Lágrimas podem significar muitas coisas; geralmente estão ligadas à tristeza, a momentos de fraqueza ou a alguém que está de luto. Mas as duas gotas que escorriam dos olhos de Pérola não tinham nada a ver com tristeza. Ela queria estar ali, sempre quis, naquela sala com aquelas duas mulheres. Para alguém que sempre conseguiu o que queria com facilidade, nunca ter recebido um grito ou uma ordem, e seguir algo tão simples como abrir a boca para que Gaia colocasse um pequeno pedaço de ravioli dentro, era como atravessar uma barreira dentro de si mesma, expondo-se a elas. O problema era que, no fundo, uma parte dela amava e odiava aquilo ao mesmo tempo: a falta de controle e a liberdade que isso trazia.
Com os lábios tremendo, Pérola finalmente se permitiu abrir a boca. O sorriso que surgiu nos lábios de Gaia e Morgana foi instantâneo, como se tivessem ganhado um prêmio ao ver aquele gesto simples. Enquanto mastigava o ravioli que Gaia havia servido, Pérola sentiu o dedo da ruiva deslizar pela sua bochecha, secando a lágrima antes que ela tivesse chance de escorregar até sua mão. Seus olhos, que até aquele momento estavam fixos na taça de vinho, se voltaram para Gaia assim que o dedo, que havia acariciado seu rosto, encontrou seus lábios.
— Viu? Não foi tão difícil — disse Gaia, com um tom de deboche e diversão que era impossível ignorar. Ela voltou o garfo para o prato, mas parou por um momento ao ouvir o sussurro de Pérola, que parecia só para ela. — Foi porque não fui eu que abri a boca.
A frase pairou no ar entre elas. Gaia continuou sua tarefa e trouxe o garfo de volta aos lábios de Pérola. A jovem percebeu que seu pequeno desabafo não tinha passado despercebido quando encontrou os olhos castanho-escuros de Gaia fixos nos seus, um sorriso mais largo iluminando seu rosto.
A atmosfera carregou-se de uma nova tensão, uma eletricidade entre as três. Pérola não sabia se devia se envergonhar por ter falado ou se entregaria de vez à curiosidade que a consumia. O desejo de explorar essa nova dinâmica e se perder na experiência era intenso, e ela se permitiu sorrir timidamente.
— Então, o que você vai fazer agora? — perguntou Gaia, com a voz baixa e provocativa, enquanto o garfo pairava perto dos lábios de Pérola.O coração de Pérola acelerou. Era um convite disfarçado de desafio, e, pela primeira vez, ela estava pronta para responder. — Agora, vou continuar a comer o ravioli. — Ela se inclinou um pouco para frente, permitindo que Gaia a alimentasse novamente. O garfo com o ravioli se aproximou, e ela, abriu a boca.
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Lábios e Pecados
Short StoryAqui você vai encontrar uma coleção de contos que mergulham fundo no desejo, na ousadia e nos limites do prazer. São histórias onde a intimidade é explorada sem medo, onde o poder e a entrega se cruzam em jogos de submissão e controle. Aqui, o praze...