Capítulo 2º

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2º Capítulo

Leônidas está nervoso. Não sabe como se comportar ao vê-la depois de mais de seis anos. Tem consciência de que Alice está casada e quase retornou ao Brasil quando sua mãe lhe contou, após meses de silêncio.

Antes dessa informação, já que não recebia mais cartas, ele imaginava que algo de sério tivesse acontecido. Talvez o pai de Alice a estivesse proibindo de sair ou, quem sabe, havia descoberto algo sobre eles. Várias possibilidades passaram por sua mente e ele já se preparava para voltar, mas a notícia de que ela havia contraído matrimônio o pegou de surpresa, deixando-o arrasado.

Desde então, tudo em sua vida perdeu o sentido. O fato de imaginar que a mulher com quem planejara construir uma vida pertencia a outro o deixou sem rumo. Era torturante! Quem? Como e por quê? – passara os últimos anos, em completa escuridão, fazendo essas perguntas a si mesmo, sem obter uma resposta plausível. Só não desistiu de seus planos, sucumbindo à depressão, devido à promessa que fez ao seu pai de tornar-se médico.

Leônidas sabia o risco que corria ao ficar longe dela e que, em algum momento, ela poderia conhecer alguém, mas nunca imaginou que isso realmente pudesse acontecer.

Alice não havia lhe dado a chance de lutar pelo seu amor. Bastaria apenas um pedido dela e ele voltaria sem pestanejar. Abdicaria de qualquer coisa para ficar com ela. Hoje, quase sete anos depois, Leônidas a aguarda num discreto café, como um amante, um coadjuvante. Perdera o direito de participar da vida dela como protagonista, mas não arredará do lugar, até que saiba os reais motivos que a levaram a deixá-lo para casar-se com outro. Ele precisa seguir em frente e, para isso, mesmo que doa, terá essa conversa, pois seu resultado definirá o rumo que tomará na vida. Sabe que não seguirá ao lado dela, que já que está casada, mas precisa entender o que houve para que possa aceitar e prosseguir com sua vida.

Leônidas arriscou, mais cedo, ao mandar um moleque à casa do pai dela com o objetivo de descobrir seu paradeiro. Surpreendeu-se quando o garoto o informou que ela ainda reside no local, e mais, que a própria Alice o atendeu à porta. Nervoso, tratou de sacar uma folha de papel que havia em seu bolso, escrevendo-lhe um bilhete, onde informou o nome de um café e um horário. Assinou, torcendo para que ela não recusasse o convite e seu desejo foi atendido.

"Irei. Ass: Anjo."

A resposta escrita é mesmo dela. Leônidas conhece sua letra de cor, pois passou anos e anos relendo suas cartas, tentando descobrir uma pista do motivo de seu abandono. Nunca encontrou uma palavra que explicasse isso, a não ser amor em cada linha. Da mesma forma, leu esse sentimento no pequeno pedaço de papel que acabou de receber. Alice o assinou com o apelido carinhoso que só os dois conhecem: "Anjo". Embora não queira iludir-se, ele não pode negar que isso alimentou esperanças.

Ansioso, Leônidas checa o relógio mais uma vez e vê que passa trinta minutos do combinado.

***

— Aonde pensa que vai? — diz Juliano, levantando-se do sofá e analisando as roupas dela com um olhar recriminador.

— Eu... eu. — Por um instante, emudece devido à forma como ele a olha. — Vou dar uma volta no parque com o Sólon.

— Não minta para mim! — a voz de Juliano é mansa, mas seus olhos revelam raiva e decepção. — Vai encontrá-lo, não é?

— Juliano. — Alice junta as mãos, em súplica, tendo o filho agarrado ao seu vestido e atento a tudo. — Você sempre soube que isso aconteceria um dia.

— Não! — Juliano leva as mãos à cabeça, apertando firme a raiz de seus cabelos. — O que sei é que há anos amo uma ingrata! — fala alto, deixando-a com medo.

GUIADO PELO ÓDIO AO ENCONTRO DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora