14: Feridas que demoram a ser curadas.

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Sana insistiu em dirigir até onde iríamos, colocando uma venda nos meus olhos na metade do caminho. Se não fosse pela presença de uma criança tagarela no banco de trás, eu facilmente acreditaria que a japonesa estava prestes a me matar. Ela movia a mão para acariciar minha cabeça algumas vezes e trazia a minha sonolência junto, praticamente dormi nas duas horas de viagem.

Novamente, sonhei com algo que não gostaria, sonhei com a minha pequena.

— Chou! Chegamos. — Levei as mãos até a venda, o silêncio anunciando que Yuna também havia dormido lá atrás. — Não tire ainda!

Sana fez uma movimentação, saindo do carro e abrindo a porta para que eu pudesse sair. Ela ria como uma criança arteira enquanto me endireitava para frente do que quer que fosse aquilo.

— Já posso ver?

— Pode.

Retirei o pano dos meus olhos e os fechei para me acostumar com a claridade, pisquei algumas vezes, levantando o rosto. Observei as paredes em tons de marrom da casa, as janelas com curtinas clássicas de Taiwan. O lugar onde eu vinha visitar, que costumava a ser alegre e cheio de vida quando a família se unia, de repente era meu maior terror. Neguei com a cabeça, segurando Minatozaki pelas mãos.

— Não, Sana, vamos embora.

— O que? Acabamos de chegar... — Ela riu, como se fosse brincadeira. — Chou, parece que você viu um fantasma.

— Vamos para outro lugar, por favor. Antes que a minha mãe...

— Tzuyu! — A senhora falou, vindo dos fundos da casa. Fechei os olhos. — Eu estava cuidando das plantas, entrem!

— Desculpa?— Sana sussurrou, seu rosto ainda meio confuso.

Mexi a cabeça, respirando fundo.

— Eu vou pegar a Yuna. Pode ir primeiro? — Ela prontamente aceitou, deixando um beijo em minha testa.

Meus sentidos estavam todos estranhos, minhas pernas estavam fraquejando, era perigoso ficar com uma criança no colo naquele estado. Ainda sim, Yuna acordou ao ser movimentada e se agarrou ao meu pescoço, seus olhinhos abrindo e fechando lentamente.

Tudo ainda parecia igual, as flores espalhadas pela casa, fotografias antigas e estátuas de budas por todo lugar. Mamãe costumava ser bem religiosa, depois que meu pai faleceu, isso pareceu ser ainda mais uma coisa de intimidade entre ela e o divino. Até mesmo os tapetes não mudaram, símbolos da cultura taiwanesa minimamente desenhados pela costura. E claro, a segunda porta após o corredor. O que costumava ser o quarto dela na casa da mamãe.

— Filha, deveria ter trago Sana aqui antes. — Minha mãe disse, um grande sorriso no rosto enquanto se aproximava. Sana a ajudava na cozinha.— E esta garotinha sonolenta? Já almoçou?

Yuna deu um sorriso e negou com a cabeça. Era estranho ver partes diferentes da minha vida interagindo daquela forma.

— Vamos comer, antes que passe do horário. — A japonesa pegou a filha do meu colo.

Não consegui falar muita coisa durante o almoço, estar ali me tirava a fome e a vontade de conversar. Eu continuava a olhar para a porta do quarto dela, me perguntando se as coisas ainda estariam ali.

— Tzuyu me ligou uma vez, falando sobre você, Sana. — Aquilo chamou minha atenção, e eu a repreendi com o olhar.

Mãmã...

Minatozaki levantou as sobrancelhas e me olhou de relance.

— Ela me disse que você era estranha.

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⏰ Última atualização: Jan 13 ⏰

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Índigo | SatzuOnde histórias criam vida. Descubra agora