em um momento de distração, aquela era provocada por um gatilho claro: Morgana, nua, sentada na poltrona de couro ao lado da cama de casal.
Pérola se lembrava de como tudo havia começado. O ravioli que mal fora tocado, o cheiro da vela sendo apagada na sala de jantar, a mão macia de Gaia sobre a sua. As taças de vinho ainda estavam espalhadas pela mesa, testemunhas silenciosas do que acontecia. O momento exato em que Gaia e Morgana se enfrentaram, se tocando pela primeira vez naquela noite, estava gravado em sua memória.Pérola recordou a sensação intensa de ver o beijo entre as duas, uma cena que fez seu coração disparar. Em sua mente, ela podia quase sentir o movimento das línguas, a mordida que Morgana deu no lábio inferior de Gaia. E então, como um reflexo daquela mordida, uma onda elétrica percorreu seu corpo quando sentiu Gaia apertando sua mão, um toque que a fez estremecer.
Mas como havia chegado até ali, sua memória parecia ter se apagado. De maneira perturbadora, Pérola não se lembrava de como seu vestido foi parar no chão, ao lado do de Gaia, ou de como Morgana acabou nua, sentada na poltrona. Era como se aquele momento tivesse sido arrancado de sua mente, uma lacuna preenchida apenas pelas sensações que ainda pulsavam em seu corpo.
A sensação, não familiar mas calorosa, invadia Pérola ao sentir os dedos de Gaia dentro de si, enquanto rebolava sobre a cintura da mulher. Cada mordida que Gaia deixava pelo pescoço e seio formava uma trilha, marcas de um crime que ela estava determinada a repetir. O calor que a envolvia aumentava quando sua própria mão encontrou a intimidade da mulher sob ela, como se cada toque acendesse uma chama que ela nunca soubera que existia.Os gemidos reverberavam em seus ouvidos, ora suaves, ora intensos, mas sempre mantendo a mesma essência. Eram como uma canção hipnótica, uma melodia que preenchia o espaço entre elas, misturando-se aos sussurros da noite.
O rosto de Pérola estava contra o pescoço de Gaia, enquanto os lábios da mulher deixavam um rastro de umidade por todo caminho que conseguiam alcançar naquela posição. Diferente das marcas deixadas pelos dentes de Morgana, as carícias de Gaia eram suaves, como se cada toque fosse um sussurro. Desde o momento em que entrou naquele quarto e se deitou na cama coberta por seda vermelha, Pérola se recusou a encarar os olhos das duas, como se essa evasão funcionasse como uma barreira de proteção, seu escape de uma realidade que a intimidava.
A seda sob seu corpo refletia o calor de suas emoções, e o aroma do ambiente a envolvia, intoxicante e doce. Ela sentia a intensidade do momento, mas a visão das duas a desafiava. Era mais fácil perder-se na conexão física do que confrontar a profundidade de seus sentimentos. Cada movimento a fazia questionar o que estava fazendo ali, mas, ao mesmo tempo, havia uma certeza inegável de que, independentemente de tudo, ela desejava estar ali.
Ela retirou o rosto da curvatura perfeita entre o ombro e o pescoço de Gaia, buscando a visão de Morgana, mas tudo o que encontrou foi uma poltrona vazia. Sua mente ainda estava perdida na sensação de prazer, tentando entender a ausência da outra. Por alguns segundos, ela hesitou, até que sentiu uma mão firme agarrar seus cabelos, puxando-a para trás. O gemido que escapou de seus lábios foi uma mistura intensa de dor, prazer e surpresa.
A mão de Morgana a conduziu para um novo horizonte, fazendo com que pela primeira vez dentro daquele quarto ela encarasse os olhos da outra. Um olhar perfeito, que parecia queimar sua alma e seu corpo ao mesmo tempo. O segundo gemido que saiu de sua boca foi mais alto, uma resposta involuntária ao toque de Gaia, que explorava seu corpo com delicadeza. Ela sentiu um terceiro dedo se juntar aos outros, adentrando-a e sendo recebido com uma onda de calor, como se cada movimento estivesse acendendo uma fogueira dentro dela.
A mão que estava nos cabelos de Pérola escorreu suavemente para seu pescoço e, em seguida, encontrou os lábios dela. Morgana fez um movimento delicado, não precisando de força para abrir os lábios da outra. Foi só naquele momento que Pérola percebeu que a outra mão de Morgana segurava uma taça de vinho, que logo encontrou os lábios da jovem. Porém, Morgana não recuou.
Curvando-se para mais perto, Morgana alinhou seu rosto ao de Pérola, seus narizes se tocando, e então abriu a boca, compartilhando o vinho com ela. Pérola não conseguiu engolir tudo; muito do líquido escorreu por sua boca, escorrendo pelo seu corpo, molhando seu pescoço, seus seios, até encontrar os lábios de Gaia. A trilha do vinho se tornou um caminho que traçou a conexão entre as três, um rastro de prazer e entrega.
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Lábios e Pecados
Short StoryAqui você vai encontrar uma coleção de contos que mergulham fundo no desejo, na ousadia e nos limites do prazer. São histórias onde a intimidade é explorada sem medo, onde o poder e a entrega se cruzam em jogos de submissão e controle. Aqui, o praze...