1 - I can't forget it

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2010. Eu me lembro desse ano. Foi o ano que meus pais se separaram.

Eu tinha 11 anos, meu irmão, 14. Foi uma das piores épocas da minha vida. Foi realmente triste. Confuso. Horrível.

Flashback on

- Queridos, vou ao mercado. - Minha mãe falou, já saindo.

Mais ou menos 20h, ela pediu pro meu irmão tomar conta de mim, já que ela só iria comprar leite.

Eu e meu irmão sempre fomos muito próximos, nada de irmãos perfeitos, apenas próximos. Havia muita briga entre nós, mas nos entendíamos logo depois.

Naquela noite estávamos assistindo televisão, estava passando Bob Esponja. Eu estava deitada com a coberta, e Brand sentado no sofá ao lado.

Se passou mais ou menos vinte minutos, já estava passando outro desenho, Hey Arnold. Eu estava me perguntando o por que de terem parado de gravar esse desenho, quando minha mãe entrou em casa com o meu pai.

- Helena, espera. - meu pai falou.

- NÃO. Antony, eu só quero ficar sozinha.

- Pai, o que aconteceu com a mãe?

- Nada querida, ela só está estressada. Não se preocupem, amanhã tudo já estará resolvido. Vão dormir.

Eu fui pro banheiro escovar os dentes. Depois fui pegar a minha coberta e deitei. Estranhei, minha mãe não veio me dar um beijo de boa noite, talvez ela já esteja dormindo. Peguei no sono.
                
                               * * *

Acordei com a campainha, me levantei e percebi que ninguém foi atender, talvez ainda estejam dormindo, então eu fui atender.

Abri a porta, vi uma mulher alta, morena, linda.

- Oi moça.

- Oi garotinha, tudo bem? Eu quero falar com o Antony. Ele está?

- PAAAAII - gritei. Ela se assustou um pouco, por causa do meu grito, e também pelo fato de eu ter acabado de acordar e não ter escovado os dentes, nem penteado o cabelo.

- Oi querid... - ele estava descendo a escada, quando parou. - Oi, Claire,  o que está fazendo aqui?

- Bom dia pra você também Antony, eu vim pra te dar uma notícia.

- Bom dia, mas não pode ser outra hora, ou talvez outro dia? Estamos meio ocupados.

- Não meu amor, tenho que falar agora. - ela falou já entrando em casa.

AMOR? Quem é essa mulher? O que ela está fazendo logo cedo na minha casa? O que ela quer falar com o meu pai que não pode esperar? 

- Eu iria te falar ontem, mas você saiu correndo. Não entendi muito bem.

- Tudo bem, mas vamos fazer assim. Amanhã, 21h, no mesmo lugar de ontem. Pode ser? Agora realmente eu não posso.

- Pode. Até amanhã. - ela se aproximou do meu pai, e ele virou o rosto, e ela deu um abraço nele.

                               * * *

- Antony, são 15 anos de casados. OLHA O QUE VOCÊ FEZ COMIGO.

- Helena, para de gritar, as crianças vão ouvir. E me desculpa meu amor, aquilo não foi nada, foi um erro. Nunca mais vai acontecer, eu te prometo. Nunca mais.

- Antony, eu te peguei aos beijos com outra, e mais nova. Como você acha que eu estou? Você estava querendo que eu aceitasse? COMO VOCÊ PÔDE?

- Helena, vamos fazer assim, vamos ao shopping, esquecer isso, passear um pouco? Que tal? Deixamos as crianças com a minha mãe. E tudo se resolverá.

- NÃO. EU QUERO FICAR SOZINHA.

- Não grita comigo, eu já te falei que foi um erro, e nem fui eu que a beijei, ela que me beijou. Eu tinha acabado de sair do trabalho, fui comer alguma coisa, e ela estava lá, veio e me beijou, e você chegou. Eu nunca faria isso com você.

- Você me promete que foi só isso???

- Prometo. Você sabe que eu te amo.

- Ok, eu também te amo. Fui uma boba por achar que você  faria isso. Mas e aquele assunto do shopping? Ainda vamos?

- Claro, em uma hora saímos.

                               * * *

Um dia depois...

- Antony, me desculpe, mas não consegui esperar. Vou falar agora mesmo. - Claire apareceu novamente na minha casa.

- Claire, eu te falei pra esperar. Agora não dá. - meu pai que atendeu a porta dessa vez.

- Não Antony, não posso mais esperar. Eu estou grávida meu amor.

- O QUE??? - Minha mãe apareceu bem na hora que Claire falou que estava grávida.

- Sim senhora. Estou grávida do Antony. Descobri semana passada. Estou grávida de um mês e meio. E você, quem é?

- Sou a mulher dele. Mas depois dessa notícia, eu era.

- Não Claire, não pode ser. - foi a vez do meu pai falar.

- MULHER? Você nunca me disse que era casado. E sim, é verdade, eu fiz o teste, duas vezes pra falar a verdade, e eu realmente vou ter um filho.

- Eu sou casado, tenho dois filhos, e esse com certeza não é meu.

- Antony, você me disse que não a conhecia. Você mentiu pra mim. EU TE ODEIO. Pega as suas coisas e sai da minha casa.

- PAI? Por que você fez isso com a minha mãe? Ela te amava tanto. Você é um babaca.

- Brand, agora não. Eu tenho que resolver isso.

- Como você pôde sair comigo por 4 meses e nunca me falar que era casado. Eu acreditei em você, e nas suas promessas.

- 4 MESES? ANTONY?

- Amor, desculpa. Talvez eu tenha mentido só um pouco ontem, eu a conheço sim, ela trabalha na mesma empresa que eu. Mas ela não significa nada pra mim. Acredite. A única pessoa que eu amo é você. - meu pai, como sempre, mentiu.

- Senhora, me desculpe. Eu nunca sairia com ele se eu soubesse que ele era casado. - Claire saiu da minha casa correndo e chorando.

- Antony, eu não acredito mais nas suas mentiras, saia agora daqui. AGORA. - minha mãe estava chorando.

Eu ouvi tudo atrás da escada, eu só conseguia chorar. Como o meu pai conseguiu fazer isso? Ele destruiu isso que ELE chamava de família. E eu só conseguia pensar em uma coisa: Meio-irmão. Eu iria ter um meio-irmão. Tudo muito confuso.

Eu esperava mais dele...

Flashback off

Eu superei aquilo, junto com o meu irmão e nossos amigos. Já a minha mãe, ela não ficou muito bem. Ela ainda chora todo ano, no dia 04 de Março, dia em que meus pais se casaram.

Minha mãe não fala, mas eu a vejo chorando, mas ela só chora nesse dia. Nos outros dias, ela está sorrindo, como sempre.

Eu espero que um dia, ela consiga superar isso. Eu a amo, e espero que ela seja feliz. Afinal, toda dor, sem exceção, passa. Até mesmo as mais profundas.

Entre Sol e ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora