Caminhar sem rumo...

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No dia seguinte me preparei bem cedo para a aula, embora ainda cismado com a merendeira que continha um recipiente com suco e um pão com manteiga. O caminho que fiz pela primeira vez carregado na bicicleta, agora era parte do prazer de ir à escola. Percorria a estrada poeirenta. Com passos lentos, apreciando a paisagem das escassas casas e o trânsito de pessoas a cavalo e a pé. Mentalmente eu fazia planos de seguir mais adiante da escola, para ver onde terminaria aquela estrada. Um dia não suportei a curiosidade e segui a estrada até onde ela me levava., que era um campo cortado por uma pequena trilha que levava ao rio. A descoberta me deixou maravilhado, ainda mais que me vi sozinho em sua margem, cercado pelo silêncio e o insondável.
Eu sempre gostei de explorar lugares, fosse caminhando ou andando de bicicleta. Com seis anos, ainda, acompanhei uma turma de meninos um pouco maiores em uma excursão ao centro da cidade. Após passar por um quartel que eu ainda não conhecia, chegamos a uma pracinha, onde ficamos brincando nos balanços. Quando a consciência de ter fugido de casa sem avisar ninguém e o medo do desconhecido se apostaram de mim, insisti para voltar, mas ninguém queria saber de deixar a brincadeira. Mostraram o caminho que eu deveria seguir de volta, quase uma reta, e eu tratei de segui-lo. Quando vi o quartel percebi que estava no caminho certo e aquilo me encheu de alegria, fazendo meu passo ficar mais lépido e brotar um assovio de pura alegria. Foi quando me encontraram pois já estavam me procurando, preocupados. Não lembro se apanhei ou levei uma bronca, mas nada que me impedisse de ser um freqüentador assíduo daquela pracinha.
Estas foram as primeiras incursões que fiz para "descobrimento" de lugares e elas me inspiram a vôos maiores, quando adulto. Até hoje tenho prazer em caminhar sem rumo por ruas que não conheço, em qualquer cidade do mundo. Quando chego em um lugar desconhecido, não me limito a cumprir apenas o roteiro ou a programação que me levaram até lá. Na primeira oportunidade saio a caminhar pelas ruas, a esmo, observando as construções e as pessoas. Normalmente essa é a parte mais proveitosa da viagem. Por essa razão, raramente participo de excursões turísticas, pois não suporto ficar atrelado ao grupo, limitando na minha ânsia de andar.

Memórias de um meninoOnde histórias criam vida. Descubra agora