Capítulo 5º

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Capítulo 5º

— Medique-o. — Sólon vira-se para o enfermeiro, facilmente subornado, que o aguarda. — Avise-me se houver alterações no quadro clínico dele. — Estende-lhe o dinheiro prometido, enquanto olha ao redor, enojado com a visão da UTI superlotada. O estado do local é precário e não lembra, nem de longe, o hospital público Canadense onde trabalhou em seus primeiros anos como médico. Ele percebe que o pai não fez o mínimo esforço por pagar um plano de saúde. Sabe que não foi por falta de dinheiro, pois a pensão de seu avô é mais que suficiente para proporcionar uma vida confortável. Provavelmente a mesquinhez venha do vício da bebida.

Sólon se pergunta o que podem ter feito ao seu pai para que ele se transformasse no homem que é. Será que a culpa é mesmo dele? Sabe que a bebida pode causar transtornos de personalidade e, por mais que puxe da memória, não consegue recordar de um só dia em que o tivesse visto sóbrio. E se ele for apenas mais uma vítima?

O nome do tal médico não sai de sua cabeça. Leônidas Souza Nunes — repete mentalmente, tentando em vão obter respostas. A única certeza que tem, é de que precisa encontrar sua mãe e pressente, pelo tom de voz de seu pai, que precisa agir rápido. "Ela não fugiu, salve-a!" Sua única pista é o tal médico. Será que ela é uma de suas pacientes?

— José, você conhece algum hospital que tenha uma estrutura decente de UTI? — pergunta Sólon com o semblante impassível. — Preciso transferi-lo.

— Sim, claro! — O homem olha-o, esperançoso de que seu coração tenha amolecido ao ver o pai enfermo. — Trabalho na enfermaria de um hospital particular que é excelente. Quem sabe lá ele tenha chances de sobreviver?

— Perfeito! — diz Sólon, como se estivesse dando ordem a um subordinado. — Ligue para lá e consiga uma vaga para o... é... aquele homem. — Aponta para à porta da Uti, a qual acaba de sair. Mesmo moribundo, chamá-lo de pai é demais.

— Sabia que mudaria de ideia e terminaria perdoando seu pai — diz José, colocando as mãos nos ombros de Sólon em consolo.

— Não se trata de perdão! — Afasta-se do toque. — Quero apenas que ele se recupere o suficiente para que possamos concluir a conversa que começamos. — Como se se tratasse de algo corriqueiro, Sólon segue em direção ao balcão e troca algumas palavras com a recepcionista, que se mostra completamente solícita em ajudá-lo. Claro, ele se aproveita do encantamento que costuma causar no sexo oposto para conseguir o que quer. — Pronto, ele será transferido agora. Precisarei de sua ajuda.

— Como conseguiu? — José sabe que um procedimento complexo, como uma transferência, precisa que o médico de plantão avalie o quadro clínico do paciente e de outro médico para acompanhá-lo na ambulância até o local, junto com um enfermeiro. — Aqui mal tem médico para o plantão!

— Eu serei o médico responsável e você me acompanhará.

José não entende como ele conseguiu tal autorização, mas acha melhor não perguntar.

***

— Não descobriu nada! — Sólon olha friamente para o homem a sua frente. — Já faz três dias que te contratei e ainda não encontrou nada que ligue o Doutor Leônidas Souza Nunes a Alice Andrade?

— Não, senhor! — responde o detetive, sem titubear. — Rastreei todos os registros de cirurgia dele e cada ficha de paciente que teve nos últimos 24 anos. — O homem deposita o relatório sobre a mesa. — Levantei tudo sobre a vida pessoal do médico e não descobri qualquer indício de que se conheçam. Somente averiguei que é viúvo, pai de uma garota e um médico respeitado.

GUIADO PELO ÓDIO AO ENCONTRO DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora