Depois da primeira sessão com a minha psiquiatra abordando a respeito do Kyo, a saudade adormecida por ele começou a despertar fortemente dentro de mim. Um fator que ela me questionou e confidenciei para ela, sendo o motivo para que ela dissesse que aquela conversa poderia ser continuada no dia seguinte.
Eu não compreendi o motivo dela ter decidido encerrar, visto que falar sobre ele com alguém estava sendo uma experiência nova para mim.
Quando eu o conheci, e pela forma que eu o conheci, despertou coisas dentro de mim que nem eu mesma sabia que eu poderia sentir, igualmente como as demais pessoas sentiam e falavam a respeito.
Aos poucos, do mesmo modo que me aproximava e conhecia mais a respeito do Kyo, comecei a entender cada linha das músicas românticas que ouvia e achava tediosa e dramáticas demais.
Aos poucos eu estava compreendendo que poderia me sentir ansiosa simplesmente pela demora de uma mensagem vindo dele, algo que eu nunca me importei antes de o conhecer.
Depois da troca da conversa amigável que tivemos, e dele me emprestando o seu casaco para enxugar, secar as minhas lágrimas, reuni coragem e pedi o número do celular dele. Por um segundo antes que ele esboçasse uma reação ao me ouvir pedindo o seu número, eu senti o coração quase saindo pela boca. Algo que não durou por muito tempo, quando ele simplesmente estendeu sua mão pedindo o meu celular para anotar o seu número nos meus contatos.
Quando ele fez isso, minha mente questionou se por acaso ele não estaria me dando um número falso e não o dele, mas antes que eu pudesse pensar mais alguma coisa, ele simplesmente apertou na área de ligação após digitar o número no meu celular, e em poucos segundos ouvimos um som abafado surgindo entre nós. Ele devolveu o meu celular após encerrar a ligação e pegou o celular dele. "Eu espero que você não me ignore muito!"
Ele disse de modo indicando que eu poderia não o responder ou atender, sendo que fui eu que pedi o número dele, então era uma possibilidade irreal de se acontecer. Sendo que ele não sabia disso. E, muito menos eu sabia.
Não demorou muito ele disse que precisava retornar ao trabalho dele, o que me pegou de surpresa ao perceber que ele estava caminhando para retornar ao trabalho dele que ficava perto dali, e simplesmente ao me ver chorando sentada naquele banco do ponto de ônibus decidiu interromper o seu trajeto por alguém que ele nem conhecia.
"Eu realmente não sei o que aconteceu com você, mas eu espero que você não guarde tudo aí dentro" ele disse se levantando e apontando em direção ao meu coração "Às vezes conversar com alguém ajuda um pouquinho... Então, se você quiser... pode mandar mensagem a vontade, você já tem o meu número!" ele disse indicando para o celular que estava em minhas mãos.
"Eu não quero ser um incômodo para você!" eu acabei dizendo involuntariamente, o que me pegou de surpresa por dizer algo que eu sempre senti com relação a várias coisas, mas com ele eu consegui expor de modo fácil e espontâneo.
Ao me ouvir dizendo aquilo, Kyo sorriu para mim, um sorriso adorável que desejei ver mais e mais vezes em seu rosto. "Eu espero que no futuro eu não seja um incômodo para você!" mas ao dizer isso o seu sorriso parecia um pouco triste, um vislumbre do que eu vi há algum tempo atrás, o que incentivou o fato de eu estar agora internada nesse hospital.
Um pensamento que não permaneceu por muito tempo em minha mente, visto que a médica solicitou que eu fosse cuidar das hortas e quando indicaram que eu poderia ir até o jardim para mexer neles, os meus pensamentos se inundaram em fazer um bom trabalho. O que não foi um pensamento estressante por conta de que eu estava internamente amando estar fazendo aquilo.
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Sonhando com o Oceano
Short StoryComo um velho amigo querido que fazia há muito tempo que não via. Ou como o tocar dos lábios de alguém que fazia o seu coração e corpo formigar, esquentarem instantaneamente. Um aperto de mãos. Ou simplesmente, um olhar cheio de curiosidades e cumpl...