AMOR ESQUECIDO

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Eu fui capaz de manter um sadio ceticismo sobre fantasmas, assombrações e todas as coisas sobrenaturais até meus 28 anos. Achava a maioria das alegações de tais coisas serem duvidosas na melhor das hipóteses e, na pior das hipóteses, prejudiciais. Eu estava mais inclinado ao campo da ciência clássica, por ter muitos anos antes estudado física na universidade de Edimburgo. Enquanto minha profissão nunca me levou de volta para as áreas cientificas, eu tinha mantido até esse momento uma oposição implacável à pseudociência e superstições.

Com frequência, meus amigos ficam pensando sobre a mudança que eles viram em mim na época. O que os surpreendeu é que não foi uma mudança constante e lenta do coração, mas sim uma reviravolta completa da noite para o dia; uma transformação, se quiser assim chamar. Visto de certo angulo, parecia ter ocorrido muito rápido, mas na verdade aconteceu em uma escala de tempo ligeiramente mais prolongada; duas semanas para ser preciso.

Era Fevereiro, de fato era a semana do Dia dos Namorados (N.T: O dia dos namorados, que se chama "Valentine's Day" em inglês, ocorre dia 14 de fevereiro). Nessa época eu estava passando por uma fase de isolação social. É algo que muitas vezes acontece no sombrio inverno escocês, onde me torno cada vez mais agarrado a minha solidão e passando amargura para aqueles que "se encaixam". Era, e ainda é, uma ressaca neurótica da minha adolescência, algo que me atormentou por muito tempo.

Duas semanas antes encontrei-me vagando pelas ruas de Edimburgo para limpar minha mente. Andar a pé, o quão engraçado que possa parecer, sempre foi um grande conforto para mim. Você está, em todos os sentidos, a sós com seus pensamentos, mas essa parte que almeja a companhia de outra pessoa é apaziguada por um tempo.

Edimburgo é uma cidade muito antiga e tem mantido notavelmente a forma de seu passado. As ruas de paralelepípedo serpenteiam o lado íngreme do que já foi um vulcão, rompendo-se esporadicamente em ruas estreitas que ocasionalmente se abrem para pátios isolados. Esse inúmeros pátios são geralmente ladeados por casas altas geminadas, amontoadas como se sussurrassem umas as outras segredos esquecidos do passado: a majestosidade de Edimburgo como uma cidade que frequentemente é perdida naqueles que viveram tempo suficiente para ver a beleza banal.

Como muitas vezes acontece quando tomado pela depressão, eu não tinha dormido bem. Eu tinha terminado de trabalhar por volta das cinco da tarde e quando consegui dormir um pouco, minha mente não me deixava relaxar. As seis da manhã eu tinha conseguido dormir pouco e, mesmo que fosse domingo, admiti a derrota nas minhas tentativas de ter um bom descanso e levantei-me relutante para cumprimentar o mundo.

No momento eu já tinha percebido que ainda estava cedo da manhã e o frio gelado de janeiro ardeu em minha face. Apesar de Edimburgo ser, por falta de uma expressão melhor, uma cidade turística, naquela época ainda estava relativamente deserta, mesmo para um domingo. Uma ligeira névoa subiu para fora das águas de Leith fazendo-me sentir ainda mais frio enquanto passava pelas ruas estreitas e calçadas vazias, totalmente absorto em meu caminho.

Enquanto as lojas abriam e as primeiras gotas de turistas começavam a vazar de seus hotéis para as calçadas de paralelepípedo, eu decididamente me desviei para outras ruas que geralmente são esquecidas. Minha mente distante tinha tomado conta de mim, pois quando sai de meus devaneios, eu estava de frente a um velho cemitério. Eu pensei em dar meia volta e ir para casa, mas algo deste lugar despertou uma compulsão em mim; eu tinha de explorá-lo.

Eu achei curioso que o portão, feito negras barras de metal, estavam entreabertas de manhã cedo num dia como aquele. Entrando no cemitério, eu imediatamente notei a isolação total do lugar, apreciando o som do cascalho debaixo de meus pés que quebrava o silêncio enquanto eu me direcionava lentamente por um caminho cheio de pequenas pedras brancas.

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