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A minha psiquiatra decidiu que era hora de encerrarmos enfim aquela sessão e que eu deveria dedicar aquele dia para pensar sobre o motivo de eu nunca ter apresentado ou mencionado sobre o Kyo aos meus pais. Era uma "tarefa" que ela gostaria que eu tivesse a minha atenção, pelo menos por aquele dia.

Ela disse que eu deveria trazer em minhas lembranças o grau de importância que eu tinha a respeito dele, nas minhas conversas com ele. Um pequeno exercício mental para que na próxima sessão eu pudesse trazê-la respondida ou não. Algo que ela indicou de antemão que estava tudo bem caso acontecesse.

Assim que eu saí do seu consultório, não fui cuidar da horta como das outras vezes que saía de seu consultório. Dessa vez eu fui recomendada e guiada para ir para a minha ala, onde eu dividia o espaço com mais duas mulheres, ambas não estavam dentro da ala. Provavelmente estava no jardim, ou cuidando das hortas.

Ao me sentar na minha cama que era confortável, olhei em volta da ala observando como sempre fazia ao acordar, que ele não se parecia em nada com uma ala hospitalar. E, se não fosse pelas roupas padronizadas que os pacientes usavam, como os enfermeiros e médicos também usavam; cada um de acordo com o "status" inserido aqui dentro; às vezes considerava aquele lugar mais como sendo um retiro do que um ambiente de tratamento.

Porém naquele momento, em que minha mente me fazia lembrar que eu nunca tinha mencionado sobre o Kyo aos meus pais, fez com que eu me sentisse angustiada e horrível ao mesmo tempo.

Deitando lentamente na cama eu pensava o quanto Kyo era importante para mim. Então era algo ridículo de minha parte nunca ter dito a respeito dele para os meus pais. Como eu pude ter feito isso?! Ainda mais por dois anos!

Minha mente me deixou angustiada por imaginar o que o Kyo pensava sobre isso. Ele não se importava? Para ele era algo bobo, banal? Mas antes que minha mente surgisse com mais questões, me dei conta também que o Kyo nunca mencionava sobre os pais dele comigo. Aliás, isso ia mais além do que isso, pois eu percebi que ele nunca chegou a mencionar sobre eles, apenas se ele tivesse dito e eu não dei importância não não prestando atenção ou ouvindo.

O que era uma possibilidade ridícula e sendo descartada em seguida, porque eu me lembrava com detalhes de sua longa reclamação do seu vizinho barulhento, do seu chefe rabugento e autoritário que muitas vezes empurrava descaradamente demandas de outras pessoas no colo dele.

Kyo apenas permanecia naquele trabalho porque mesmo tentando continuamente ir em outras entrevistas de emprego, nunca era chamado de volta. O que fazia continuar por lá, com medo que ninguém o contratasse e acabasse ficando desempregado. Pois como da mesma forma que eu não tinha nenhuma experiência no ramo de traduções, o Kyo também não tinha, sendo contratado logo de cara pela empresa no qual ele permanece até hoje.

Então como sendo o único local no qual ele trabalhou, não era algo muito positivo e que lhe ajudasse para avançar nas próximas etapas das vagas de emprego.

Sendo um dos motivos que depois de alguns meses namorando com ele, fez com que eu o convidasse a morar comigo, assim ele poderia ter algo há menos que o deixasse frustrado, se livrando de conviver com o vizinho barulhento que fazia festas todas as noites e madrugadas, o que dificultava para ele de ter uma boa noite de sono, visto que diferente do meu prédio, o dele não tinha regras como o meu tinha.

De início ele não quis, mas depois de certo tempo acabou aceitando pelo menos em dormir no meu apartamento um dia sim e outro não. Alternando os dias volta e meia, o que me deixava feliz de tê-lo ao meu lado da cama quando ficava para dormir.

Aos poucos ele foi deixando algumas peças de roupas, trazendo alguns objetos que ele dizia que combinavam mais em meu apartamento. E, em um final de semana aleatório ele sussurrou baixinho se por acaso o convite dele morar comigo ainda seria válido. O que me fez sorrir pelo jeito tímido dele ter cogitado que eu poderia ter me arrependido de ter sugerido aquilo.

"Vamos lá agora!" eu disse com um sorriso no rosto indicando que deveríamos ir ao seu apartamento pegar todas as suas coisas e trazer para o meu apartamento, antes que ele acabasse se arrependendo de aceitar o meu convite de morarmos juntos.

Minhas memórias cortando para o momento em que empacotamos só o necessário e o restante ele iria vender, já que o meu apartamento era todo mobiliado com tudo novo, diferente das suas coisas que não eram tão novas assim, mas que poderiam ser vendidas por um bom preço.

Ao me recordar disso, me lembrei que ele nunca mencionou sobre ter entregado o seu apartamento para o dono, visto que ele morava de aluguel. E, eu nunca mencionei com ele o questionando sobre isso.

Será que daquela vez em que ele foi embora do nosso apartamento; levando juntamente as coisas que tinha decorado e que eram do seu antigo apartamento; ele tinha voltado para o seu antigo apartamento?! Por isso ele não mencionava o endereço de onde estava ficando?! Questionamentos que começaram a fazer a minha cabeça latejar de dor.

Aquilo tudo estava começando a me perturbar ainda mais, o que fez com que eu desejasse muito falar com Kyo naquele momento para o questioná-lo. Mas no fundo do meu coração talvez eu soubesse que no final não iria perguntar sobre nada disso, pois quando o visse, essas incertezas iriam evaporar instantaneamente da minha mente.

No final, eu não queria respostas, eu só não queria pensar mais sobre isso.

Um sentimento que incentivou com que eu acabasse pegando no sono rapidamente, adormecendo e silenciando todas essas questões. Pelo menos por algumas horas.

Sonhando com o OceanoOnde histórias criam vida. Descubra agora