Constante vigilância

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Finalmente nos mudamos para o outro lado da cidade. Nossa casa ficava bem na entrada de uma Vila, onde recebíamos orientação do pai para não entrar. Mas não havia como resistir, ali havia um campinho de futebol, pelado, ao lado de uma sanga onde seguidamente caíamos correndo atrás da bola, ou jogados por um menino mais velho nas inúmeras brigas que ocorriam. Há quinhentos metros dali existia algo melhor ainda, um rio.
Cresci as margens deste rio, sem nunca aprender a nadar. Era a constante vigilância à distância que me impedia de tentar o nado, pois sempre ia fugindo até lá. No entanto, uma das brincadeiras favoritas era, nos dias de enchente, quando o rio transbordava, atravessá-lo de ponta a ponta em uma câmera de pneu de carro que usávamos como bóia. Por nao saber nadar e, portanto, nao poder cair na água em hipótese alguma, a aventura era mais excitante. As pescarias quase diárias, me levaram a conhecer suas margens sempre à procura de um pesqueiro que não fosse explorado. O fato de não existir esse local não impedia de procurá-lo. Às vezes pescávamos em "cavas" que eram buracos escavados para retirada de barro para uma olaria e quem eram inundados com as cheias do rio. Ali se depositavam Joanas, Carás e algumas "suvelas"que ficávamos o dia inteiro tentando pescar. Nossos equipamentos era basicamente um caniço para lambari e uma "linha pintadeira" para pescar jundiás, pintados e traíras. Quando não estava estudando minhas atividades consistiam em pescar jogar futebol e soltar pandora em companhia de uma turma de meninos que moravam na vila.
O dinheiro era escasso, nao recebia nenhuma mesada e precisava "me virar" para conseguir alguns trocados para as necessidades básicas, que consistiam em bolas de futebol, fogos de artifício e guaraná com "leite moça". Quando a bola qie usávamos estourava, mos reuniamos, a turma de meninos que jogavam e pescavam, e saíamos com um carrinho de mão a catar metal, osso e vidro, que vendíamos em um ferro velho. A nossa constante procura causava alguma dor de cabeça aos vizinhos porque descobrimos que o " metal amarelo" tinha um preço maior e a melhor e a melhor fonte desse precioso metal eram as torneiras dos quintais. Não ficava uma para contar a história.

Memórias de um meninoOnde histórias criam vida. Descubra agora