ℂ𝕒𝕡𝕚́𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟜

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𝙼𝚊𝚑𝚒𝚗𝚊 𝚂𝚞𝚕𝚕𝚒𝚟𝚊𝚗 𝙵𝚎𝚛𝚛𝚊𝚛𝚒

– Você já está nesse banheiro faz horas – a batida de Aisha soava insistente contra a porta de madeira. Seus gritos altos me faziam crer que poderia derrubar a casa a qualquer momento – Eu preciso entrar!!!

Dizer que não estava a tanto tempo assim, seria, parcialmente, uma mentira. Faz vários minutos que estou parada em frente ao espelho observando meu reflexo, buscando o vislumbre violeta que vi na noite anterior.

Estava nitidamente brilhante. Era uma linha bem fina ao redor da pupila. Entretanto, não há mais nada hoje, nem mesmo uma mancha. Não havia possibilidade de ser apenas coisa da minha mente, não isso.

Observo o rosto cansado que me encarava de volta. Havia algumas olheiras que emoldurava meus olhos, não pude dormir muito também, além de que meu rosto naturalmente já possuía algumas olheiras que nunca sumiram. Meus cabelos longos pretos estavam presos em tranças na lateral de minha cabeça com duas fitas azuis nas pontas. Meus olhos castanhos estavam castanhos e nada mais.

Aproximo mais o rosto do espelho quase tocando a ponta do meu nariz no vidro. A respiração faz com que o espelho embaça levemente com minha respiração. 

Uma brisa que entra pela pequena janela no outro lado do banheiro percorre meu rosto soltando alguns fios ondulados da trança e finalmente a vejo, bem ali.

Ao redor da íris, quase invisível, um aro violeta, bem fino, é quase imperceptível, mas se destacava levemente no marrom, apenas olhando extremamente de perto era possível ver seu vislumbre. 

Eu não estou ficando louca...


– Eu falei que iríamos sair cedo, seria pedir muito que vocês não fizessem do banheiro um spa pessoal?! Estamos atrasadas, muito atrasadas! – reclama Susan olhando atentamente a estrada de terra que sumia para dar lugar ao asfalto.

– Eu pedi para a Mahina sair. Ela simplesmente ficou presa no banheiro por horas. Fazendo sabe-se lá o que!

– Não foram horas! Foram minutos – rebati me virando no banco do passageiro para ver Aisha fazendo careta para mim, o que, maduramente, respondi da mesma forma com outra careta.

– Você também ficou muito tempo lá Aisha. E por que está tão arrumada assim? Nós só vamos na cidade resolver a matrícula de vocês, não para uma festa, isso se já não estiver fechada né... – resmunga Susan vendo a pequena pelo espelho retrovisor interno.

Observo com mais atenção a roupa de Aisha e quase solto uma gargalhada. Ela usava um vestido florido, novo, sandálias de tiras com pequenas pedrinhas brilhantes. Seu rosto estava levemente maquiado e seus cabelos loiros penteados em incríveis cachos com um delicado arco de pérolas. Ela sim tinha feito do banheiro um spa, um salão de beleza e até mesmo um cabeleireiro.

– Parece mesmo que vai para uma festa "passarinho" – vejo a carranca que ela me dá e seu olhar se volta para Susan.

– Não é isso! É que...é nossa primeira vez na cidade, quero causar boa impressão – sua mão alisava nervosamente a saia florida do vestido com os dedos fechando no tecido leve.

Analisei mais atentamente a expressão de Aisha. Suas bochechas estavam coradas e seus cílios longos piscavam demais para alguém que sempre aparentava ser tão séria. Ela parecia mais com um anjinho quando se vestia desse jeito, era um contraste interessante com sua personalidade. 

– Já que vamos ficar aqui até as meninas se formarem e como vamos conhecer a escola hoje...bem...e já estamos quase na metade do ano. Eu queria fazer novas amizades – concluiu franzindo os lábios.

A Sombra da Lua - O Segredo Da Marca LunarOnde histórias criam vida. Descubra agora