Capítulo 4

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Quando as portas do elevador finalmente se abriram, corri e com as mãos trémulas abri a porta de casa e deparei-me com a Mélanie, que carregava a Yasmin nos braços, tentando fazer com que ela parasse de chorar.

Leonardo: O que é que tu fizeste? - Tirei a Yasmin dos braços da Mélanie e aconcheguei-a cuidadosamente nos meus braços.

Mélanie: Nada, eu... não fiz nada, ela só...

Leonardo: Ela o quê? Olha para ela, não para de chorar! O que lhe aconteceu?

Mélanie: Eu não sei, eu estava no teu quarto, ela estava aqui e de repente começou a chorar.

Leonardo: Tu és parva? Deixas uma criança tão pequena aqui sozinha? - Chegava-me a ela cheio de ódio.

A minha mãe entrava em casa, carregada com os sacos das compras que tínhamos feito de tarde, e agarrava-me pelo braço.

Jéssica: Leonardo, o que foi?

Leonardo: Foi esta estúpida que deixou a Yasmin aqui na sala sozinha.

Jéssica: E ela está bem? O que lhe aconteceu?

Mélanie: Não foi nada de grave de certeza. - Começava a choramingar e a lamentar-se.

Leonardo: Mas tu sabes lá, idiota como és não sabias ficar com ela debaixo de olho, mas em vez disso não, andavas no meu quarto e a fazer o quê?

Jéssica: Tem calma Léo vamos levar a Yasmin ao hospital.

Mélanie: Ouvi um barulho e pareceu-me vir de lá, achei melhor ver se estava tudo bem.

Leonardo: Oh vai-te embora que já não te posso ver à minha frente.

O meu pai pode ter morrido quando a Yasmin nasceu, mas não é por isso que ela vai crescer sem um pai. Foi para isso que cá fiquei, para a ver crescer e estar presente na vida dela para tudo o que precisar. Já me sinto como se ela fosse minha filha e ao vê-la chorar sem saber o motivo afligiu-me bastante, por isso o melhor a fazer foi leva-la para o hospital para ser vista por um médico.

Leonardo: Tanto tempo, será que se passa alguma coisa?

Jéssica: Vamos rezar para que não.

Leonardo: Vou matar aquela gaja. Juro!!!

A minha mãe ficava em silêncio, abria a mala que trazia consigo e de lá tirava uma fotografia. Ficou esmorecida a olhar para ela.

Jéssica: Tenho tantas saudades dele. - Chorava.

Fiquei sem reação a olhar para a fotografia que a minha mãe tinha nas mãos, era do meu pai.

Leonardo: Eu também mãe... - As lágrimas vinham-me aos olhos.

Jéssica: Eu sei filho, quem me dera tê-lo aqui ao pé de nós. - Limpava as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto e agarrava a minha mão.

Leonardo: Mas não está e a culpa é minha. - Mudava a direção do olhar para o chão em vez de encarar a minha mãe com vergonha.

Jéssica: O quê? - Desta vez quem mudava o olhar de direção era a minha mãe olhando para mim com um ar confuso.

Leonardo: Nós naquele dia só fomos ver o apartamento porque eu insisti com o pai, se não o tivesse feito ele ainda estaria aqui, tinha conhecido a filha.

Jéssica: Isso é um absurdo, tu não tens culpa de nada, o único culpado foi aquele camionista que adormeceu ao volante.

Leonardo: Mas se não tivesse feito força com o pai para irmos ver a casa não estaríamos na autoestrada naquele momento.

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