CAPÍTULO 6 - PRESTANDO AS PRIMEIRAS INFORMAÇÕES

908 83 19
                                    

Enquanto Laura iniciava mais uma semana na vida de uma adolescente comum, Gabriel finalizava seu relatório verbal ao chefe, o senhor Lúcio Alcântara, um homem alto e robusto que tinha uma semelhança assombrosa com o ator Danny Glover no primeiro Máquina Mortífera. E, assim como o personagem do filme, sabia ser durão como ninguém que Gabriel já tivesse conhecido.

– E aí, o que você achou, Fernandes? Ainda é muito cedo ou você já percebeu algo a respeito do rapaz?

– Creio que ainda é cedo, senhor. – afirmou Gabriel, sem acreditar muito no que dizia.

Percebendo que seu investigador não estava lhe sendo de todo sincero, o Sr. Lúcio pressionou:

– Eu acho que você está guardando algumas percepções para si, Fernandes. Vamos, policial, é o seu primeiro trabalho de campo e eu sei que você consegue mais do que isso. Confio em você, rapaz, você tem instinto. Me diga de verdade o que achou.

Pronto, aí estava. Gabriel nunca imaginou que seria testado tão cedo, estava em dúvida se falava logo nos primeiros dias sobre suas intuições, porém, agora, sentia que tinha chegado o momento.

– Não, senhor, realmente não fui de todo honesto. Embora todos os fatos que eu relatei tenham realmente acontecido, a minha intuição me diz que o rapaz não é um distribuidor de drogas de Luiz. Passei esses dias todos com ele, conversando mesmo. O cara parece ser um bom cidadão, de família boa. Acredito que a relação que ele possui com o mafioso não é desse tipo.

– Bom... Também penso assim. – disse Lúcio, para grande surpresa de Gabriel. Esse, não se conteve, e retrucou, respeitosamente, claro:

– Como assim, chefe?

– Se Luiz for realmente um grande mafioso e traficante, ele não manteria contato direto com um mero distribuidor. Esse rapaz deve ser alguém bem mais importante para ele. Sua investigação acaba de se tornar mais difícil, Fernandes. Concentre-se no rapaz, torne-se amigo de confiança dele.

– Bem, chefe, estou caminhando para isso, se ainda não posso ser considerado um amigo de infância, ao menos um colega próximo eu sou.

Assombrado, Lúcio elogiou:

– Nos primeiros dias? Não sei como você fez, policial, mas o que quer que tenha feito, apenas continue fazendo. Você tem futuro, Fernandes, não me decepcione.

Dito isto, pegou o telefone, como se dissesse "terminei com você, pode sair", porém Gabriel tinha uma outra pergunta:

– Chefe, só mais uma coisa, e o verdadeiro distribuidor da escola? Vou parar de investigar ou ficarei com os dois casos?

Meio desconfortável pela primeira vez na conversa, Lúcio fez uma confidência inesperada:

– Olha, Fernandes, a verdade é que a polícia nunca recebeu nenhuma denúncia de venda de drogas naquela escola. Fui questionado por meus superiores se existia alguém nos meus quadros que pudesse passar despercebido como um aluno do ensino médio, com aparência jovem, mas que tivesse experiência. Eu disse que não tinha nenhum nome com aquelas características, no entanto, falei sobre você. Eles me disseram para colocar você e me deixaram a vontade para testá-lo, e foi isso que eu fiz. Agora, parabéns! Você passou com louvor e não precisa me agradecer pela oportunidade.

Logo após, dispensou com um aceno de mão um estupefato e enraivecido Gabriel que voltou a contestar seu superior.

– Senhor, eu sei que é a primeira vez que sou colocado em um trabalho de campo e por isso ainda não tenho a experiência necessária, mas gostaria de deixar aqui registrado que não concordo que informações valiosas não tenham sido compartilhadas comigo. Peço, humildemente, que qualquer outra informação crucial para o meu trabalho seja repassada a mim, afinal, sou eu que estou lá fora.

Tendo finalizado seu discurso, Gabriel não esperou resposta e saiu da sala fechando a porta ao cruzá-la. Gabriel não sabia, mas, com a sua corajosa declaração, tinha conseguido o respeito de seu chefe, e com ele um aliado de peso.

***

Não mais enraivecido, mas ainda extremamente chateado por não ter recebido todas as informações conhecidas do caso, Gabriel resolveu que iria diretamente para seu pequeno apartamento alugado no centro da cidade.

Embora tenha pedido a sua mãe para se aposentar e acompanhá-lo na mudança quando foi nomeado para a polícia, ela tinha preferido ficar no interior onde tinha passado toda a sua vida e, mesmo que não tivesse nenhum familiar lá, tinha suas inseparáveis amigas, que ele carinhosamente chamava de tias, pois fora criado com amor e carinho por todas. Eram três, duas solteiras, Maria Helena e Lúcia, e uma viúva, Arlete, que, junto com a sua mãe, formavam um grupo e tanto. Sentia saudades delas.

Chateado e ainda por cima saudoso, a ideia de ir para seu apartamento solitário não parecia mais tão desejável. Sua indecisão foi resolvida com o convite de seu colega de profissão, investigador Allan Reis, para tomar uma cervejinha em um bar que ficava quase em frente ao prédio da polícia.

– Gabriel, você tá com uma cara de cão sem dono, o que aconteceu?

Não podendo falar a verdade, a investigação era extremamente sigilosa, Gabriel deu a desculpa que tinha sido combinada com os seus superiores, caso alguém do prédio notasse que ele não estava dando o expediente completo.

– Estou cansado do trabalho administrativo, mas fui temporariamente deslocado para trabalhar no prédio da zona norte, estão precisando de uns documentos lá e não estão encontrando, como o arquivo principal fica lá, vou fazer uma busca.

– Poxa, isso é muito injusto brother! Quer dizer então que ficarei sem vê-lo por algum tempo.

– Não, você não vai. Eu tenho que ficar vindo aqui para entregar um relatório semanal ou sempre que tiver algo a relatar.

– Então boa sorte!

– Valeu.

– Vamos mudar de assunto que esse está muito deprimente. E garotas, conheceu alguma recentemente? Eu conheci uma loira, que não é bonita não, é uma deusa, a mulher tem um metro só de pernas. Eu ainda vou conseguir coragem pra chegar junto.

Rindo da expressão de seu amigo, Gabriel respondeu:

– Não, faz tempo que não conheço ninguém interessante.

Percebendo que a declaração carecia de firmeza, Allan forçou a verdade:

– Vamos Gabriel, sua expressão não reflete suas palavras. Olha, se você não quiser falar, tudo bem, mas que você está escondendo alguma coisa, tenho certeza.

Gabriel estava abismado de, em menos de três horas, ter sido desmentido duas vezes. Cansado de fingir, falou o que sentia:

– Certo, você ganhou, conheci uma garota essa semana.

– Sabia!!! Agora desembucha o resto.

– Não tem muito o que dizer, eu mal troquei duas palavras com ela. Só posso dizer que ela é linda, tem cabelos e olhos castanhos, um nariz arrebitado e uma boca carnuda, o corpo então... é de fazer babar. Mas nada disso é tão impressionante quanto o seu sorriso, parece que ilumina qualquer ambiente em que esteja.

Depois de soltar um sonoro assovio, Allan disse:

– Amigo, eu acho que acabei de fazer a minha boa ação do dia te convidando para o bar. Você está precisando de uma bebida urgentemente. E olha que sou totalmente contra beber mais de uma cerveja durante os dias de trabalho, mas quebrarei minha regra hoje por você.

Rindo, os dois foram pensar nas garotas dos seus sonhos no bar mais próximo.

___________________________

Oi, obrigada por ler este capítulo! Caso tenha gostado, poderia votar? É só clicar na estrelinha logo abaixo. Se também quiser comentar, fique à vontade!


Acaso Destinado (AMOSTRA)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora