Capítulo 7º

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OBS: ELES NÃO SÃO IRMÃOS!

Boa leitura!

Capítulo 7º

A intensidade do momento é tão grande, que parece reportá-la a um mundo paralelo. O olhar dele a acalma e seu toque quase a faz esquecer o motivo de suas lágrimas. Quase, pois a dor latente a desperta com força total, trazendo-a de volta à realidade.

— Sim, tenho certeza — sussurra Esther, desviando o olhar, fingindo estar alheia à forma como ele a tocou. Foi um gesto rápido, talvez involuntário, no entanto ela pôde ver, refletido nos olhos dele, o mesmo que sentiu. Sentiu não, sente, pois o calor de seu toque ainda lhe queima a pele.

— Podemos ir? — Sólon se apressa em perguntar, tentando manter a sanidade que a pouco quase perdeu.

— Importa-se em aguardar um pouco? — pede ela.

— Como quiser — responde ele, formalmente, voltando-se para a frente e reassumindo seu papel de motorista.

— Preciso da minha bolsa. — Ela aponta para trás.

Sem responder, Sólon estende o braço direito, alcança a bolsa e a entrega. Através de sua visão periférica, nota que ela toma um comprimido e, após alguns minutos em que luta internamente entre contemplar a música e olhar novamente para ela, surpreende-se ao quebrar o silêncio:

— Chopin! — balbucia, admirado.

— Conhece? — Ela não consegue esconder a surpresa ao saber que ele reconhece seu músico predileto e, curiosa, vira-se em sua direção, aninhando a cabeça no encosto do banco. Conversar pode ser uma ótima distração para aliviar a dor — tenta convencer-se de que esse é o real motivo, mas a verdade é que não consegue resistir em olhá-lo mais uma vez.

— Você gosta de Chopin? — pergunta Sólon e, como se tivessem combinado, ele a olha no mesmo instante.

— Que mal há em ouvir Chopin? — Ela franze o cenho.

— Não é comum uma garota da sua idade ouvir música clássica.

— Um motorista também não — rebate ela. Não tem intenção de ofendê-lo, apenas se interessa em compreender a escolha profissional do homem a sua frente. Ele é tão bonito, que poderia ser modelo, se quisesse, mas sujeita-se a um trabalho simples, digno, mas simples.

— Xeque! — Sorri discretamente. — Por que Chopin? — Ele quer entender. Que garota intrigante!

— Sinto-me viva quando o ouço. — Ficam novamente em silêncio, mutualmente envolvidos pelas notas da música, mas é por pouco tempo. — O que acha dessa canção?

— Belíssima! — Ele não se refere a música e, de certa forma, ela sabe.

— Sabe... os estudos comprovam que ouvir música clássica melhora o nosso desenvolvimento...

— Cognitivo — completa a frase dela, fazendo-a olhá-lo com admiração. — Tome. — Oferece-lhe os próprios fones de ouvido.

— Nossa! — Esther fica surpresa ao ouvir a mesma música que toca no carro. — Você também gosta de Chopin! — Ela revela alegria com a descoberta.

— Sim. — E o som do sorriso dela, aos seus ouvidos, supera todos os outros.

— Obrigada! — diz ela.

— Pelo quê?

— Por me distrair, a dor diminuiu. — Esther tenta mover a perna, mas, ao deslocá-la, constata que ainda não passou a dor, encolhendo-a de imediato.

GUIADO PELO ÓDIO AO ENCONTRO DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora