Capítulo 6º

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Capítulo 6º

Sólon tem que arriscar, não consegue ficar apenas sentado aguardando notícias, pois isso poderá custar a vida de sua mãe. Não vê outra saída, senão procurar Leônidas pessoalmente e apresentar-se, mesmo correndo o risco de não obter informação alguma.

— Bom dia! — cumprimenta cordialmente o porteiro. Precisa demonstrar o máximo de confiança para conseguir entrar no local onde vive Leônidas. Não ousa dizer que o estão esperando, pois sabe que em condomínios de luxo, como esse, a segurança é efetiva. Sua ideia é uma abordagem menos formal e, por isso, deixou o carro estacionado em uma rua próxima. Bandidos geralmente escondem-se das câmeras, de forma que, com essa atitude, ele já ganhará alguns pontos. — Procuro o senhor Leônidas Nunes.

— O senhor é da agência? — pergunta, o rapaz engravatado.

— Sim — Sólon Aproveita a deixa e confirma, sem saber ao certo a que o homem se refere. Por Meio da mentira busca uma possibilidade de acesso ao médico. Essa não é a sua primeira tentativa. Antes disso foi ao consultório, mas a secretária de Leônidas, uma senhora de quase sessenta anos, não sucumbiu ao seu charme e negou-lhe uma consulta de encaixe.

Também aguardou a saída do médico para abordá-lo, mas foi em vão. Depois soube, por José, que na sala de Leônidas há uma porta privativa que dá acesso direto a garagem.

Marcar uma consulta pelos meios normais estava fora de cogitação, pois na agenda do médico só havia vaga dentro de trinta dias. Nem se apresentando como um colega de profissão, Sólon obteve privilégios. Claro que ele pediu à recepcionista para ser anunciado por Doutor Silva, sobrenome de seu pai, no entanto, como não é conhecido de Leônidas, não foi recebido.

Agora lá está ele fazendo-se passar por candidato a uma vaga de emprego. Sabe que não é uma forma honesta de se chegar a alguém, mas pretende se apresentar corretamente, assim que estiver cara a cara com o sujeito.

O porteiro libera seu acesso e anota o nome que ele dá: Sólon Silva.

Sólon junta-se aos outros, que aguardam ansiosos pela entrevista, e, atento à conversa dos demais, descobre que a vaga é de motorista.

Frustra-se por não ser o próprio Leônidas a entrevistá-lo, e sim o mordomo. Responde humildemente a todas as perguntas e aguarda desanimado. Resolve acabar logo com a farsa e partir, convencido de que não terá sucesso por essa via, mas, assim que se levanta, o mordomo rechonchudo o chama.

— Parabéns! O senhor se encaixa perfeitamente à vaga. É exatamente o perfil que procuramos — começa a explicar o homem. — Esse trânsito está cada vez mais caótico, não é verdade? — pergunta e Sólon apenas assente com um gesto de cabeça. — O Doutor Leônidas é um homem cheio de compromissos e precisará que você esteja disponível em horário integral. — Bate na testa de forma engraçada. — Já ia me esquecendo do principal. — Sorri. — No primeiro mês, você terá que ter disponibilidade total e quando eu digo total é total mesmo! — Dá ênfase às palavras. — Quase como um escravo! — Gesticula exageradamente, simulando um chicote. As palavras são duras, mas o tom jocoso diz o contrário. — Algum problema?

— Não, senhor! — Sólon entra no jogo; quer ver até onde isso pode dar.

— Assim que assinar o contrato de trabalho, venderá a sua alma. — Terto conta nos dedos. — Não terá mais finais de semana e feriados por, pelo menos, trinta dias... Aceita? — O mordomo ergue o cenho em busca de resposta. — Eu posso lhe assegurar que será muito bem pago, todavia o seu serviço terá algumas singularidades.

Sólon franze o cenho.

— Não se preocupe! — Sorri o entrevistador. — Não será um esforço significativo para um rapaz como você. — Pisca para Sólon. — Depois lhe explico com calma.

GUIADO PELO ÓDIO AO ENCONTRO DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora