CAPÍTULO 29

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29

Era como estar preso em um limbo. Eu flutuava, sem peso, sem rumo, como se estivesse à deriva em um vazio infinito. Não havia som, luz ou forma. Apenas uma imensa escuridão me envolvia, sufocante e interminável.

Eu não conseguia sentir nada. Nem dor, nem calor, nem frio. Meu corpo parecia ter desaparecido, deixando para trás apenas minha consciência, um fio tênue de pensamento preso nessa vastidão.

Será que eu morri? A pergunta ecoava na minha mente como um sussurro distante. É assim que tudo termina? Ficar vagando pela eternidade nesse espaço vazio, sem destino, sem propósito?

A ideia me apavorava, mas ao mesmo tempo, parecia inevitável. Eu tentava me agarrar a algo – qualquer memória, qualquer sensação, mas era como tentar segurar fumaça. Tudo escapava pelos meus dedos imaginários, me deixando sozinho com a escuridão.

A melodia que cantei para Newt ecoa na minha mente, suave e distante, como uma brisa carregando lembranças esquecidas. Sua calma invade o vazio, e por um momento, sinto como se estivesse flutuando mais perto de algo familiar.

De repente, surge diante de mim um fragmento de memória, como um filme antigo projetado no escuro. É estranho, quase surreal, como se eu estivesse acessando documentos enterrados dentro da minha própria cabeça.

Vejo minha mãe. Minha mamãe. Ela está cantando para mim, a mesma música que cantei para Newt. Sua voz é doce, mas há um peso escondido nela, como se cada palavra estivesse tingida de tristeza.

Estou apagando uma vela sobre um pequeno cupcake. Meu aniversário de seis anos. A luz da vela dança no meu rosto enquanto eu sopro com toda a força de um menino animado. Estamos sentados à mesa.

Meu pai está lá também, mas seu rosto parece cansado, os ombros pesados, como se carregasse o peso de um mundo que eu ainda não entendia. Minha mãe, embora sorrindo, também parece desconfortável, os olhos perdidos em algo além de mim.

— Feliz aniversário, querido — ela diz, sua voz carregada com uma ternura que quase mascara sua inquietação.

O fragmento da memória tremula como uma chama prestes a apagar. Tento segurá-lo, entendê-lo, mas ele já começa a se desfazer, voltando para o vazio de onde veio.

E, de repente, a memória desaparece como fumaça ao vento. Estou novamente na escuridão, flutuando sem rumo, sem peso, sem propósito. O vazio é absoluto.

Até que ouço.

"Ethan..."

Uma voz me chama, suave, mas carregada de uma dor que me atinge como uma lâmina. Viro-me instintivamente na direção do som e vejo... eu mesmo. Ou quase. Mais velho, talvez alguns anos à frente, 10 anos?..Mas não estou sozinho.

Thomas está lá. Ele está diante de mim, os olhos marejados, quase transbordando, e sua boca está coberta de sangue, os lábios partidos. Há um silêncio sufocante entre nós, como se ambos soubéssemos que algo terrível aconteceu, mas nenhum dos dois tivesse forças para falar.

A dor em seu olhar me atinge como um soco no estômago. Sinto que brigamos, talvez algo tão intenso que nos quebrou por dentro. Mas agora, nesse instante, não importa mais.

Sem dizer uma palavra, nós nos movemos um em direção ao outro e nos abraçamos. É um abraço desesperado, o tipo de abraço que parece querer juntar os pedaços que se quebraram.

E ali, no meio da escuridão, ambos choramos. Choramos como se estivéssemos lavando a dor, o arrependimento, o peso de algo que não consigo lembrar. As lágrimas caem sem controle, se misturam, se perdem, mas não importa. Por um breve instante, a escuridão ao redor parece menos sufocante, e sinto que, de alguma forma, estamos conectados de novo.

Maze Runner: Correr Ou Morrer - O último.Onde histórias criam vida. Descubra agora