O sonho

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- Então, Ana, vou direto ao assunto: você já deve ter ouvido por aí que eu gosto de você! - Alex falou meio envergonhado.

Assustei-me com a sinceridade dele.

- Isso é verdade? - Perguntei.

- Sim...Mas eu quero que você saiba que minhas intenções são boas, não sou nenhum cafajeste!- Afirmou ele.

- Eu sei que você é uma boa pessoa, Alex! - Parei de andar e me virei para ele - Mas você já deve saber que meus amigos acabaram de morrer e eu ainda estou muito perturbada com tudo que houve e...

- Eu posso esperar o tempo que for preciso, Ana, mas não vou desistir de você!! - Ele parecia muito sincero, mas eu não sabia se podia confiar.

- Olha não se ofenda com o que vou te dizer agora... O que você viu em mim? Sou só uma pirralha e aposto que tem várias garotas lindas e da sua idade atrás de você!

Ele riu com meu comentário, voltou a pose séria e falou:

- Eu não te acho uma pirralha, você é diferente das outras garotas, é mais madura, corajosa, responsável...bonita... Você tem todas as qualidades que eu sempre desejei em uma garota!

Fiquei vermelha de vergonha com o que ele disse sobre mim, então continuamos a andar quietos sem dizer uma palavra.

Quando chegamos na esquina de casa, ele falou:

- Ana, daqui eu já vou! Pensa no que te falei...Ah e antes que me esqueça...Se precisar de qualquer coisa, qualquer favor me procure, eu sempre vou te ajudar no que precisar.

- Obrigada, Alex.

- Tchau!- Ele falou e me abraçou.

-Tchau!

Entrei em casa e meus pais estavam sentados na mesa da cozinha, parecia que estavam me esperando.

- Estávamos te esperando, o delegado Marcos ligou!!!- Minha mãe disse.

- Sério?- Perguntei largando a bolsa no chão e me sentando junto com eles.- E o que ele disse?

- Ainda não acharam os corpos dos meninos, Ana!- Falou meu pai desapontado.- Agora o delegado quer que você e  Simone prestem depoimento, porque foram as últimas que viram os dois!!

- Ai que droga!! - Falei pensando que teria que ocultar a parte da marca e da maldição.

- Então, meninas, contem-me o que aconteceu no dia do desaparecimento dos garotos! - Falou o delegado Marcos. Já era umas quatro da tarde e agora a Simone e eu tínhamos que enfrentar mais esse problema.

- Bom, fomos à escola de manhã, encontramos os dois e eu voltei a vê-los só de tarde quando eles passaram lá em casa para irmos até a casa da Ana estudar para a prova.- Falou Simone.

- Por volta de que horas chegaram lá?- Perguntou o delegado.

- Às 17:00 horas.- Respondeu Simone.

- E depois saíram de lá que horas?- Ele perguntou.

- Quase sete da noite, mas só os meninos foram embora, a Simone ficou em casa comigo. - Falei.

- E eles disseram que iam para a casa deles? - Quando o delegado perguntou isso, Simone e eu nos olhamos preocupadas.

- Não, eles iam para o posto de saúde, porque estavam... com uma dor nas costas.- Falei torcendo para que ele acreditasse nisso.

- Os dois com dores nas costas, por quê?

- Porque eles estavam ensaiando uma dança, sabe? Uma brincadeira nossa, pura zoação...até que eles escorregaram e caíram de costas no chão lá na casa da Ana!!- Inventou Simone.

- Hum...e já estava chovendo quando eles saíram??- O delegado parecia ter acreditado, agora o pior já tinha passado.

- Sim, havia começado a sair.

E assim se passou mais uma hora de interrogatório e finalmente fomos liberadas, saímos da delegacia e suspiramos de alívio por ter acabado.

- Graças a Deus acabou. E a historia da dança que você inventou foi ótima, bem a cara deles. - Eu falei dando risada enquanto caminhávamos pelas ruas. Ela também deu risada e depois voltou a pose séria e perguntou: 

- Ei, Ana, você esqueceu de me contar como foi hoje na escola com a Sofia?

- Horrível, aquela menina é muito estranha, ela falou cada coisa... o pior foi ela falando do avô, ela falou de um jeito que parece que ele quer matar ela!!

- Credo, me conta isso direito!- Falou Simone.

Enquanto eu contava a história da Sofia, caminhamos até uma pracinha que tinha perto de casa e lá sentamos e conversamos um pouco, aproveitei e contei sobre o Alex o que fez a Simone vibrar de alegria e dizer coisas como: "Você é louca? Não desperdice um gato daqueles!" e também:"Você é muito sortuda, Ana. Você precisa dar uma chance para ele!"... E assim ficamos até umas seis da tarde, fui para minha casa e a Simone para dela, depois de tomar banho e jantar resolvi ir dormir, mesmo que fosse só 21:30 horas eu estava morrendo de sono.

Entrei no meu quarto e antes de me deitar peguei um álbum de quando era criança e começei a ver as minhas fotos,do Gabriel, do Daniel e da Simone, o que fez é claro que eu chorasse de saudades, eu não conseguia superar a morte precoce dos meus amigos, tudo o que eu queria era poder vê-los uma última vez.

Acordei no meio de um lugar rural onde ventava muito, olhei em volta e havia cádaveres de animais mortos por toda parte, levantei-me e vi uma casa velha e abandonada a poucos metros de distância.

Andei até a casa me desviando dos cadáveres que encontrei pela frente, quando estava quase para bater na porta de entrada ela se abriu sozinha, então no lado de dentro vi Daniel e o Gabriel sentados em uma mesa de madeira com uma vela em cima iluminando todo o cômodo.

Sem pensar duas vezes entrei correndo para abraça-los que percebendo minha presença os dois vieram ao meu encontro, demos um abraço triplo ali no meio daquela casinha, então recuei para olha-los.

- Eu não acredito que são vocês mesmos,eu estou tão feliz. Vamos, andem...- Falei segurando a mão dos dois tentando leva-los para fora da casa.- Vamos embora, voltar para nossa vida normal! - Tentei puxá-los mas ambos recuaram e agora estavam com uma expressão triste no rosto.

- Não podemos sair daqui, Ana!!- Falou Daniel.- Estamos presos aqui!- Completou.

- Como assim? Por quê?- Perguntei confusa.

- Sente-se aqui, Ana!- Falou Gabriel puxando uma cadeira, sentei-me e ele completou.- Por causa da maldição!.

- Então é verdade essa tal maldição?- Perguntei.

Os dois pareciam ter uma coisa diferente no olhar, não eram os mesmos olhos que eu conhecia.

- Sim. - Responderam em coro.

- Mas como vocês foram amaldiçoados e por quem?

- Você sabe, Ana, Você estava lá, você viu tudo. - Falou Daniel sério, o que me fez ficar ainda mais confusa.

- Não, eu não vi! Contem-me isso direito.

- Viu sim, só que você não sabe ou faz ideia de quando foi isso! - Respondeu Gabriel.


Continua...

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