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A fazenda estava mergulhada em um silêncio incomum. O sol começava a despontar no horizonte, tingindo o céu com tons alaranjados, enquanto Sakusa lavava o rosto na pia velha de seu quarto. A água gelada escorria pelos seus dedos, e ele encarava o espelho rachado à sua frente. Seus olhos, fundos e cansados, refletiam mais do que apenas as marcas do tempo: carregavam cicatrizes profundas, lembranças que teimavam em voltar.
Ele fechou os olhos por um momento, tentando afastar os pensamentos, mas foi em vão. As memórias do passado emergiam como uma correnteza.
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A cela estava tomada por um silêncio tenso, quebrado apenas pela respiração pesada de Yamaguchi, que dormia encolhido ao lado de Sakusa. Pela primeira vez em muito tempo, Tadashi parecia estar em paz. Seus braços magros estavam firmemente entrelaçados ao redor do corpo de Omi, buscando proteção no único lugar onde ele podia sentir-se, de alguma forma, seguro.
Sakusa, no entanto, permanecia acordado. Seus olhos escuros fixavam-se no homem caído no canto da cela. O sujeito, com o rosto inchado e coberto de hematomas, respirava com dificuldade. O som de sua dor era um eco sutil que reverberava pelas paredes úmidas da prisão.
Depois de um longo momento de silêncio, o homem abriu a boca, sua voz rouca e fraca:
– O que... ele é pra você? – As palavras saíram com esforço, interrompidas por pequenos gemidos de dor.
Sakusa não respondeu. Não porque não queria, mas porque não sabia. Ele desviou o olhar para Yamaguchi, que ainda dormia profundamente, a respiração pesada e lenta de quem, pela primeira vez, conseguia descansar sem medo.
Para Sakusa, Yamaguchi era um enigma. Um garoto frágil, inútil aos seus olhos, que parecia não ter a menor capacidade ou vontade de lutar pela própria vida. Tadashi era desajeitado, um estorvo que demandava mais proteção do que deveria. E, ao mesmo tempo, era a única coisa que ainda fazia Omi sentir algo humano.
Ele apertou os olhos, tentando organizar os pensamentos. Para ele, Yamaguchi era apenas isso: um fardo. Mas, por algum motivo inexplicável, era um fardo necessário. Algo que o mantinha preso à própria humanidade, como se aquele garoto fosse a única âncora que impedia Sakusa de se perder por completo no abismo que era aquela prisão.
Ele não respondeu ao homem, que o observava com uma expressão vaga, como se tentasse interpretar o silêncio. Em vez disso, Omi voltou a olhar para Yamaguchi. O garoto estava encolhido contra ele, com o rosto escondido em seu peito.
Omi sentiu o peso do cansaço em seus ombros. Seus braços ainda tremiam do esforço que fizera mais cedo, e sua cabeça rodava como se estivesse prestes a desmaiar. Mas ele continuava ali, imóvel, ouvindo a respiração do garoto ao seu lado.
Era uma respiração profunda, quase tranquila, e, por um instante, Sakusa fechou os olhos. Ele sabia que aquele momento de calmaria era temporário. Amanhã, tudo recomeçaria: as torturas, os gritos, a constante sensação de estar à beira do fim. Mas, naquela noite, ele podia se permitir ouvir o som da respiração de Yamaguchi e fingir, mesmo que por um instante, que ainda havia algo de bom no mundo.