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Louis estava sozinho em sua sala de aula, completamente sozinho, e se perguntava se havia chegado muito cedo.

Ele caminhava pelas fileiras de cadeiras vazias, sentindo as palmas de suas mãos suando, enquanto ele fitava o quadro branco intrigantemente limpo.

Ele procurou um lugar onde pudesse checar as horas, mas, estranhamente ele estava sem seu celular; de modo que só teve alguma noção de tempo quando começou a escutar as vozes dos colegas de classe subindo as escadas, prontos para várias horas dentro daquele lugar.

Sendo assim, ele foi até seu lugar de sempre, encostado na parede, para que ninguém chegasse lá antes dele e esperou por algum tempo, mas ninguém entrava na sala. Ele continuava sozinho.

O garoto encarou a parede procurando uma resposta do seu novo amigo anônimo, mas a última mensagem ainda era a sua.

Quando Louis levantou a cabeça mais uma vez a fim de ver se mais alguém havia chegando, não encontrou ninguém senão uma figura desconhecida na frente da sala de aula, ante a lousa. Ele não reconheceu a pessoa, que ele não conseguia saber se era um menino ou uma menina, já que seus cabelos eram curtos para uma garota, mas ainda relativamente compridos, para um garoto. E, quanto ao resto do seu corpo, estava tudo muito embaçado para que Louis conseguisse distinguir qualquer coisa, como se ele o enxergasse por debaixo d'água.

Ele caminhou até ela, subitamente tomado de curiosidade. Mas, a cada passo que dava, era como se afundasse no chão, andando cada vez mais devagar.

Quando ele finalmente alcançou a figura, sentia seu coração esmurrando seu peito, cada vez mais forte como se estivesse desesperado para sair de Louis.

Com cautela, ele cutucou o ombro da pessoa misteriosa, como se ela fosse um predador que estivesse para atacar a qualquer minuto; mas, quando ela se virou, o coração de Louis, que outrora estava batendo muito forte, congelou.

A pessoa, ou seja lá como era adequado chamar aquilo, não tinha rosto. Não possuía olhos, nariz ou boca, tinha uma cabeça lisa como um manequim, e aquilo era extremamente perturbador.

Louis olhou em volta como que procurando ajuda, mas se surpreendeu ao perceber que todas as paredes ao seu redor e até o quadro branco estavam completamente cobertos com a mesma frase, escrita com tinta de caneta azul: "Você vem sempre aqui?"

Louis acordou sobressaltado com o seu celular apitando repetidamente, seu coração batia tão rápido que ele não precisou se jogar no chão para despertar.

Ele caminhou rapidamente até o banheiro, flashes daquele rosto sem face bombardeavam sua mente. Não seria uma coisa que ele esqueceria tão rápido.

Não demorou muito no banho, e se arrumou com facilidade, ele estava dormindo desde que chegara em casa no fim da tarde passada, não tinha nem um pouco de sono.

Saiu do chuveiro às 6:07, e nos 8 minutos que se passaram até às 6:15, ele não se mexeu. No entanto, ficou muito aliviado ao escutar seu pai entrando em casa.

Foram raras as vezes em que seu pai não voltara pra casa depois de brigar com a esposa, mas aconteceram; e Louis morria de medo de algo do tipo se repetir.

Por isso, quando ele escutou o característico "Bom dia, Lou." vindo da cozinha, não pode evitar um sorriso.

"Sua mãe não acordou ainda não é?" Seu pai perguntou, aparecendo na porta de seu quarto.

"Não." Louis respondeu, escondendo o sorriso ao ver a expressão cansada e triste no rosto do pai. Ele se perguntou o que teria acontecido, mas ele sabia que não seria nada bom.

O garoto foi até a cozinha para tomar café, como sempre, mas como percebeu que sua mãe e seu pai conversavam seriamente em sua cama, resolveu não atrapalhar e ir à escola sozinho. Não era longe, ele aguentaria.
***
Assim que Louis chegou no prédio do colégio, ele hesitou por alguns segundos antes de ir pro seu lugar na sala de aula.

Ele não sabia se queria saber se havia mais alguma coisa escrita na parede. Aquilo estava tomando sua vida. Ele não pensava em mais nada. Ele estava ficando louco? Afinal, até sonhar com aquela maldita pessoa que ele desconhecia ele havia sonhado. Não que havia sido um sonho prazeroso, mas ainda fora um sonho.

Ele sabia que se ele chegasse lá e não tivesse mais alguma mensagem, ele ficaria louco, muito decepcionado.

"Ah, para com isso, Louis." Ele disse a si mesmo chacoalhando a cabeça. O garoto entrou em sua sala com passos pesados, mas parou a alguns centímetros da sua cadeira, se perguntando se queria mesmo fazer aquilo.

Ele tinha mais coisas com o que se preocupar: a escola, a família, que estava desmoronando; quem sabe arranjar um amigo de verdade, alguém físico, que ele pudesse ver e conhecer sem ter que esperar um dia inteiro.

Era uma parede, no fim das contas.

Ele estava ficando paranóico por conta de uma porcaria de parede.

Ele se chacoalhou de cima a baixo, dando uns tapinhas em sua própria cara, como se para se despertar de um sonho maluco, de um transe. De uma obsessão.

"Pelo amor de Deus, Louis Tomlinson." Ele se repreendeu. "Vai lá e senta no seu maldito lugar, na sua maldita cadeira, na maldita parede, que é só uma maldita parede. Não vai ter mais nada escrito lá, mas e daí? A vida continua, não para por aí. Você está aqui pra aprender, não pra conversar em um chat anônimo."

Ele levantou um pé de cada vez, caminhando os poucos centímetros restantes até sua cadeira, sentando-se nela, olhando pra frente, hesitando em olhar pra parede a sua esquerda. Mas ele não o conseguiu fazer por muito tempo.

O garoto tombou a cabeça pra esquerda com uma força tão intensa que não sabe como seu pescoço não deslocara.

Ele não sabia o que esperar, mas definitivamente não era aquilo.

'Infelizmente, sim. E você?'

'Só quando tem algo interessante o suficiente pra me fazer ficar.'

Talking to Walls >>lsOnde histórias criam vida. Descubra agora