Capitulo 01: Quando se fecham os olhos.

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Londres, 19 de Abril de 1842:

"...Querida Katherine, gostaria de lhe dizer pessoalmente que acabamos por aqui nosso noivado, fique bem, Isaac..."

_Eu jamais iria imaginar..._Katherine procurava esboçar um sorriso em meio às lágrimas.

_Dá pra compreender a sua dor, mas vamos Kath, nós temos algo mais a fazer_ Constance, que era conhecida como Conchita no circo, pegava a mão de Kath e ambas iam andando pelas ruas escuras de Londres.

A cidade possuía um ar um tanto quanto obscuro, as ruas estavam praticamente vazias, era tarde da noite. A Lua quase não podia ser vista, as nuvens davam um ar mais escuro ainda a cidade. Os poucos postes de luz estavam bem fracos, e a neblina estava mais densa do que o normal. As velhas ruas de Londres eram infestadas de ratos, ao longo do caminho podiam-se ver inúmeros correndo. As calçadas eram tomadas por figuras humanas, algumas mulheres, velhas e novas, que se prostituiam na esperança de conseguirem algo para comer no outro dia. Doenças como cólera e tuberculose eram muito frequentes e pessoas morriam aos montes, dia após dia.

_Aonde vamos Conchita?

_Um serviço especial, na casa de ópio próximo ao Market Borough... Vamos, temos que nos apressar.

_Claro!

As duas jovens caminhavam apressadamente, até chegarem em uma viela escura e sem saída, uma grande porta de ferro fechada com apenas uma janela, Conchita aproximou-se e bateu na porta. Uma figura decrépita abriu a pequena janela, um velho pálido e com aspecto doentio, ele as observou e aguardou uma resposta das amigas:

_Viemos a pedindo de Shen, eu sou Conchita e essa é minha amiga, Katherine...

_Pois não_ o homem abriu a grande revelando o interior de uma das maiores casas de ópio de Londres, quatro andares lotados de pessoas, jogadas aos cantos e consumidas pelo vicio e pela miséria. As paredes do primeiro andar desenhadas com figuras chinesas, belas flores, pássaros e dragões, contrastavam com as figuras, na maioria homens de origem chinesa, magros, horríveis, que passavam dias na casa gastando seu dinheiro com o vicio, nos andares superiores a situação era pior, aqueles que pertenciam a "alta-sociedade" londrina se escondiam no terceiro andar, onde o ópio não era o único divertimento. Shen era um homem empreendedor, construiu uma casa de ópio e se aproveitou das jovens indefesas tragadas pelo vício e as tornara suas servas, as chamadas "cortesãs" jovens que se prostituiam por um pouco de ópio. Aqueles que entravam dificilmente conseguiam sair antes que todo o dinheiro se acabasse. Pelos cantos os mais diversos tipos de feições, mulheres, homens, crianças, a grande parte jogada no chão, um ou outro morria dentro do antro e só era retirado quando percebiam que ele realmente estava morto. Conchita conseguiu avistar dois, um logo na entrada e outro próximo da escadaria que levava ao segundo andar. Em um canto dois meninos de aproximadamente onze anos, muito magros e pálidos, brigavam pela droga.

Ao final de um grande corredor escuro e repleto de "zumbis" fumando ópio podia-se ouvir os berros de uma mulher que repetia incessantemente uma reza em Latim

"Ave Maria Gratia plena,Dominus tecum Benedicta tu In mulieribus Et benedictus Fructus Ventris tui, Jesu".

_Uma reza..._ sussurrou Katherine no ouvido de Conchita.

_Sim, e em um latim quase perfeito por sinal. Não abra sua maldita boca até Shen nos dizer o que realmente está acontecendo. Não perca o foco Kathy, suas mágoas, seus sentimentos, seus ódios e frustrações, Katherine! Esqueça-os!

_Sim Conchita_ Katherine engolia com força a saliva, o lugar lhe causara repulsa, a figura do homem velho que lhes recebera era no mínimo nauseante, o cheiro forte de fezes e suor invadia todo o ambiente, era repulsivo a maneira como pessoas conseguiam sobreviver em condições tão precárias.

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