Cap. 3- tons de azul

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Naquela noite, tive outro sonho.

Este era diferente, não mostrava o futuro. Me mostrava o passado.

Uma garotinha me levava até um prédio demolido. E então eu via o prédio se erguendo novamente, como se fosse em um efeito de retroceder, e em câmera lenta. Logo percebi que era o prédio onde minha mãe partiu.

Ela estava na calçada, quando o prédio caiu. Os destroços a acertaram e ela fraturou o crânio.

Mas em meu sonho, eu estava no prédio, olhando minha mãe passando na janela. Quando, de repente um raio negro que acertou a parede ao meu lado. Era o demônio, que vi no sonho da sala branca. Logo vi minha mãe morrer na minha frente. Depois percebi que meu cérebro era que estava produzindo tudo aquilo, mas que me deu uma boa ideia nesse meio de caos em guerra:

— Eu, Ronni Sarvach, prometo que, se vencer essa guerra, usarei meu pedido para ressuscitar Mary Jean Sarvach, minha mãe!

Quando acordei, sabia agora pra que serviria o cristal. E sabia também como ativá- lo. E sabia porque entrar na guerra.

Pela manhã, me senti melhor. Mais forte e saudável. Os poderes do cristal surtiram efeito.
Fiz minha rotina normal da manhã: acordar, comprar pães e leite, fazer um belo café da manhã, acordar meu pai, dar o cardápio para a empregada, fazer meus trabalhos e deveres escolares, almoçar, me arrumar pra escola e sair.
No caminho da escola, percebi que, agora, poderia transformar o cristal em livro apenas com meu pensamento. Estava ansioso para testá- lo, mas não queria encontrar outro garoto rival com poderes como eu, pelo menos não agora, principalmente porque não sabia controlá- los.

Cheguei na escola apenas com os poderes em meu pensamento, não prestava atenção no que o professor explicava. Foi então que, na aula de matemática, ele me chamou:

— Ronni, pode me responder a questão 6, por favor?

— Claro! — Disse ironicamente, e parei pra analisar a questão escrita no quadro — Acredito ser 9: 6/4 . ∆= 1 3/8, se não me engano.

— Está correto. — Disse ele, ranjendo os dentes de frustração. — Pode se sentar.

Esse é o Ronni que nunca vai mudar. Um sabichão que não precisa prestar atenção na aula. Talvez nem vir aqui.

Os alunos à minha volta me olhavam com raiva, talvez inveja. Outros, os novatos, se impressionavam. Para mim, já é costume. Não me importo mais.

Não sei se me entendem ou se nem se preocupam comigo. O importante agora é o cristal.
Gostaria de voltar à minha antiga escola... Não, sem chance. Lá, seria bem pior. Lá eu era o invejoso, mesmo que ninguém tinha inteligência, mas eram ricos e descolados.
Mas espera... É isso. Devem ter cristais por lá também. Tenho que ir lá. Irei na época de férias.

Logo que a aula terminou, corri o mais rápido que pude até a sala de Kino, pois era sexta, e eu reservei sábado para treinarmos.

Depois fomos chamar Jeen e Don. E foi quando lembrei... Não havia avisado Mai, nem Dan.

- Kino, pode ver se Mai ainda tá na escola?

- Claro, Ronni- chan!

- Ok, me encontre com ela na casa de Don.

- Certo, estou indo, Ronni- chan — Kino falou já partindo com os braços juntos ao corpo. Não consegui deixar de rir da cena. Ela ficava nervosa próxima à mim, e eu já imaginava o porquê.

Depois de sair da escola, coincidamente, avistei Dan com minha tia ao longe. Corri até os dois.

— Dan, tenho que falar com você. Vamos à casa de Don?

— Tá, espera um pouco... Mãe, posso ir com Ronni? Volto pra casa cedo. — Dan disse à minha tia. É isso aí, somos primos.

— Claro, filho. Mas não arranje encrenca.

Aah, mais isso será difícil. Se ele tiver um cristal.

No caminho, conversei com ele sobre outras coisas, e ele me falava de sua longa viagem da Índia, seu país de origem, para cá.

Ao chegarmos na casa de Don, Mai, Kino e Jeen estavam na porta. Don havia entrado para pegar seu cristal:

— Quem avisou Jeen? — pergunto.

— Depois que encontrei Mai, nós fomos chamá- la. — respondeu Kino, tímida — Pensei que esqueceria, Ronni- chan! — falou com um sorriso, mas realmente eu havia esquecido.

— Sim, voce me conhece — Levei as mãos ao meu cabelo, sorrindo — Ok, então... — Logo, me virei para Aldan e falei — Dan, escuta. Eu e as meninas ganhamos cristais, e Don também. E um dia, sonhei que você tinha um cristal desses...

— Ah, eu me lembro. O meu eu dei pra minha mãe. Ela deve ter guardado.

— Bem, esses cristais te dão poderes mágicos. E eu sei como ativá- los.

— Ah, então você descobriu... — disse Don, que havia acabado de chegar.

— Sim, descobri. Ele é ativado com o sentimento humano. Pode ser medo, alegria e raiva... — falei para Donny, articulando na última palavra, encarando- o

— Pois eu acho ótimo. — ele retrucou — também descobri ontem à noite.

Nos encaramos por um tempo, até Jeen interromper.

— Tá, e como fazemos isso?

— Basta pensar em algo que te deixe feliz, triste, zangada ou com medo. Depois haverão letras em katakana, é só pronunciá- las.

Então cada um se concentrou no seu cristal, até ficar um emaranhado de luzes azuis.

— Olha, Ronni. Todos os cristais são azuis. — Falou Dan, surpreso.

Logo todas as meninas abriram seus livros. Jeen teve dificuldade, pois, como eu, não nasceu no Japão, então não conhecia bem a língua japonesa. Don continuou com seu colar intacto. Mai olhou para todos de uma vez e disse:

— Sim, todos são azuis, mas são de azuis diferentes. — logo, abriu sua bolsa e pegou um caderno. — aqui tem todas as cores e seus derivados. — Abriu e começou a ler —
• Donny - san, seu cristal é azul escuro primitivo.
• Jeen - san, o seu é azul marinho.
• Kino - nii - chan, o seu é azul acinzentado.
• Ronni - kun, o seu é azul esverdeado.
O meu é azul claro primitivo. — disse Mai, apontando respectivamente.

— Ok, preparem- se todos, que amanhã, iremos treinar no campo atrás da escola de Jeen.

Todos concordaram e foram para casa.

Na saída, notei que Jeen e Mai estavam meio avoadas, mas Kino estava só pensando no livro, igualmente a mim.

Às vezes, penso que Kino é como eu. Como se fossemos um par perfeito... Ok, ok... O importante é a guerra. Vou dormir. Talvez eu sonhe com algo bom... Ou importante.

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