Capítulo IV

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Ainda fiquei ali parada por uns instantes, procurando recuperar minha compostura,

tentando descobrir o que teria acontecido. 


Olhei minhas mãos trêmulas e percebi que minha camisola era totalmente trans-

parente, de cima a baixo! A luminária que eu havia acendido só serviu para

realçar minha nudez sob o tecido!


Não vi mais a fera até o jantar do dia seguinte. Ele foi gentil e refinado, como

tinha sido durante nossa refeição anterior. Sempre que nossos olhares se cruza-

vam eu corava e me arrepiava por completo, mas ele nunca deu sinais de

perceber. 


Seu comportamento chegava a aliviar meus medos e suspeitas, e voltei

a ficar à vontade, achando sua conversa agradável e amistosa. Depois ele se le-

vantou e me fez a mesma pergunta da noite anterior, o que faria

a cada noite a partir de agora.


-Bela, você aceita se casar comigo? 


Ao que eu sempre respondia:


-Não, Fera. Nossa amizade desabrochou. 


Ainda assim, todo ruído que ouvia em meu quarto, à noite, me deixava ansiosa

 e sem sono, esperando, sobressaltada, aquela leve batida em minha porta.


Mas a Fera não voltou a se aventurar perto de meu quarto.


Fui eu que, numa noite de insônia, passei pelo quarto dele, a caminho da

biblioteca, em busca de algo para ler. Ao passar ouvi um barulho, bem parecido

com um gemido, vindo do outro lado da porta. Parei bruscamente.


Em seguida ouvi novamente o ruído. Logo soube que era a Fera e fui tomada

de compaixão por ele. Estaria doente?


Sem pensar duas vezes, bati à porta. Alguns instantes se passaram e bati novamente.


-Vá embora -finalmente o ouvi dizer, em tom suplicante.

-Não vou -respondi, determinada. - Não até ver que você está bem. 


Silêncio outra vez. 


-Por favor -implorei, voltando a bater.


-Apenas abra a porta e me deixe...


-Afaste-se da porta, Bela! -ordenou ele, de modo áspero. -Vá embora agora

mesmo, ou estará em perigo! -seu tom era controlado, mas a voz parecia

desesperada.


Muitas vezes fiquei pensando por que não o deixei naquele momento. Já

disse a mim mesma que não poderia ter deixado um amigo em apuros. Que foi

minha curiosidade que não me permitiu ir. Já disse a mim mesma uma in-

finidade de coisas, mas acho que você também não vai acreditar.


Virei-me em direção à maçaneta e abri a porta do quarto da Fera.

Estava um breu. Dei alguns passos à procura dele, em meio à escuridão. Su-

bitamente a porta bateu atrás de mim. Meus cabelos se eriçaram.


A escuridão foi lentamente revelando algumas sombras. Meus olhos percor-

riam o cômodo imenso freneticamente, buscando pela silhueta da Fera. Subita-

mente ouvi o ranger das argolas no trilho, quase me matando de susto, e a cor-

tina pesada sendo puxada, deixando o luar entrar no quarto. Agora eu podia ver

a Fera claramente, à medida que se aproximava. Também podia ouvir sua res-

piração descompassada e, então, notei que ele ofegava.


Minha respiração também ficou mais acelerada e eu tentava desesperada-

mente encher os pulmões de ar. Era como se o quarto imenso tivesse sido reduz-

ido à metade ao dar-me conta do porte gigantesco da Fera. O medo corria em

minhas veias, deixando-me em estado de alerta quanto ao que havia ao redor. 


A Fera se aproximou lentamente, até ficar tão próximo que eu podia sentir seu

hálito morno em minha pele. Até me arrisquei a pensar que sentia o calor vindo

de seus olhos. Ele era quase meio metro mais alto que eu, com ombros largos,

que mediam quase três vezes o meu tamanho. Havia um brilho incomum em

seus olhos escuros. Eu me arrepiei, apesar do calor que emanava dele.



A Bela e a FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora