2 | Fly Away

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[Kora Nekane]


Seguia-se mais um dia de trabalho. Não sei o que era pior, terem-me retirado da escola ou estar a trabalhar neste lugar onde nunca vou ter futuro. Este não era de todo o que planeava para a minha vida. 

- Kora, não te esqueças que tens de entregar as compras à casa dos irmãos Hemmings, ao fundo da rua! - avisou-me uma senhora que era dona do estabelecimento onde trabalhava. Meti o meu cabelo escuro só de um lado e peguei nos sacos com as compras, com um pequeno bilhete com a morada caso eu não soubesse onde era. Avisei que ia sair para fazer a entrega e meti-me ao caminho. 

O sol ao pôr-do-sol fazia-me sentir vazia e por isso odiava andar na rua durante estas horas, até ser noite.

Caminhava pelo passeio cinzento que tinha algumas folhas alaranjadas, por ser Outono. O meu passo era um pouco apressado mas também não muito; não queria ir para casa depois do trabalho, apesar de ser obrigada a isso. 

Era obrigada a ir para casa, literalmente, por diversos motivos aos quais nem me quero lembrar, para não sofrer por antecipação. 

Já avistava o fundo da rua e a conhecida casa, por mim apenas de vista. Uma casa branca, com pintura nova e um jardim pequeno à volta. 

Assim que cheguei, bati à porta, esperando que me a abrissem. Um rapaz moreno e alto, abriu a porta, dando um sorriso animado.

- Olá, eu vim entregar estes sacos de compras...- comecei a falar mas fui interrompida.

- Oh, claro! - o rapaz pegou nos sacos que eu transportava. - Entra! 

Eu podia muito bem recusar, mas o facto de não querer ir para casa foi mais forte e acabei por aceitar, não sabendo bem para fazer o quê. Eu perdi todos os meus amigos, não porque eu quis, mas porque simplesmente tive que me afastar para que não acontecesse algo pior a eles. 

- Como te chamas? - perguntou-me o rapaz, andando pelo corredor largo da casa, após fechar a porta.

- Kora. - respondi, olhando à volta.- E tu?

- Calum. 

Segui-o até à divisão que rapidamente percebi que era a cozinha. Calum largou os sacos em cima de uma bancada de pedra escura. 

- Nunca te vi por aqui.- comentou, olhando-me. 

- Eu não moro aqui na rua, apenas trabalho à pouco tempo no supermercado que existe ao início da rua. - afirmei, sorrindo ligeiramente. Ele assentiu e sorriu.

- Calum, podes chegar aqui? - ouvi uma outra voz masculina a soar na casa. 

- Vou já mesmo! - gritou um pouco. Calum fez-me sinal para o seguir e assim o fiz. 

Fomos dar à sala, onde encontrei um rapaz loiro, sentando numa cadeira de rodas. Imediatamente questões apareceram na minha mente mas permaneci calada.

- Diz, Robert.- Calum disse, metendo-se à frente dele. Permaneci atrás do rapaz que estava sentado.

- Quero sair daqui.- o rapaz respondeu. - Quero levantar-me...

- Mas não podes, Luke.- afirmou Calum, num tom suave. 

- Porra, Calum! Ajuda-me a levantar! - gritou. Eu num impulso - não sabendo a razão -, dirigi-me ao rapaz loiro e meti-me ao seu lado, agarrado o seu braço de forma a levantá-lo. 

Ele olhou-me com uma expressão indecifrável, durante uns segundos.

- Kora, não vais conseguir! É uma situação complicada... - declarou Calum, agarrando do outro lado do rapaz. 

Esperava que ele andasse um pouco mas permanecemos meros minutos à espera de qualquer coisa e a única coisa que se obteve foi uma raiva por parte do rapaz e umas lágrimas que eram escondidas a todo o custo pelo mesmo. 

Voltamos a sentá-lo mas desta vez no sofá, para ficar mais confortável. Ninguém até agora proferiu qualquer palavra. Não sabia o que pensar, fazer ou falar. 

Calum olhava para mim e para o rapaz sentado, várias vezes. 

- Pois é ainda não vos apresentei. - Calum falou passado um tempo.- Kora, este é o Luke. Luke, esta é a Kora.

Calculei que perguntar se estava tudo bem, não faria o minímo de sentido, por isso limitei a dizer um olá ao qual não obtive resposta. 

- Bem, eu tenho de ir.- informei-os.- Hum, gostei de vos conhecer...

- Também gostei de te conhecer...e o Luke também, não é Luke?- questionou-lhe. Luke apenas encolheu os ombros e permaneceu com o olhar distante. 

Calum acompanhou-me até à porta dizendo por fim para voltar assim que eu quisesse. Assim que nos despedimos, fui até novamente ao supermercado. Olhei as horas e reparei que faltavam apenas 20 minutos para ir para casa.

* * * 

- És sempre a mesma coisa! Não prestas para nada! - a minha mãe continuava com o seu discurso a meu respeito. Eu, sentada no meu quarto, em silêncio, ouvia as palavras amargas que ela me gritava. 

- És um monstro, não vais longe! És um caso perdido mesmo. Nem sequer sabes ajudar-me cá em casa, só te preocupas contigo própria! És uma egoísta. 

A minha cara tinha começado a ser invadida pelas lágrimas do meu choro silencioso e quieto. Tinha uma mágoa enorme dentro de mim e eu queria que ela desaparecesse dentro de mim. 

Queria desaparecer, queria fugir daqui, queria correr até as minhas pernas começassem a doer e o meu peito começasse a sufocar. Eu não quero mais ouvir estas palavras que tanto me magoavam, diariamente. Quero fugir disto tudo, quero ir para bem longe daqui, desaparecer, ir para outro lugar e recomeçar tudo novamente.

Eu apenas quero que isto acabe.

Como eu estou revoltada com tudo.

[...]

Hey! 
Mais um capitulo ^^ espero que gostem, comentem, votem e partilhem a fic :) 

See ya xx 



Jet Black Heart; hemmings [AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora