Dylan Narrando

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Bagunça. Meus dias se resumiram nisso. Eu estava uma bagunça sentimental, profissional, e mental! Apesar de tudo no trabalho caminhar bem, eu sabia que só estava conseguindo graças a Laura e Otávio. Pensar no quanto Scarlatti fazia falta não ajudava nenhum pouco, tanto no meu humor quanto no resto. Embora ela não tivesse parado de trabalhar, o que me enviava por e-mails não facilitava muito. O resultado era que eu só obtinha mais papeladas para ler e trabalhos a fazer. As reuniões serem lideradas sempre por mim me estressava ao extremo também, e ainda com a falta de sexo... Bem, eu estava uma pilha!

Pensava em Scarlatti a cada maldito segundo do meu dia. Em casa, no trabalho, no caminho de ida e volta para qualquer lugar; uma padaria, bar, a casa do meu irmão... Não havia um único lugar sequer em que meus pensamentos encontravam refúgio. Scarlatti era uma presença constante em minha mente. Embora me recusasse querer admitir, sentia falta dela. E como sentia. Não era apenas do que dizia respeito a sexo. Não. Sentia saudades das suas provocações, dos sorrisos maliciosos, e até dos poucos espontâneos que conseguia capturar. Da sua presença, sua beleza, sua voz, o cheiro exótico... Sentia verdadeiramente falta de tudo que se referia a ela. Todavia ainda estava com muito ódio. A imagem dela aos beijos com aquele cara era repugnante, e mesmo não querendo ter essa lembrança em minha cabeça, forçava-me a revivê-la sempre que pensava em ligar para ela.

Os dias foram passando e eu me via cada vez mais frustrado com tudo. Recorria ao meu irmão sempre que possível, e, por mais que já tenha declarado que não fazia mais parte dos negócios, Derik me ajudou em tudo sem relutar. Tive diversas ajudas em meu socorro profissional, mas nenhuma na questão emocional.  E, por mais que todos colaborassem como podiam, eram os conselhos e a ajuda de Scarlatti que eu ansiava.

 Por diversas vezes me peguei fitando o aparelho celular, onde ainda tinha sua foto de cabelos soltos com a visão da minha janela logo atrás e os raios de sol a iluminando. Claro que queria apagar a fotografia da memória do aparelho, mas sempre dava voltas ou enrolava. No fim, acabava me iludindo com a desculpa de que não adiantaria apaga-la da memória do celular quando ainda guardava tantas outras lembranças na mente. No fundo, eu sabia que estava sendo um fraco.

Os dias estavam sendo dolorosos e angustiantes. As noites eram difíceis, pois era quando o desejo de tê-la era mais veemente, e as manhãs eram tão piores quanto, pois lembrava-me que seria mais um dia de trabalho sem ela. Soube de algumas vezes em que foi ao Sanchez, mas em todas as poucas eu estava fora em reuniões ou almoço. Eu não sei se Scarlatti calculava isso de forma estratégica, mas agradecia ao mesmo tempo em que a amaldiçoava. Meus sentimentos eram conflitantes; ao mesmo tempo em que almejava vê-la, a queria o mais distante possível de mim. Ainda a amava, lógico, não tinha como esquecê-la tão fácil.  A saudade às vezes era tanta, que cogitava ligar para ela. Diversas vezes me peguei fazendo planos de aparecer de surpresa em seu apartamento, mas então voltava a mim e rejeitava a hipótese. Ainda estava magoado. Também me perguntava o que ela tanto fazia. Pelo que vi dias atrás quando a visitei, Scarlatti não tinha diversão alguma a não ser trabalhar. Mas o que me intrigava e me torturava mais era não saber como andava sua vida sexual - já que uma vida amorosa ela não tinha. A minha estava péssima! Nem sequer cogitei ligar para algum contato ou procurar sexo nos bares. Meus amigos me ligavam aos finais de semana e eu sempre tinha uma desculpa diferente pronta para eles. O que não me deixava tão mau era poder ir a casa de Derik almoçar e ficar com minha sobrinha, que ficava ainda mais lida a cada dia que se passava. Fora isso, minha maior diversão era ficar em casa bebendo e ouvindo música alta. Trabalhar também ajudou muito, e quando eu me via pensando em como estava parecendo com Scarlatti, bebia de uma vez o que restava em meu copo. Derik se dizia preocupado, mas sempre dava um jeito de convencê-lo que eu estava bem. Quando ele resolvia bancar o protetor, era pior do que eu.

Minha Tentação - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora