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Alice olha Joseph de longe e caminha até a mesa onde ele está debruçado. Aqueles tem sido momentos realmente difíceis. A lembrança do amigo Kevin a atingiu como um soco no estômago, trazendo de volta lembranças que ela se esforçava muito para esquecer. Felizmente o destino a havia colocado de volta no caminho de Joseph, embora o próprio conceito de "destino" seja algo que ela não acredita de verdade. Se parar pra pensar, de alguma forma a gente sempre dá uma mão para o destino. Não foi por acaso que os dois se encontraram naquela palestra.

Ela se aproxima e põe a mão em seu ombro, ele toma um susto e olha para trás.

- Nossa, Alice, Que susto! - diz ele relaxando em seguida.

- Vamos sair daqui, Joseph. Vamos tomar um café, ou algo mais forte. Neste momento não podemos fazer nada – diz ela dando um tapa de leve nas costas dele.

- Não podemos sair agora, estas pessoas daqui precisam de nossa liderança. Vamos nos reunir agora. Convoque todos, por favor.

- Agora?

- Neste exato momento. Não temos tempo a perder – diz ele se levantando.

**********

A noite cai e uma chuva fina ajuda a aumentar a sensação de frio. Joseph abraça Alice, a envolvendo com seus braços o máximo que pode para que ela não sinta frio. As luzes coloridas das viaturas iluminam as paredes das casas nas vizinhanças e refletem nos rostos da multidão que se aglomera diante da cena do menino e do telescópio. Alguém havia colocado um grande lençol branco sobre os dois, o que tornava tudo ligeiramente mais leve de se ver. Os peritos analisam e fotografam tudo fora e dentro da casa. A mãe de Kevin chega praticamente no mesmo instante em que os policiais se posicionam para retirar o menino. Ela corre e se atira sobre o corpo, chorando desesperadamente. Joseph puxa Alice para longe para que ela não veja mais aquilo, infelizmente ela consegue ouvir aquele pranto de dor materno e não consegue sair do lugar. O amigo então a carrega no colo e a leva embora chorando.

- Porque vocês fizeram isso? Porque usaram a minha casa sem avisar? Olha agora o que aconteceu!! - diz a mãe de Joseph com lágrimas nos olhos. - Nada disso teria acontecido se vocês não tivessem entrado lá!

- Mas a gente não sabia que ele ia morrer, tia! A gente amava ele! - responde Alice entre soluços.

A mãe de Joseph não consegue segurar o choro. Se ajoelha no chão e abraça os dois.

- Eu sei, meu anjo. Me perdoe. Me perdoem vocês dois. Eu também amava ele. Era um menino tão jovem, tão bonzinho. Me desculpem. Isso tudo mexe muito comigo também. Joseph, leve sua amiga pra casa. A mãe dela deve estar preocupada. Mas antes vamos comer alguma coisa, tá?

Joseph chega com a mãe, no dia seguinte, ao velório do amigo. Muitas pessoas estão lá, incluindo vários colegas da escola e alguns professores. A escola deles doou uma coroa de flores imensa. Ele se aproxima do caixão e vê que Kevin está rodeado de flores amarelas e brancas. Ele sempre via essas flores em filmes, mas não fazia idéia que elas realmente fazem a diferença num caso como esses. As flores diminuem o impacto de ver uma pessoa que você ama dentro de uma caixa. Não só as flores, mas toda a arrumação que se faz para um velório. Kevin estava vestido com um terninho e gravata. O mesmo que usaria no final do ano, na formatura deles.

- O rosto dele está com uma aparência tão calma, não? - diz uma pessoa na frente dele.

- Oi, Alice – diz Joseph olhando para ela. - Sim. Ele está com uma expressão tranquila. Parece que está dormindo.

Uma lágrima escorre do rosto dela. - E não vai mais acordar – completa.

Joseph dá a volta e a abraça, apoiando a cabeça dela em seu peito, sem nada dizer. O tio de Alice veio acompanhá-la, já que a mãe não estava se sentindo bem. Eles ficam juntos em silêncio durante todo o velório. Algum tempo depois, a mãe de Kevin vai até o caixão, chama a todos e faz um breve discurso exaltando a grande alegria que sentiu do milagre de ser mãe, dos momentos de plena felicidade que sentiu ao lado dele. Seu rosto se iluminou enquanto ela falava. A alegria que ela transmitia a todos dava uma nítida impressão de que Kevin ainda estava vivo. Ao falar dos planos para o futuro que ele tinha, sua expressão foi mudando e ficando mais triste. Por fim, se despediu do filho com um longo beijo na testa, chorando bastante. O caixão é fechado e levado até o local de sepultamento. Antes que o caixão seja baixado no buraco do chão, Alice se aproxima e coloca sobre ele uma miniatura do planeta Grindan que trazia consigo no bolso. Todos aplaudem emocionados.

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