Cap. 1- o sonho estranho.

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Pensei que seria só uma noite normal, como as outras. Mas não foi.

Começou em uma sala totalmente branca, com vultos cinzas atrás e dos lados. Mas não se moviam, e nem eu. Tentava gritar por ajuda, mas não conseguia. E foi quando apareceu uma criatura em uma espécie de telão na parede. Ele era negro como as trevas, assustador como o próprio medo, em um corpo medonho como a morte encarnada.
Mas, mesmo assustado, não podia fugir. Estava preso, sem me mover, sem falar, sem poder correr, e sem poder gritar. Entrei em pânico. Aquela criatura demoníaca olhando com seus olhos fundos como se tivessem sido tirados e postos de volta, com seus dentes estranhamente esverdeados, e um par de chifres enrolados e pontudos que me aterrorizava. Aterrorizantemente horrível:

— Lembro de cada palavra que ele disse. — Falei à psiquiatra, sussurrando.

- “Caros humanos, seres inferiores que habitam esse planeta horrível e hostil. Quero lhes dizer que seus conflitos anteriores entre si mesmos não serão nada comparado ao que vem por aí. Vocês, que agora estão me ouvindo, começarão uma nova guerra mundial. Mas agora armas e bombas não irão segurar suas forças, vocês serão poderosos como deuses e deverão lutar entre si para descobrir quem é o verdadeiro guardião de livro escolhido, que será recompensado com um pedido. Um pedido sem regras, sem consequências, sem pegadinhas. Daqui são mandados 50 livros para que vocês, meros mortais, adquiram o poder de verdadeiros deuses. Mas ele só pode ser ativado com a força do sentimento humano. Apenas um será o vencedor. Boa sorte a todos.” E então tudo sumiu em um grande buraco negro. E eu acordei.

— Incrível história, Sarvach- sama, muito boa. — Falou a psiquiatra, com um ar esnobe.

— Mas é real, Sakoyo- san, é um sonho de alerta! Só que é o mais estranho que tive. — Disse, enquanto cerrava os punhos.

— Sarvach- sama, até acredito de ser um sonho, mas não um alerta. Eu sei que, de vez em quando, você descobre quando coisas ruins acontecem, mas isso é totalmente irreal. — Falou, cruzando e descruzando as pernas.

— Não me importo com sua opinião, e pare de me chamar de Sarvach-sama, só tenho 14 anos, não 40. — falei, enquanto olhava para o teto.

— Tudo bem, mas não se irrite, Sarv... Quero dizer, Ronni- san. Vamos recaptular tudo. Você estava em uma sala com outras pessoas?

— Acho que sim, mas não as reconhecia. — Respondi.

— Ok. E você falou de livros azuis... Por acaso achou algum?

Levantei da cadeira e me propus ao canto da sala.

Talvez seja melhor não falar da pulseira com um cristal azul que surgira está manhã em meu pulso. Ela iria surtar com isso.

— Não, não achei. — Respondi, virado para ela, enquanto escondia a misteriosa pulseira em minhas costas.

— Está aí a prova de que precisava. No sonho você recebe um livro azul. Esse sonho é só um sonho. — Ela falou, levantando da cadeira.

— Mas quase todos os meus sonhos são de coisas que vou ver futuramente, não imediatamente. E também acho que essa conversa não irá chegar a lugar nenhum. — Respondi, de cabeça baixa, bati na mesa e coloquei as mãos nos bolsos, como forma de rendição, mas com a verdadeira intenção de continuar escondendo a pulseira.

— Então está bem, continuamos na próxima semana? — Perguntou, olhando para a porta.

— Com certeza... — Me virei e sussurrei - Não!

E assim acaba mais uma sessão perdida e inútil de "tentando compreender o Ronni."

É estranho ser um nerd de 14 anos, viciado em arcade, que sonha com o futuro, como se fossem visões noturnas. Ainda por cima, considerado louco de pedra.
Agora tenho que descobrir pra quê serve esse cristal misterioso e esses sonhos malucos: primeiro, sonho com meus amigos com super poderes. Depois, um super raio saindo da minha mão. E agora um demônio falando sobre essas maluquices de guerra e tudo mais... Que loucura.
Mas antes de tudo tenho que me arrumar pra escola... Já tá tarde.

Enquanto me arrumava, tentava "ligar" o fato de um cristal surgir do nada ao livro do sonho, e também à poderes incríveis que previ usar, então me lembrei de uma coisa:

Se isso trará a guerra, será que ela já começou? E será que eu estou no meio dela?

No caminho da escola me deparo com um homem encapuzado, encostado em um muro, me olhando em espreita. De repente um grito:

Kurokyūn - uma esfera negra, como um cometa, direcionado direto ao alvo.

E uma garota caiu no chão com um impacto de uma espécie de bola de energia.
A garota estava ferida, mas ainda ficou em pé. Então estendeu um cristal verde estranho, igual ao meu.
Olhou para o homem e gritou:

Menimimushou - Escudo verde, muito grande, de estilo medieval.

Eu me escondi, e apenas observei a luta. Tentava entender o que diziam, pareciam feitiços com nomes estranhos, como magias conjuradas. Logo depois, a garota fugiu, e o homem foi para o lado oposto. Parecia ser o fim da batalha, mas com certeza, não o da guerra.
Naquele momento adiante, comecei a raciocinar o que eu havia presenciado:

Várias pessoas tem poderes, então várias pessoas tem livros. E eles estão brigando entre si. Para conseguir o pedido sem regras do demônio, eu acho. Então, várias pessoas tiveram o mesmo sonho. Só aqueles escolhidos para a guerra. Então eu fui escolhido pra guerra. Mas como? E porquê? E como vencer? E por que vou brigar? Não tenho nada de especial para pedir... Será que o cristal tem algo haver com tudo isso? Mas antes de tudo, tenho que confirmar: se minhas previsões ainda funcionam, então quer dizer que meus amigos também têm estes cristais, ou então tem livros. Tenho que investigar.

Durante a aula, não me concentrei direito, pensando nos meus sonhos, e nos meus amigos que poderiam estar em perigo.

Nota mental: Primeiro, tenho que avisar Kino, que está aqui na escola, depois encontrar Jeen, que está mais próxima e estuda também à tarde. Daí, procuro Donny, que deve estar mais calmo, já que nos meus sonhos, ele era tão forte quanto a todos nós juntos, e por último, procuro à Mai e ao Dan.

Logo que a aula acabou, corri pelos corredores e parei Kino na porta da sua sala. Puxei seu braço e lhe disse:
— Kino, só me responde essa pergunta rapidamente: você ganhou um cristal ou um livro, ou você sonhou com algum tipo de monstro em uma sala branca?

— Ronni-chan... Daijōbudesuka?

— Sim, acho. Só responde, por favor!

— Sim, para as duas perguntas. Mas por quê, Ronni- chan?

— Não dá tempo de explicar, vem comigo e eu te conto depois.

E nesse momento, como um reflexo, peguei a minha mochila e corri para o pátio. Lá, consigo ver um corpo voando largado, enquanto todos olhavam para cima... Entrei em pânico naquele momento. Argumentavam:

- É um pássaro? Um avião? O superman?

Mas era outra garota, pois Jeen não era baixinha como aquela que vimos no céu. Então corro para ver se Jeen está bem. Sua escola fica próxima a minha, então consigo chegar lá rapidamente.

Ao chegar, encontro- a estranha, com uma roupa azul meio rasgada, com um joelho no chão, como gesto de derrota. E também vejo, novamente, o homem encapuzado. Ele se encontra em frente à ela, com um machado negro erguido.
Por um momento, minha pedra brilha intensamente, e entro em um estado de desmaio, mas ainda me sinto de pé. Logo que abro meus olhos vejo minha mão com sensação de leve queimadura e um grande destroço no local onde ele estava. Ele sumiu misteriosamente. E então Jeen volta à seu estado normal com o fardamento escolar.
Olho para trás e vejo Kino perplexa, assustada e imóvel:

— Você está bem? — pergunto à Jeen.

— Sim, apenas uma leve dor.

— E você, está bem? — pergunto, agora à Kino.

Ela acena com a cabeça afirmando.

Duas já foram avisadas, faltam três.

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