Eu acho que esqueci de me apresentar, eu me chamo Lorean, tenho 24 anos, acabei de perder meu pai e essa é a história triste de um amor impossível. Tem algumas partes felizes, mas a vida me fez gostar mais da solidão e dos episódios dolorosos. Gosto de narrar isso pois acho que dê para passar mais emoção ao papel. Sei também que nós humanos, adoramos sofrer, sentir dor e tudo que englobe esse conjunto. Geralmente é apenas no contexto emocional, porém alguns, como eu, também adoram a dor física. Se você é um alien, vale anotar isto no seu caderno de curiosidades.
Não leia esta história caso você tenha tendências suicidas, porém eu sei que ao ler isso você não desistirá. Eu não acho bonita, porém amo-a como degustadores amam o seu vinho. Todos os detalhes. Sou reflexo de poesia, minha carne branca é obra de arte. Eu me defino assim por completa, mesmo sabendo que não sou metade do que era, e amanhã serei menor ainda.
Contraio-me para dentro, evito pessoas e contato social, nesta época em que me encontro sou um dos mais desprezíveis seres humanos. Não sinto zelo, compaixão, remoço ou arrependimento. Estampo meu sadismo na cara, sem medo do resultado. Meus olhos estão sempre atentos a todos os detalhes, um passo de nervosismo seu eu estarei prestando atenção. Acredite.
Hoje o dia acordou cinza, achei bonito. Talvez lá fora esteja garoando um pouco, o clima frio me convida a fazer o que eu quiser, mas é quarta-feira e eu trabalho, afinal, sou uma moça responsável. Hoje eu acordei bem, de bom humor, talvez o dia triste me conforte por ser igual a mim, ai eu me sinta mais leve com isso. Irei deixar o carro na garagem mesmo, eu vou andando até o trabalho. Não é longe e eu quero ver como as pessoas se comportam em público.
Eu não sou muito boa em contar o tempo, então não se importe caso atrapalhe-me com datas ou me perca com a repetição dos dias. Acho que faz uma semana que perdi meu pai, ou pode fazer duas com as mesmas chances de ter sido anteontem. Não, eu não esqueci, isso ainda está marcado aqui dentro, mas eu vou tentar guardar em uma caixa acolchoada para que nunca quebre e também não chame atenção. De mim mesma.
Ao abrir a porta percebo que minha suspeita em relação à chuva estava certa, um pingo de água vem me dar boas-vindas bem na ponta do meu nariz. Eu rio. Os carros passam em velocidade, eu respiro fundo e começo a caminhar para o meu destino. A primeira pessoa que passa é um senhor bonito, com barba e cabelo branco, acredito que seja um casaco de lã, branco com detalhes em preto. Era o que ele vestia. Eu e meu pai costumávamos imaginar a vida que as que víamos na rua tinham. Isto me deixou um pouco menos "mais ou menos bem". Porém eu refiz o ritual. Acreditei que aquele senhor era avô de um casal com idade entre 8 e 12 anos, morava em uma casa grande e jogava futebol de botão com o neto. Sua esposa já falecida, era atriz e muito bonita. Uma bela vida, não?
Passo por ruas e praças molhadas, passo por pessoas e seres humanos que habitam a terra. Nada de especial, tudo como imaginei. Chego ao prédio onde trabalho, o escritório de uma empresa de e-commerce, onde sou gerente de marketing. As pessoas são bastante sociáveis, raramente têm conflitos.
Estou em casa, jogada ao chão do quarto enquanto todo o meu braço jorra sangue, expele todo aquele líquido vermelho que me tira de mim mesma. Me sinto como se eu pudesse estar livre de uma jaula. E eu faço mais um, mais fundo, mais dor, mais sorrisos, mais e mais. E eu não paro até estar completamente saciada e fora demim. Alguns dizem que posso morrer, porém acho bem difícil. Eu realmente não entendo como vim parar aqui, tudo estava correndo bem e de repente eu surto! Eu enlouqueço e volto ao estado mais primitivo da alma. Neste exato momento eu ouço um estilhaçar de vidro. Imediatamente minha atenção se volta para a janela e eu tento me levantar para ver o que é... Ahr! Meu deus! Eu não tenho forças para ficar em pé, qualquer seja o movimento que eu tente fazer dói e eu me sinto fraca. Mas eu vejo que depois do rastro de vidro no chão do quarto tem uma pedra enrolada em um papel. Mas eu oscilo, meus olhos se fecham e eu não tenho forças para abrir, está tudo girando, eu consigo alcançar o celular e clico no botão "Emergência". Serviço de emergência, em que posso ser útil? Cadastro 11... 1180320. Urgen... Urgente. Desmaio.
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Peço perdão pela demora em postar este capítulo, vários já estavam prontos. Mas eu simplesmente não estava gostando do rumo em que a história estava tomando. A história não, a forma como eu estava contando-a.
Então me diga o que acha sobre Gubim. Devo continuar? Já chega, esse foi o fim? Feedback-me.
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Gubim
Mystery / ThrillerEu sou Lorean, Deus e todos ao mesmo tempo. Esta história não é um romance adolescente, então não espere um final feliz. A realidade é crueldade, então não se impressione. O caminho que sigo realmente é errado, pois do certo sei exatamente o final...