As consultas com a psiquiatra acabaram sendo tão interessantes quanto as da psicóloga que eu ainda mantinha durante a mesma semana. Contudo, a psiquiatra me recomendou logo de cara que eu deveria ficar pelo menos por alguns dias em observação internada no hospital no qual ela tratava os seus pacientes.
Eu recusei de imediato dizendo que não era para tanto, e que estava tudo bem se o meu caso acabasse demorando mais do que o esperado. Mas eu não queria ficar presa em um hospital, muito menos em uma ala psiquiátrica.
Ao expor a respeito disso em casa, ele apenas balançou a cabeça indicando que entendia o meu ponto, mas que pela sua expressão demonstrava que ele concordava que eu fizesse a internação.
— Se eu não me internar você por acaso vai terminar comigo? — eu acabei dizendo depois de passar algumas semanas indo às consultas com a psicóloga e a psiquiatra, e ambas me recomendarem no final das seções de que eu deveria aceitar a recomendação dada pelas duas de ficar pelo menos alguns dias internada.
— Eu não vou terminar com você! — ele disse com um sorriso no rosto, mas pela primeira vez o sorriso dele era triste. Algo que eu nunca tinha visto antes. E ao ver aquilo eu senti um aperto no peito, me dando o impulso de querer me internar, caso isso fosse resolver tudo de uma vez.
— Se eu me internar, você vai ir me visitar lá? — eu disse com um semblante indicando que dependendo da resposta dele, eu iria acabar aceitando a internação.
— Se você precisar de mim eu vou estar lá, com toda certeza! — ele disse segurando as minhas mãos e olhando profundamente dentro dos meus olhos me dando coragem e ânimo para fazer aquilo.
Sem mais nenhuma palavra, eu liguei para a psiquiatra indicando que eu aceitaria a internação recomendada. E, como eu trabalhava em casa como freelancer em traduções de mandarim, alemão, francês e o inglês, eu podia pausar as minhas demandas sem qualquer problema, visto que os prazos sempre eram longos, e eu conseguia entregar antes do tempo previsto.
Uma parte de mim estava me fazendo sentir com medo e ao mesmo tempo ansiosa para que tudo isso terminasse de uma vez, apenas para que toda essa atenção em torno do que eu considerava até alguns meses atrás como algo inofensivo, sendo nada demais, se encerrasse de uma vez.
O hábito de criar diálogos e cenários imaginando estar conversando com alguém começou a diminuir gradativamente desde que comecei com as consultas com a psicóloga. De modo, que somente percebi quando fui questionava pela minha psiquiatra quando tinha sido a última vez que eu tinha feito isso, mas eu não conseguia me recordar corretamente, o que me deixou confusa, porque depois que a consulta encerrou e eu estava a caminho de casa, me lembrei de que tinha imaginado e criado um diálogo com a minha psicóloga. Sendo que eu não tinha visto ela ainda naquela semana.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Sonhando com o Oceano
Short StoryComo um velho amigo querido que fazia há muito tempo que não via. Ou como o tocar dos lábios de alguém que fazia o seu coração e corpo formigar, esquentarem instantaneamente. Um aperto de mãos. Ou simplesmente, um olhar cheio de curiosidades e cumpl...