EPÍLOGO

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Dylan Narrando


Eu abro os olhos num rompante e sinto meu corpo suado ser projetado para frente numa velocidade sobre-humana. Estou ofegante e espantado. Ainda recordo-me nitidamente das imagens no pesadelo que acabo de ter, mas agito a cabeça e afasto cada uma delas. O pesadelo consistia em um lar para crianças, e vi inúmeros cestinhos de bebês chorando a frente de um portão que mais parecia uma mansão. Não sei o que eu estava fazendo ali em meio aqueles bebês, que choravam em uma sincronia enlouquecedora, mas era fato que eu estava atrás de alguma criança, eu so não sabia qual delas era a minha.

Uma pontada em minha cabeça faz com que eu leve uma mão até ela, e eu grunho com o que identifico ser uma ressaca.

- Ah, você acordou.

Eu tomo um susto ao olhar para o canto e ver meu irmão sentado em uma cadeira. Eu pisco, um tanto confuso com tudo, principalmente ao olhar ao meu redor e notar que estou em um quarto que não é o meu - pelo menos já não há uns dois anos atrás. Estou na casa em que morei por boa parte da minha vida, mas que agora pertence ao meu irmão e sua nova família.

Olho para Derik sem entender muito o que ele faz ali, ou o porque de eu ter dormido no meu quarto antigo. Vestido com uma camisa do Guerra nas Estrelas e com calças moletom cinza, sei que ele acabara de acordar.

- Você... Dormiu aqui? - Pergunto-o hesitante e surpreso.

Derik suspira e passa uma mão pela cabeça quase raspada.

- Não consegui deixa-lo aqui sozinho - ela confessa a contragosto - Você estava... Péssimo. Acredito que nunca o vi assim antes e isso... Me assustou.

Eu pisco repetidas vezes e tento entender o que ele está falando e do que se trata tudo isso.

- Porque você se assustaria? O que... - eu estava prestes a pergunta-lo o que demais aconteceu quando começo a ter flashbacks estranhos. Então tudo me vem com clareza; meu vexame na reunião, a discussão com Scarlatti no bar... Oh! Scarlatti. Meu filho...

- Acho que você se lembra agora, não? - A voz de Derik me faz sair do transe silencioso em que me encontro e eu o olho com horror.

- Scarlatti... Deus do céu, Derik! Ela estava grávida. Scarlatti estava grávida de mim... - eu entro em desespero outra vez ao recuperar toda a memória ofuscada pela bebedeira. Agora sim o pesadelo obtém sentido. Sei exatamente atrás de qual criança eu estava.

- Eu sinto muito por sua perda - ele diz, e vem se sentar na cama comigo - Sinceramente, não posso imaginar como está se sentindo. Se perdesse Ana Vitória... Acho que não suportaria - Derik pega minha na sua e a outra afaga meu ombro nu.

- Eu... Ainda não sei o que pensar - confesso, carregando dentro de mim o sentimento de vazio - Sinto-me tão culpado... Se não tivesse dito todas aquelas coisas... Deus! Eu fui um idiota, Derik.

- Não! Não foi culpa sua - ele se adianta em negar - Scarlatti nunca teve um histórico muito bom com relação a isso, você não deve se culpar de nada. Além do mais, você não sabia.

- Mas... Espera. Como assim um histórico? - Eu ergo a cabeça para fitar meu irmão, que agora está com a expressão de quem deu mancada no rosto.

- Dylan... Eu... - ele larga uma respiração pesada e se põe de pé. Caminha até a janela ainda escondida atrás da cortina lilás, impedindo que os primeiros raios de sol da manhã entre e continua quieto.

- Derik, diga-me o que sabe - exijo. Sempre suspeitei que meu irmão soubesse mais de Scarlatti do que eu mesmo, e agora tenho a convicção de que sempre estive certo. Mas o que ele poderia estar escondendo? Meu irmão permanece calado, olhando para o lado de fora através de uma pequena brecha da cortina - Derik! - Pressiono, contendo minha irritação entre os dentes cerrado. Se ele sabia de alguma coisa a respeito da mulher que amo, era bom que me dissesse logo.

Minha Tentação - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora