No início dos abusos, eu tentava resistir, impedir que me tocassem, que me estuprassem. Lutava. Esperneava. Me debatia. Tentava de todas as maneiras impedir que acontecesse. Mas eu sempre falhava. Tinha devaneios. Me imaginava me soltando, lutando contra. Fazendo-os pagar. Só que... Em algum momento, eu parei. Simplesmente, desisti. Desisti de manter minha dignidade. De tentar. Desisti. Eu só aceitei que era o meu destino. Aos poucos, "por que comigo?", "como posso me libertar?", "farei com que pague"... Bom, tudo sumiu. Eu aceitei o abuso.
Em alguns devaneios, o garoto que parecia Samael — Valak, o nome dele —, se tornava Samael. Ele gostava muito de fumar, sempre vestia preto e tinha o mesmo gosto por sadismo. Ele adorava me ver chorar — igual Samael gostava no início —, me batia — igual Samael me batia —, e, mais tarde, descobri que também gostava de marcas.
Um dia qualquer, ele entrou. Trazia consigo um canivete. Veio até mim. Estava caída no chão, dolorida após mais uma sessão de abuso. Agarez e Cain haviam vindo mais cedo. Cain gostava de me machucar. Agarez gostava de me humilhar. Valak parecia nutrir uma paixão por mim.
Era inevitável notar semelhanças.
Valak veio até mim. Se sentou frente a mim. Olhou para minha cicatriz. A assinatura.
— Samael — pronunciou.
Olhou para mim.
— Odeio essa marca — apontou o canivete sobre a cicatriz.
Continuei com a mesma face — já não tinha energia para expressar algo.
— Sabe o que isso significa, Ágatha? — a ponta do canivete perfurou a minha pele. Cerrei os dentes.
Vi uma linha vermelha sair do furo.
— Significa que você é uma puta — puxou o canivete. Traçou uma linha na diagonal sob minha cicatriz. Fiz um barulho que era pra ser um grunhido de dor. — uma puta deve ser tratada como uma, né?
Louco. Doente e louco, pensei. Já não tinha lágrimas pra chorar.
Ele riscou mais uma linha. Um X torto encima da cicatriz. Então, me cortou mais um pouco: entre os seios, puta; na coxa interna esquerda, cadela; na barriga, vadia; na bochecha direita, V, de Valak.
— Não divido os meus brinquedos — murmurou enquanto finalizava o V.
Depois de alguns dias, só ele me visitava.
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𝕯𝖊𝖒𝖔𝖓í𝖆𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (+18) [CONCLUÍDA]
HorrorO que você faria se acordasse de madrugada, imóvel, com um belo homem te encarando? Ágatha decidiu acreditar fielmente que isso era apenas um sonho e, eventualmente, ignorou - ou tentou ignorar - suas aparições. Mas isso se tornou impossível quando...