Capítulo 5

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Eu precisava resolver aquela bagunça de uma vez. A minha vida estava de cabeça pra baixo, eu não podia ficar com meias palavras com meu professor de literatura! Ele poderia me repetir por conta disso e não era algo que eu pudesse simplesmente chegar na diretoria e reivindicar minha nota. O que eu diria? Meu relacionamento com o professor Blake não deu certo, e ele me deu um C por conta disso? Acho que não seria adequado. Um de nós dois precisava ser o adulto da situação, e Daniel já havia dado provas o suficiente de que não seria ele.
O dia letivo já tinha terminado, e eu estava feliz por não ter aula com Daniel. Agora, eu só precisava ir até a sala de aula e esclarecer tudo. Colocar todos os pingos nos "i"s, vírgulas nas frases e pontos finais nos devidos lugares. Respirei fundo, ajustando a alça da minha mochila nos ombros. Ela estava quase vazia mas parecia pesar cem quilos. Talvez fossem meus pensamentos que estivessem pesados demais. Passei por Emma e Keat próximo ao bebedouro, os dois pareciam discutir, mas não era da minha conta. Apesar de que eu começava a pensar de que minha amiga tinha vergonha de andar com um cara mais novo no colégio, mas não parecia ruborizar quando fazem lavagem estomacal um no outro lá em casa.
Cheguei a frente da sala de Daniel e não me importei em bater, acho que ja tinhamos intimidade o suficiente. E agora, depois que aquilo tudo passou, eu me pergunto porque eu nunca consigo aprender com os meus erros. O professor Blake - porque me recuso em chamá-lo de Daniel depois disso pelo restante dos meus dias nesta merda desta terra - estava com a calça aberta, debruçado sobre uma garota loira que facilmente reconheci como Ashley. Agora eu entendo porque ela usava saias tão curtas, assim fica mais fácil ela se agarrar com os professores em cima da mesa. Eu não podia julgá-la, não mesmo, porque eu já havia feito aquilo - apesar de não ter me sujeitado a ir as vias de fato, coisa que eles pareciam estar a instantes de fazer se eu não tivesse chegado ali - mas de repente eu havia ficado enjoada. E considerei por alguns longos segundos a possibilidade de vomitar na lixeira mais próxima.
Os dois se separaram e tentaram se recompor rapidamente quando me notaram ali. Ashley ajuntou as suas coisas e saiu dali o mais depressa possível, ainda abaixando a saia no meio desse processo todo. Mas eu não me importei de encará-la, eu esperava isso dela. Eu sabia que ela chupava o time de basquete inteiro no banheiro masculino e os boatos que corriam era que ela dava festas como as do fim de semana passado só para poder transar com todo mundo e não parecer tão vulgar, ja que todos estavam transando também.
O problema era com o professor Blake. Ele sim havia me decepcionado, eu o admirava. A verdade era que Daniel Blake, até aquele momento, era o único homem que eu havia admirado em toda a minha vida. Ele era inteligente, bonito, trabalhava em algo que ele amava, e era muito divertido conversar com ele, mas Blake conseguiu me provar que eu estava errada. Todos os homens eram exatamente iguais: desprezíveis, machistas e egoístas demais para enchergar algo além de seus próprios pintos. Um xerox mal feito de James.
O professor ainda tentava se recompor, nervoso demais para conseguir fechar o zíper da calça. Eu continuava ali, com a porta entreaberta encarando ele como o predador encara a presa.
- Ronnie, querida, eu te esperei ontem mas... - Ele tentou, assim que conseguiu recolocar a calça e os óculos no devidos lugares.
- Cale a boca, pelo amor de Deus. - Cuspi, sentindo o gosto amargo do desprezo surgir nos meus lábios. - Você é tão repugnante, todos vocês são!
- Eu...
- Você! Se deu o trabalho de criar um fake pra conversar comigo, falamos durante meses... só porque você queria entrar nas minhas calças? - Esbravejei. Eu sentia as lágrimas brotando, mas eu arrancaria meus próprios olhos se eu derramasse uma gota sequer naquela hora. - Vou te dizer que não precisava ter esse trabalho todo se você quisesse isso, Ashey abre as pernas pra qualquer um sem precisar pedirem. Mas espere, - eu ri sem humor algum - acho que você já descobriu isso!
Eu girei nos calcanhares. Não queria ficar ali mais nem um minuto. Que se foda o meu C. Eu fugiria da escola se precisasse, mas não frequentaria mais uma aula daquele homem.
- Garota, espera! Do que você está falando? - Blake puxou o meu braço, me forçando a encará-lo. Eu poderia vomitar bem ali.
- Eu sei que é difícil pra você, mas não se faça de idiota. Você, criou o Bog pra me induzir a participar desses seus fetiches nojentos de pegar colegiais. Ficou bem claro isso quando você falou comigo em Nadsat durante a aula. - Desvincilhei meu braço de seu aperto, e massageei o lugar com a outra mão enquanto o fuzilava com os olhos.
- Eu não sei do que você está falando Ronnie. Você é quem sempre deu em cima de mim, eu sempre notei. Mas ontem... - Ele respirou fundo, passando uma das mãos pelos cabelos curtos. - Ontem você passou dos limites! Eu sou homem, não tenho como negar um assédio desse tipo. Ashley faz isso comigo toda a semana, eu só, não consigo resisitir. Eu sei que eu sou desprezível, isso é repugnante, custaria a minha carreira se alguém descobrisse.
- Ele começou a caminhar de um lado pro outro na minha frente, e eu mal conseguia acompanhar seus passos confusos. - Agora, quanto a isso de fake e Bog, eu não faço ideia do que se trata. Eu falei em Nadsat com você porque vi esse broche na sua mochila e notei que você gostava. Só isso.
Ele tocou em um dos meus bottoms, especificamente o com o logo do filme Laranja Mecânica, me indicando enquanto ele terminava seu pequeno monólogo. Meus lábios se separaram, e eu me senti como se alguém acabasse de me jogar um balde gigantesco de água gelada em pleno inverno rigoroso. Eu me sentia patética. Tudo o que eu consegui fazer foi dar meia volta e sair daquele lugar o mais rápido que eu conseguia. Ignorando o professor Blake que chamava o meu nome e pedia para eu não contar aquilo pra ninguém.

Clichê [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora