19. you have to kiss me

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O sol da manhã de Quinta-feira batia-me na cara, como de costume.

Normalmente a sensação nem é má, - cheguei mesmo a acostumar-me após acordar todas as manhãs com a pequena janela do meu quarto aberta, mas desta vez era diferente.
Desta vez o sol batia com mais intensidade, como se os seus raios tocassem diretamente na minha pele pálida.

Lembrei-me então de que talvez o sol em Vegas fosse mais quente, mas o problema também não parecia ser esse.
Quando abri os olhos, pela terceira vez naquela semana, não reconheci o espaço à minha volta.
Havia muita mais claridade do que estava acostumada, e sentia um leve peso na minha anca.

Lembrei-me da noite anterior e virei-me para o lado, onde Luke dormia com um braço em redor da minha cintura. Sorri um pouco ao ver o seu rosto calmo. Parecia alguns anos mais novo assim, a dormir.

Quando me sentiu a mexer, os seus olhos abriram lentamente. Tinha uma expressão um pouco confusa mas logo a substituiu por um sorriso sonolento quando me viu a olhar para ele.

- Bom dia, - a voz saiu-lhe rouca e cansada, e soava incrivelmente atraente nele. Os seus olhos ainda estavam parcialmente fechados devido à claridade do pequeno parque onde adormecemos na noite anterior, e o seu cabelo ligeiramente despenteado.

- Ficas atraente quando acordas, - comentei com uma pequena gargalhada.

- Eu sou sempre atraente, - ripostou.

Fiz uma tosse fingida, murmurando um "sim, claro" pelo meio, num modo de ironia, e soltei uma gargalhada.

O seu sorriso aberto e simpático desapareceu dando lugar a umas sobrancelhas arqueadas e um sorriso lateral.

- Estás a duvidar? - Perguntou, ainda com a sobrancelha esquerda elevada.

- Sim.

- De certeza que queres ir por ?

Fiz um pequeno aceno com a cabeça, do qual me arrependi segundos depois.

- Uhh, acho que te vais arrepender de dizer isso, - exclamou mesmo antes de se sentar e me começar a fazer cócegas.

Provavelmente isto não teria mal nenhum, se não fosse o facto de eu odiar de morte que me façam cócegas.

- Luke! - Gritei entre gargalhadas, sacudindo o meu corpo de modo a tentar soltar-me. O problema era que ele tinha duas vezes mais força que eu, por isso era inútil. - P-Pára... por favor!

Algumas pessoas que já se encontravam no parque àquela hora, olhavam para nós. Vi alguns sorrisos de divertimento, mas também muitos olhares de reprovação, juntamente com comentários como "a sociedade está perdida" ou "os jovens de hoje não sabem as figurinhas que fazem".

Comentários que, por sinal, ignorei.

- Bem, podemos fazer um acordo, - Luke propôs, com um encolher de ombros, mas sem nunca parar de me fazer cócegas.

- S-Sim, como q... Como quiseres, - falava por entre risos.

Foi então que ele parou com as cócegas por um momento, olhando-me diretamente nos olhos.

- Então, eu páro com as cócegas, - falou, fazendo-me murmurar um "yes". - Mas, numa condição.

Pensei por um momento que tipo de condição iria impor Luke. Lembrei-me de montes de coisas e achei que nada poderia ser tão mau como cócegas, por isso limitei-me a acenar, apenas com algum receio.

- O que quiseres, - respondi.

- Hum, o que eu quiser? - Vi um sorriso atrevido aparecer-lhe no canto dos seus lábios.

- Luke, nem penses nisso! - Dei uma leve gargalhada quando percebi no que ele estava a pensar.

- Não sabes no que é que eu estava a pensar, - deitou-me a língua de fora.

- Oh, acredita, eu sei, - repliquei.

- Bem, eu ia dizer que tinhas de te atirar àquele lago de roupa, mas visto que pode ser o que eu quiser...

- Não abuses, Hemmings.

- Tu vais ter de...

Um clima de suspanse invadiu a zona onde nos encontrávamos, e Luke continuou sem dizer nada durante alguns segundos.

- Fala de uma vez, Roberto, - insisti.

Isto fê-lo olhar para mim diretamente, falando depois lentamente, de modo muito claro.

- Beijar-me.

Olhei para ele à espera de um "apanhei-te!" ou um "estava a brincar, Rachel", mas nada aconteceu. Era apenas o seu olhar no meu. À espera de uma resposta.
Com todo o gosto, - pensei.

- Nunca, - respondi, rindo.

- Tens a certeza da tua resposta? - Acenei afirmativamente, o que pareceu não lhe agradar.

- Ok, não me deixas escolha então.

Quando ele se voltou a levantar, já preparado para me fazer cócegas, gritei, surpreendendo-me a mim mesma.

- Não, espera! - Fiz uma pequena pausa antes de voltar a falar. -Tudo bem, eu faço isso.

- A sério? - Parecia tão surpreendido com a minha resposta, - que de facto lhe parece ter agradado, - que acabou por se afastar, tal como eu queria.

- Sim, a sério.

Fui me aproximando dele aos poucos e poucos. O seu olhar continuava desconfiado por isso fechei os olhos enquanto me continuava a aproximar, para tornar tudo mais credível.
Estávamos muito perto. Quando Luke já tinha fechado os olhos, apenas a meros milímetros de mim, pus-lhe a mão na cara. Mas não de uma maneira romântica. Eu basicamente espetei com a mão na boca dele e comecei a rir que nem uma parva.

Luke abriu os olhos e fitou-me com um olhar de morte que eu nunca tinha visto nele.

- Esta é a parte em que é melhor eu começar a correr? - Perguntei entre gargalhadas.

- Sim, é.

Desatei a correr o mais rápido que consegui para fugir do Luke, enquanto ele corria atrás de mim às gargalhadas. As pessoas ficavam a olhar para nós quando passávamos devido ao seu riso e aos guinchos que eu soltava, mas pouco me importava isso.
Continuava a correr o mais rápido que conseguia, mas óbviamente o Luke conseguiu apanhar-me e encurralar-me entre ele e o lago.

- Luke, - falava entre o meu riso, - por favor não me faças nada.

Cada vez que Luke se ia aproximando de mim, eu dava um passo atrás. Já nem estava a medir o quanto estava a andar.

- Luke, - adverti de novo. - Ouve, e..

E não consegui dizer mais nada antes de cair no lago, completamente vestida e sem estar minimamente à espera. Subi à superfície assim que consegui e reparei no olhar preocupado de Luke, que logo depois se transformou num riso incontrolável, - e , vamos admitir, adorável.

- Oh meu Deus, tu acabaste de cair na água? - Disse ele quase imperceptível, devido às gargalhadas que soltava - Oh pá, pensei que isso só acontecia nos filmes.

- Ugh. Podias ajudar pelo menos, Roberto. Parte disto é culpa tua.

- Minha? - Ele disse, ainda rindo. - Tu é que caíste no lago assim do nada. Parecias mesmo aquelas cegonhas dos filmes que se atiram para os lagos oh pá! 

Lancei-lhe um olhar fulminante que o fez murmurar um "ok pronto" e ir ajudar-me.

Foi-se aproximando para me ajudar a sair, e quando estava suficientemente perto, estendeu-me uma mão que agarrei, aproveitando para o puxar comigo.

Agora era eu que ria incontrolavelmente da figura completamente molhada que, pela segunda vez naquele dia, me lançava um olhar de morte.

- Odeio-te, Adams. - Murmurou enquanto sacudia o cabelo loiro.

- Também te adoro, Hemmings.

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