Sonhando com o Oceano

15.

Eu não fazia ideia em que momento eu acabei pegando no sono no dia anterior. Mas assim que a minha psiquiatra indicou que deveríamos continuar no próximo dia a consulta, ela disse que seria bom para mim cuidar das mini hortas e do jardim, do mesmo modo que eu tinha feito nos dias anteriores.

Algo que foi ótimo para conseguir distrair os pensamentos persistentes que volta e meia me rondavam.

Eu ainda conseguia me lembrar das lágrimas involuntárias que surgiram durante a minha consulta com a minha psiquiatra. Dela pegando alguns lenços para que eu secasse e limpasse o meu rosto e o meu nariz, quando na verdade, eu só queria que o Kyo estivesse me entregando o seu casaco como na primeira vez em que nos conhecemos, para que eu secasse o meu rosto que estavam do mesmo modo como daquela vez.

Mas dessa vez Kyo não estava aqui para fazer isso.

O que perturbava ainda mais os meus sentimentos e a minha mente ao pensar a respeito disso.

A minha psiquiatra em nenhum momento me questionou sobre o motivo de eu estar chorando, contudo, ao olhar para ela eu via o quanto o seu rosto estava inundado de compreensão enquanto ficava me olhando de volta. Então eu acredito que ela soubesse bem a razão de minhas lágrimas, mas estava apenas esperando que eu mesma contasse e trouxesse o assunto à tona em voz alta.

Uma coisa que eu não estava pronta para fazer naquele momento.

E, deve ser por isso que ela recomendou que eu fosse cuidar como uma tarefa, da mini horta e do jardim como antes. O que me ajudou a dormir rapidamente, depois de jantar.

O que eu não esperava era que eu acabasse sonhando com a lembrança do dia que eu conheci o Kyo.

Após finalmente entregar o seu casaco depois de ter secado o meu rosto que estava um desastre por ter acabado chorando involuntariamente. Me desculpei e o agradeci por sua gentileza em ter vindo falar comigo, mesmo não me conhecendo.

Ao ouvir aquilo, o Kyo deu um sorriso amigável e caloroso em minha direção, o que fez com que no mesmo instante o meu coração acabasse acelerando rapidamente. Com toda certeza foi naquele momento que eu acabei me apaixonando por ele.

Porém, antes que eu pudesse processar todo aquele sentimento novo que eu estava sentindo, o Kyo olhou rapidamente para o relógio em seu pulso fazendo uma careta ao ver que horas já eram. "Você está melhor?" ele me questionou querendo saber como eu estava naquele momento, e se estava um pouco melhor, mesmo que fosse nítido em ver que ele precisava voltar para o seu trabalho.

Mesmo ocupado e precisando voltar para as suas demandas o seu lado gentil não o permitia ir embora sem ter certeza que essa pessoa desconhecida, vulgo eu, estava melhor, e que não iria voltar a chorar de repente após sua partida.

"Eu estou bem melhor, muito obrigada! De verdade, muito obrigada mesmo, Kyo!" eu afirmei dizendo que estava bem, dando um leve sorriso em sua direção e o agradecendo por tanta gentileza e empatia direcionada para mim.

Kyo se sentiu aliviado em ouvir as minhas palavras, então ele começou a acenar se despedindo de mim e dizendo que estava torcendo para que as coisas melhorassem para mim. E, principalmente, que eu não desistisse em continuar tentando, independente do que fosse direcionado as minhas tentativas.

Naquele momento, inúmeras coisas surgiram na minha mente, mas eu apenas sorri acenando de volta para ele, mentalizando suas palavras com um mantra para mim.

Aquela foi a primeira e a última vez que eu vi e conversei de verdade com o Kyo.

Lágrimas involuntárias surgiram em meu rosto enquanto me lembrava disso ainda deitada na minha cama, da ala, quarto.

Olhando a enfermeira entrando no cômodo, ela olhou para mim em meio as lágrimas me questionando o que tinha acontecido, e se estava tudo bem. E, pela primeira vez em meio às lágrimas, eu acabei sorrindo ao dizer "Vai ficar tudo bem!"

Eu enfim despertei de que eu estava imaginando e incluindo o Kyo na minha vida, depois que nos conhecemos pela primeira vez no ponto de ônibus.

E, mesmo que fosse doloroso perceber isso, eu sabia que era a coisa certa de se estar fazendo.

Enfim entendendo as palavras que o Kyo da minha imaginação disse para mim, de que era eu que precisava terminar com ele. O meu subconsciente me alertando de forma indireta que somente eu poderia encerrar essa história que eu mesma criei e vivi por tanto tempo como sendo uma verdade.