Capítulo I

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Outono. Não sei por que, mas sempre foi a minha estação favorita. Sem essa de verão porque todo mundo fica seminu, ou inverno porque as roupas são mais estilosas. Não que eu seja uma pessoa do contra, inclusive, tenho meus motivos. Prefiro noites do que dias. Olhar para o céu e admirar as estrelas é um dos meus momentos mais íntimos comigo mesma e, no outono, as noites são gradativamente mais longas que os dias. Ponto para o outono! Ele também é considerado um período de transição entre as estações mais famosas e antagônicas. Eu adoro mudanças! Ponto para o outono! Não posso esquecer-me da beleza inspiradora que o outono traz com ele para a cidade de Minnesota; essa melancolia das folhas caindo que mais parecem sentimentos ruins desprendendo-se das árvores de uma forma artística. Está vendo? Essa estação consegue ativar meu lado científico e poético ao mesmo tempo! Puta merda, como eu amo o outono!

— Lauren, eu sei que você está acordada. O café está na mesa. Levanta! — Ouço a voz de Ally após três leves batidas na porta.

— Já estou indo. — Respondo antes de dar uma última olhada na paisagem e ir de encontro a ela, no corredor.

Allyson Brooke é minha amiga desde a graduação e, agora, divide um apartamento comigo desde que começamos nosso Doutorado, na Universidade de Minneapolis.

— Bom dia, Allycat! Como sabia que eu já estava acordada? — pergunto, servindo-me uma xícara de café.

— É outono, Lauren! — revira os olhos antes de me dar um sorriso afetuoso.

— Uau! Eu sou tão previsível assim? — finjo estar magoada.

— Acredite, você não é nem um pouco previsível, mas é outono! O-U-T-O-N-O! — gesticula as mãos como se o que acabara de dizer fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Senti uma pontada de alegria, o que não era normal considerando o mau humor matinal como uma grande característica minha (segundo Ally), por perceber o quão bem ela me conhecia. E, inesperadamente, abracei-a forte.

— Ok. Acho que alguém está se sentindo mal hoje. — disse brincalhona ao mesmo tempo em que correspondia na mesma intensidade. — Só vou ter outro desses no meu aniversário, né? Aliás, nem se dê ao trabalho de responder. Deixe-me aproveitar! — e continuou me abraçando.

— Ally, já chega! — tentei me soltar.

— Você sabia que um abraço de mais de 20 segundos libera oxitocina no corpo humano? — perguntou, ainda me mantendo naquele abraço.

— O hormônio do amor? Olha, não sei se você se lembra, mas eu também sou amante da biologia. — dou uma gargalhada enquanto, finalmente, me desvencilho de seu contato.

— É sério. Essa substância liberada nos traz uma série de benefícios tanto para a saúde física quanto a mental, fazendo com que nos ajude a relaxar e controlar nossos medos ou ansie...

— Ally... — repreendo-a.

— Eu sei, estou divagando, mas é que esse dia começou tão estranho. — ela me olha cuidadosamente. — Eu já disse que seu visual não combina com o que você faz? Você usa jaquetas, ama preto e ouve The Script. Céus!

— Eu deveria colocar dreads, me vestir como hippie, usar meus óculos sempre e ouvir Bob Marley enquanto fumo um baseado?

— Só está faltando colocar os dreads e usar os óculos sempre, porque o resto você faz às vezes. Se bem que, se você usasse sempre os óculos, as pessoas não poderiam admirar seus olhos cor de erva.

— Certo. Chega de cafeína por hoje. Vamos logo antes que a gente se atrase.

Talvez por sermos tão diferentes é que dávamos tão certo nesse lance de morarmos juntas. Ally era muito amorosa, eu era mais reclusa. Ela era muito risonha, eu mais séria. E, apesar de ser tão fã da ciência quanto eu, ainda acreditava incorrigivelmente no amor. Ela era dona de um coração incrivelmente puro e bondoso. Não que eu fosse uma pessoa má (espero), mas não colocava muita intensidade em tudo que sentia.

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