A Sombra da Lua - O Segredo Da Marca Lunar

ℙ𝕣𝕠́𝕝𝕠𝕘𝕠

Uma risada tranquila percorre toda a mata. Estou correndo descalça sobre as folhas secas caídas das árvores devido ao meio do outono. Elas formam um gigantesco tapete natural e macio no chão sob meus pés ágeis, sim, realmente é confortável.

Gravetos estalam e um canto suave preenche o ar. O som leve e feliz continua como uma melodia por toda a imensidão de tons marrons e vermelhos.

_ Parece uma bela pintura, eu diria...

Enfim, percebo que a risada e o som que escuto estão vindo de mim. Estou alegre, alegremente dançando entre as folhas. O som da chuva e o cheiro de terra molhada não é nada parecido com o terror dos trovões. Estou segura! Completamente segura agora!

Um aroma delicioso se propaga pela floresta. Me vejo parada na borda de uma enorme clareira, bem em minha frente está um vasto oceano de flores azuis. Alguém está ali, de costas para mim, me esperando, bem no meio do extenso campo cercado pelas flores. Ele está aguardando minha chegada. Preciso me apressar!

...

Acordo de mais um sonho e continuo não vendo em que lugar estou sendo mantida. O som que preenche o ambiente soa como grossos pingos de chuvas, seu ritmo é lento e melódico, caindo em algum lugar mais longe das pedras. O cheiro de mofo e alguma coisa podre no ar faz com que meu nariz pinique e meu estomago embrulhe, não restou nada para vomitar.

Algo pegajoso rasteja por entre os dedos de meus pés gelados. Não sei quando foi a última vez que pude mexê-los sem aumentar a dor que irradiava do tornozelo para o restante do corpo. Eu vou morrer! Esse pensamento insistia em abrir espaço por minha mente conforme o tempo passava. Eu definitivamente morrerei!

Observo um feixe de luz que se aventurava mais a frente daquele espaço escuro e bolorento. Havia alguma coisa reconfortante em tudo aquilo.

Minha garganta se fecha com a vontade inesperada de rir. Eu estava ficando louca! Acho que me tornaria louca antes mesmo de poder deixar esse mundo. Eu gostaria de poder ter me despedido melhor. Não! Eu não estava louca, mas sim aliviada. 

Seguras! Elas estão seguras! Eu consegui ganhar tempo. Essa tem sido a única coisa capaz de me motivar a aguentar mais um pouco. Sinto meu corpo voltar a tremer e fecho novamente meus olhos pesados.

É estranho como minha mente podia oscilar tanto nesses curtos momento consciente. Agora mesmo, não sei se estou acordada ou se esta é apenas mais uma das muitas alucinações que tive durante o tempo que estou presa aqui. São horas? Dias? Ou quem sabe meses? Eu realmente não sei! Só consigo lembrar do motivo que me fez terminar nessa situação.

Em pensar que a um ano eu era uma garota normal. "Normal", esse termo não tem mais o mesmo significado que antes também. Senti, novamente, minha consciência escapar gradualmente e tive total certeza de que meus olhos estavam fechados agora.

Uma cena passou por meus cílios e me perguntei se essa era mais uma das alucinações que tem me tirado o sono ultimamente. Era uma lembrança...

Me permito viajar por ela visualizando cenas em minha mente como foi meu passatempo a menos de um ano. Observo a vastidão de um jardim etéreo, completamente encantado, suas flores estão em plena vitalidade e várias pétalas voam e perfumam o lugar sendo conduzidas pelo vento.

Quase posso sentir seu perfume doce e leve daqui, um suspiro de alívio escapa por entre meus lábios. Elas estão seguras, eu sei que estão! A imagem some lentamente quando um som familiar retorna aos meus ouvidos e minha consciência que oscilava há alguns minutos agora se encontrava completamente desperta.

— Não...

Minha voz rouca passa por meus lábios enquanto escutava os passos de botas pesadas de couro se aproximavam em um eco, lento e esmagador.

Coragem Mahina!

Ele está aqui