Gubim

Parte 2 - A beira da queda.

— Você é inútil, ó poderoso Deus. — Vejo o grande e fenomenal (estou usando da arte da ironia) Vieri xingando-me. Engraçado, o respeito já não existe mais. Não faz mais diferença, o mundo não é o mesmo e eu não me importo tanto. Mas, contudo, todavia, Vieri é um grande homem. Desde o nascimento da Senhorita Problema, ou para os menos íntimos Lorean, ele vem acompanhando-a, seguindo e cuidando dos seus passos. Eu sei de tudo no mundo, mas Vieri sabe mais que eu sobre esta garota.
— Você sente prazer em deixa-la à própria sorte. — Sim, basicamente sinto. Lorean nunca foi súdita, nem obediente. Com meros quatorze anos, Lorean infiltrou-se em uma caravana de torcedores que iriam para a Argentina assistir a um jogo. Era 2004, ano de Olimpíada. Com amizade feita com o motorista, sabendo que o ônibus só partiria pela manhã, dois dias depois, aventurou-se pela capital argentina em busca de algo. Uma garota de quatorze anos sozinha, numa cidade grande como Buenos Aires, um gorro branco na cabeça, uma camisa preta e uma mochila com alguns reais e comida, este era o cenário.
Seu pai ainda não desconfiara, passara o dia fora e a noite também. O sol já raiava quando ela chegou a capital e o pai ainda dormia na cama de Aika, sua "conjugue". Na Plaza de Mayo, Lorean girava olhando ao seu redor os caminhos por onde pode andar. Enquanto procurava tombou-se com Iam, um garoto de dezessete anos. Pois é, algo bem adolescente. Conversaram, trocaram risos, conheceram-se. Iam decidira ajudá-la em seu único dia na capital. Leva-a a lugares históricos, bonitos, curiosos. Uma aventura bem clichê adolescente.
Já na noite antes do ônibus sair Lorean atende, finalmente o telefone. Seu pai desesperando perguntando-a onde está. Lorean e seu sadismo responde descaradamente que está na casa de uma amiga, resolveu dormir. O pai, desconfiado, não acredita, mas por perceber que está bem, resolve deixa-la. Ramón sempre foi um pai liberal, permitiu tudo a sua filha, mas nunca livrando-a das consequências. É um dos motivos para Lorean ser este espírito independente. Esta viagem resultou em boas risadas para Lorean, um coração pisado ao Iam e uma confiabilidade ainda maior de Ramon.

As coisas estão complicadas com Vieri, ele não aceita que eu deixe Lorean passar pelo que quiser. Vieri vem enviando-a cartas escondidas, achando mesmo que eu não sei disto. O problema maior é que Vieri é extremamente apaixonado por Lorean, esta paixão o deixa cego, querendo protegê-la de tudo e todos. Já está na hora de algo ser feito, isto não pode prosseguir.
— O que está acontecendo contigo, Vieri?
— Como se o grande não soubesse...
Sim, realmente eu sei, Lorean agora está sozinha, desde que seu pai partiu. Isto não tem sido fácil para ela, sua agonia e discrepância em relação a isso é evidente. Vieri não suporta a ideia de deixá-la só naquele mundo. Ele quer abriga-la, ir para lá em forma humana e cuidá-la. Mas não é possível. Na verdade, possível é. Porém o suicídio é consequência.
— Vale mesmo a pena perde-la para sempre? — questiono.
— Não é essa a questão, você sabe exatamente o que acontecerá. Ela se perderá, sua alma e sua vida. Para sempre. Eu preciso fazer algo.
— Você tem total liberdade para fazer o que quiser, mas nunca esqueça das consequências.
— Eu tentarei fazer o possível daqui, eu não estou aguentando mais...
É nítido o sofrimento, parece que a consequência da morte é irrisória a ele. Eu sei que mais cedo ou mais tarde Vieri terminará indo para junto dela. Eu não posso impedi-lo, o máximo que posso fazer é aconselha-lo. Ele morrerá e perderei o meu mais fiel anjo. Depois de tantas traições que já sofri, será uma baixa sem recuperação...


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Uma paixão vale uma vida? E quando se trata de deuses?