Quatorze:

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   Ela estava demorando. Hayle marcou o horário que ligou: 11 horas. Mel disse que estaria no The Word em menos de uma hora. Hayle tirou o celular da bolsa, era 11:31. Mel estava atrasada. Foi aí que Hayle se tocou que havia um relógio em seu pulso. Aguardou dez segundos, olhou o relógio novamente, que marcava 11:32. Ela tentou esquecer que a hora existia, tentou focar sua atenção nas coisas mais simples do mundo: Uma ave assobiar, o tempo fechar, um garotinho fazer pirraça e muitos dos carros passarem pela avenida.Tudo normal, menos o atraso de Mel.

  Hayle bufou. Caminhou até a praça e sentou o traseiro no meio fio.

  — Cacete — xingou.

  Mas sua sorte estava para mudar. Benjamim Evans se materializou ao lado dela no meio fio.

  Wow.

  Hayle se perguntou de onde diabos ele tinha surgido. Talvez do chão. Escondeu as bochechas com as mangas do moletom; não queria que Ben a visse corando. Porém, não pôde deixar de sorrir quando o viu abrir a boca com seu sorriso branco, brilhante.

Exibido.

  Ben se aproximou, cauteloso. Era o tipo que tentava ler as expressões das pessoas. Hayle detestava aquilo. Virou o rosto para o lado, fingindo não tê-lo visto se aproximar.

  — Hayle? — chamou.

  Hayle manteve seu cérebro em retardo mental. Só percebeu sua presença quando ele a cutucou com o indicador, outra coisa que lhe irritava.

  — Agora que resolveu  aparecer... — ela congelou ao ver que, na verdade, era Ben que se encontrava ali — Oh...desculpe, e-eu...hum...— gaguejou, um sinal perfeito de seu nervosismo.

  — Olá, Dr.Evans. — conseguiu dizer, agora tentando focar-se em uma formiga bunduda que carregava uma folha maior que ela. Ben também a observou.

  — Elas são incríveis, não acha? — perguntou, encantado com a formiga como se fosse tão incrível como a explosão do Big Bang. Hayle concordou, mesmo que não visse nada de"extraordinário"na formiga que tinha mais bunda que ela. Resolveu não discutir.

  — Sim, elas são incríveis — disse Hayle,  que notou que não soara nem um pouco convincente. Porém, Dr.Evanz aparentou acreditar.

  Já vi crianças de cinco anos fazerem melhor. Dê mais de si, menina!

  — Ben — corrigiu ele, meio século depois. Hayle sussurrou um"desculpe" que somente ela pôde ouvir.

  Graças a Deus.

  Hayle não estava boa para papo, mas fez um esforço para manter-se sociável, mesmo não querendo debater o quão "incrível era a formiga saúva". O silêncio constrangedor se fez em meio deles. Hayle optou por puxar qualquer tipo de assunto. Porque, segundo sua avó, "quem queria conversar falava até de feijão". Mas Hayle não tinha o menor saco para conversa. Começou a imaginar tudo.

  Por que diabos ele estava ali? Eu nem sou atraente. Será que tem pena de mim? Será que ele tem namorada? Será que é casado? Será...?

  Cale a merda da boca, garota!

  Uma enxurrada de porquês atingiu em cheio a cabeça dela. Talvez ele fosse alguns daqueles médicos tentando manter uma relação amigável com seus pacientes, ou talvez então fosse o tipo que conversa com todos, do pessoal da limpeza até os mendigos do Central Park. Eram muitas as opções, Hayle pensou de tudo.Tudo, menos ela. Nunca foi uma pessoa otimista, para Hayle tudo dava errado, e ela sempre acabava ferida no final."Uma rosa despedaçada". Tinha perdido a pouca fé que lhe restava quando o assunto era relacionamento. Decidiu por nas mãos de Deus, mas o tempo é indeterminado. Hayle pôde entender que ela não era a única com problemas precisando de ajuda. "Meu problema não era tão grave assim,"ela sempre dizia. Deus tinha trabalho a fazer, como amparar as criancinhas famintas e aos indefesos, em vez de solucionar problemas que nem pertencia a ele. Deus é Deus, não um cupido.

Para Sempre Encalhada(PAUSADO PARA REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora