O retorno da maldição

1.4K 109 30
                                    

   Já em casa me preparei para a prova do dia seguinte sempre tendo em mente as coisas que Marta falou, ela parecia ter medo de Sofia, o que me fazia questionar se eu também deveria ter. Eu só não entendia o porquê da insistência da nossa professora em não querer nos contar a verdade por trás da maldição do Joaquim, pelo menos eu sabia que nós estávamos perto de descobrir essa verdade, mas, o que mais me deixou pensativa foi a frase: "...Sofia não pode ficar fora do sítio até o dia 14 de dezembro!"

  Por quê? Era a pergunta que eu me fazia a todo momento, até onde eu lembrava dia 14 de dezembro foi o dia da morte dela então isso com certeza deveria ter alguma relação que o Alex, a Simone e eu iríamos discutir assim que nos encontrássemos, mas naquele momento eu precisava esquecer tudo isso e ir dormir, já não me importava mais de ter aqueles sonhos talvez eles fossem a chave para descobrir a verdade por trás da maldição.

 Durante a noite não tive nenhum sonho, parecia que tudo estava normal de novo, porém, quando acordei, percebi que estava errada, deitada no meio do chão da cozinha estava eu com uma faca em uma das mãos e o corpo coberto por cortes que sangravam, assustada e cheia de dor dei um grito de susto, meus pais vieram correndo ver o que era e também ficaram atônitos quando me encontraram:

  - Ana o que você fez?- Minha mãe perguntou.

  - Nada, eu acordei assim!

  - Eu vi você vindo pra cá de madrugada quando eu voltava do banheiro, falei com você mas você nem respondeu! Como você não fez nada, menina?- Falou meu pai bravo.

 - Mas eu não me lembro de ter saído do meu quarto de madrugada! É sério vocês têm que acreditar em mim!

 No fim, meus pais não acreditaram em nada do que falei e minha mãe me levou para o posto de saúde, eu não podia ir para a escola daquele jeito, e enquanto estávamos a caminho eu só podia pensar que o que aconteceu comigo foi obra daquele ser que me visitava toda a noite, só que eu não podia contar pra ninguém porque ninguém iria acreditar...Só a Marta.

 Depois de me examinarem e de fazerem curativos, deitada naquela cama de hospital eu só pensava em ir até o quarto de Marta, eu já estava bem e sem dor, mas quem sabe se a professora me visse naquele estado iria perceber como a situação estava séria e abriria o jogo sobre a maldição.

 - Ana, preciso ir! Tenho que tomar um banho e resolver algumas coisas em casa, você vai precisar ficar mais um tempo aqui e mais tarde venho te buscar pra te levar pra casa... Ah! E antes que me esqueça, você está de castigo, não vai mais sair de casa até aprender a parar de se cortar!!- falou minha mãe séria, e depois saiu me deixando sozinha.

 Aquela era a hora perfeita para eu escapar dali, com um pouco de dificuldade por conta das feridas nas pernas consegui sair do meu quarto, então caminhei até o quarto da professora, entrei rápido antes que alguém visse e agora do lado de dentro dei de cara com ela me olhando com uma expressão atônita:

 - Vê agora como a situação está séria, professora?- Falei mostrando meus cortes.

 - É só você parar de se cortar!- Ela falou desviando o rosto da minha direção com uma expressão ignorante.

 - Olha, eu não entendo essa sua teimosia em não querer contar a verdade! O que você tem a perder fazendo isso? Será que você não vê o sofrimento que isso está causando!... E tudo isso é culpa sua!- Eu falei me sentando em uma cadeira ao lado de sua cama.

 Marta virou o rosto pra mim novamente com aquela expressão de dor e culpa e falou:

 - Você não acreditaria!

 - Já vivi tantas coisas sobrenaturais nos últimos dias, não tem nada que eu não acredite!- Falei confiante de que ela contaria.

 - Eu não posso! Tenho medo de que aconteça com você o mesmo que aconteceu com André!- Ela falou calma porém muito triste.

 - Quem é André?

 - Meu filho!

 - O que? A senhora tem um filho?-Falei incrédula, havia mesmo muito da vida de Marta que eu desconhecia.

 - Eu fui mãe solteira, sempre tentei criar André da melhor forma possível, mas falhei ao cria-lo perto dos Winter!- Ela lamentou

 - O que aconteceu?

 - Nós morávamos em um sítio perto do sítio do Joaquim, eu sempre fui muito amiga da dona Rosa a esposa dele, meu filho era adolescente na época e trabalhava ajudando Joaquim na ordenha e em outras tarefas, mas tudo mudou com a chegada da Sofia... Meu filho era completamente apaixonado por ela e quando Joaquim a matou ele ficou sem chão,vivia triste, abatido, queria vingança a todo custo e depois de um tempo ele ia sempre naquele sítio que ficara abandonado e sempre voltava perturbado, nunca me disse o que era, ele estava ficando maluco e eu sabia que tinha algo a mais nessa história dos assassinatos do Joaquim, até que um dia depois de várias tentativas de se suicidar ele finalmente conseguiu se matar! Depois disso eu vendi aquela casa e vim morar na cidade até o maldito dia em que resolvi desvendar essa história e acabei trazendo sofrimento pra cá, eu não me matei como meu filho se matou ao descobrir a verdade, mas como pode ver estou morrendo! De qualquer maneira vou morrer!

  - Eu sinto muito pelo seu filho, professora!Mas então a senhora está querendo dizer que não quer me contar nada porque tem medo que eu me mate?

  - Sim... Se bem que a morte é melhor do que seu outro destino!

  - Que outro destino?

  - Se tornar um monstro, alguém sem coração!

  - Não estou te entendendo!

  - Não tem mais como parar essa maldição, Ana! A morte é a solução!

  - A senhora está sugerindo que eu morra?

  - Jamais te daria essa sugestão!...O que eu te sugiro é que você machuque a si própria até ficar inválida, foi o que aconteceu comigo e eu consegui parar essa maldição, agora é a sua vez de fazer isso acontecer!- Ela falou de uma forma que me assustou muito, olhei confusa e com medo em resposta a ela que pareceu entender.- Esqueça o que disse você não entende o que estou falando, vou tentar resolver esse problema de outro jeito...Mas eu te prometo que não vou partir desse mundo até acabar com essa maldição!- Ela falou segurando minhas mãos e me olhando nos olhos.

  - Eu vou embora!- Falei soltando minhas mãos das dela, eu estava mesmo muito perturbada, tinha mais perguntas pra fazer, mas naquele momento eu só queria ficar o mais distante de Marta possível.

  - Cuidado, Ana! Você pode ser uma menina muito corajosa mas também é muito ingênua!Vejo o mal que antes estava grudado em mim agora em você!- Marta falou assim que eu estava na porta.

  Voltei para o meu quarto ainda muito perturbada e lá encontrei uma enfermeira que me deu bronca por eu ter saído mas nem liguei, fiquei ali até tarde e nem pensei em voltar a falar com Marta e quando finalmente voltei pra casa eu só pensei em deitar na minha cama dormir e acordar e ver que tudo isso não passava de um sonho, mas na verdade iria começar um pesadelo.

  Mal cheguei em casa e acabei de sentar em minha cama, quando ouço alguém me chamando no portão, ouvi minha mãe atendendo e percebi pela voz que se tratava de Simone, então apenas esperei que ela entrasse.

   - Ana?- Ela falou abrindo a porta.

   - Oi, Simone, entra, você não adivinha o que aconteceu hoje eu...- Parei de falar quando vi que ela estava com uma expressão triste e parecia querer contar algo.- Aconteceu alguma coisa?

   Ela apenas virou de costas pra mim e levantou a blusa revelando....A marca...A maldita marca...A maldição havia voltado.

   - Eu estou amaldiçoada!Eu vou morrer, Ana! Eu vou morrer!

A NovataOnde histórias criam vida. Descubra agora