ℂ𝕒𝕡𝕚́𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟚

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𝙼𝚊𝚑𝚒𝚗𝚊 𝚂𝚞𝚕𝚒𝚟𝚊𝚗 𝙵𝚎𝚛𝚛𝚊𝚛𝚒

          — A tia Adélia podia sorrir dessa forma? Em minha memória ela sempre me pareceu meio rabugenta. — ironizou Aisha com uma careta ao segurar um Porta retrato empoeirado.

          Tanto a sala de estar como a cozinha estavam lotados deles e outros objetos antigos, à primeira vista parecia haver pelo menos um em cada superfície livre. Susan havia limpado uma mesa velha na cozinha e distribuído nosso lanche sobre ela e estávamos sentadas em bancos improvisados com caixotes. 

          — Não seja assim com a Tia Adélia Aisha... mas para falar a verdade eu também não sei... não consigo lembrar de nada dessa época, acho que ainda era muito nova. Já tivemos algumas conversas por telefone, sobretudo nos últimos anos, e ela tem sido extremamente amável, além de contar histórias extraordinárias. Me sinto culpada de não termos a visitado pessoalmente... — limpei os farelos de pão e estiquei o braço pegando o porta retrato das mãos de Aisha do outro lado da mesa. 

          — Não se preocupe Mah, até para mim é difícil lembrar dessa época. Nem sabia que já tínhamos vindo nessa casa antes — ponderou Susan se aproximando para também ver o retrato.

          — Deve ter sido difícil para ela, por estar sozinha nesse lugar por tantos anos sem receber visitas. Disseram que ela estava completamente enlouquecida nos últimos 2 anos. — disse Savanna.

          — Quem te disse algo assim? Ela sempre me pareceu bem sã nos telefonemas... bem... talvez uma vez ou outra ela citava algo estranho, mas nada que poderia significar... algo como loucura — questionei-a. 

         — Ah, não interessa muito quem me falou, mas acredito que pelo estado que a casa está agora ela não deveria estar muito bem... para ter deixado as coisas chegarem nesse nível. — respondeu ela simplesmente.

          — Nossa mãe nos disse que ela preferiu morar na cidade e não aqui. É muito afastado de tudo e é grande demais para uma pessoa idosa. Eu ficaria louca nesse mundaréu de madeira sozinha, ela parece ter deixado isso abandonado por no mínimo uns 5 anos, não quero mais saber sobre esses comentários... — cortou Susan olhando a enorme cozinha. — Amanhã o restante da mudança irá chegar e aproveitamos para dar uma volta pela cidade. Talvez alguém saiba de alguma coisa para melhorar o estado daqui — continuou.

          — Não me lembro dessa criança aqui... Quem era Susan? — Savana perguntou apontando para algo na imagem que até então não havíamos reparado.

          Eu não me lembrava quando aquela foto havia sido retirada, na verdade, nem sabia da existência dela, mas fazia muitos anos, isso com toda certeza. As bordas já estavam muito amareladas e o porta retrato de madeira estava cheio de ranhuras e manchado por conta do tempo, até com um pouco de mofo.

          A imagem mostrava a Adélia em uma poltrona vermelha em frente a uma lareira segurando um livro. Eu estava sentada em seu colo com algo que parecia uma pequena caixa ou um brinquedo qualquer nas mãos, Susan estava dormindo em uma das poltronas toda esparramada sobre as almofadas e em seus pés, brincando, estava Aisha e Savana. Elas deviam ter uns 3 a 4 anos ?, Mas ela apontava para algo mais ao canto da fotografia.

          A imagem estava escura, mas ainda era possível ver um garotinho de cabelo preto com um suéter listrado e uma bermuda cinza a foto parece ter sido tirada quando ele olhou diretamente para o flash da câmera então seus olhos estavam vermelhos e brilhantes. Ele estava bem ao lado da tia-avó com a mão em meu ombro sorrindo.

        — Seria algum parente? Não me parece nenhum dos nossos primos, e que olhos bizarros, odeio fotos tiradas assim no escuro, alguém sempre sai estranho... — falou Aisha.

A Sombra da Lua - O Segredo Da Marca LunarOnde histórias criam vida. Descubra agora