CAPÍTULO 2 - O OUTRO LADO DA HISTÓRIA

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Ela não sabia que ele estava ali para observar seu irmão, que ele não pertencia mais àquela realidade já há uns três ou quatro anos, quando concluiu o ensino médio e estudou bastante para alcançar seu objetivo: ser investigador de polícia. Nunca, em seus mais loucos sonhos, ele imaginou que um dia teria que voltar para um lugar muito semelhante ao que, há algum tempo atrás, tinha rezado a Deus para sair.

Nunca gostara da escola, tinha sido sempre vítima de brincadeiras sem graça dos seus colegas, posto que era estudioso e não gostava de se afastar dos livros em prol das festas e bebidas. Seus colegas o chamavam de arrogante, pernóstico. Não, aqueles adolescentes nunca saberiam o significado de pernóstico, era besta mesmo que o chamavam.

Ele não era besta, arrogante ou pernóstico. Ele era apenas um garoto pobre que estudava numa escola particular com bolsa integral, e por nada no mundo faria algo que pudesse colocar em risco o seu futuro.

Isso não quer dizer que ele era um santo, claro que não, mas era um adolescente regrado, que não gostava de excessos, ao contrário de tantos outros que conviviam com ele na sua cidade. Tivera alguns encontros ao longo desse período, mas nada muito sério, apenas namoricos com algumas garotas da sua cidade, muito poucas do seu colégio.

As meninas da escola privada onde ele estudava eram, na sua maioria, garotinhas mimadas e filhinhas de papai, que, assim como os rapazes daquele lugar, julgavam uma pessoa pelo que ela tinha e não pelo que era. Como Gabriel não tinha muitas posses e estava longe de ser alguém rico, suportava as brincadeiras e piadas. Calado, somente desejava terminar aquele tormento e ir embora daquele local onde as pessoas boas e despretensiosas estavam em flagrante minoria.

Gabriel sempre aparentou ser mais novo do que a sua idade real e, quando era adolescente, odiava isso. Queria parecer mais velho, maduro, acreditando assim que seria respeitado, mas agora a antes rejeitada característica fora sua grande aliada. Seu chefe precisava de alguém com uma aparência jovem, que pudesse se passar por estudante do ensino médio, e ele, apesar dos seus 22 anos, se encaixava perfeitamente no perfil. Moreno, com olhos castanhos claros e um corpo atlético, mas não bombado, Gabriel não parecia ter mais que dezenove anos.

Ele participava de uma operação para investigar um grande empresário suspeito de construir sua fortuna por meios obscuros e que, de alguma forma, mantinha uma ligação com o irmão de Laura. Esse era o objetivo do seu disfarce de aluno: aproximar-se do garoto e, a partir daí, identificar que tipo de conexão era mantida entre um estudante de nível médio e um dos maiores empresários do país.

Gabriel fora chamado para uma reunião em caráter sigiloso. Lá, ouviu um pouco sobre a operação e o que queriam dele, mas as informações repassadas foram bastante limitadas. Contaram a ele sobre o Sr. Luiz Falcão, um homem não muito conhecido no país, não gostava de aparecer nas mídias, nem era muito visto em público.

Existia uma grande lacuna na vida pregressa dele: ninguém sabia de onde tinha vindo, nem como tinha construído sua fortuna, já que seus empreendimentos não justificavam tanto dinheiro. Seus negócios considerados legais estão espalhados por diversos ramos do mercado, de proprietário de cadeia hoteleira a grandes redes de restaurantes. Tudo parecendo tão perfeito quanto a licitude dos empreendimentos.

Para muitos agentes do Tesouro e da Polícia, a origem de sua fortuna seria derivada de transações ilícitas, que poderiam ainda ocorrer, embora nada nunca conseguisse ser provado. Algumas pessoas achavam que ele tinha dado um jeito de mudar de identidade durante sua vida. Essa era a suspeita mais lógica, tendo em vista que o homem parecia ter brotado da terra há alguns anos, mas não havia qualquer prova disso.

A suposta mudança de identidade poderia ter sido feita para encobrir crimes mais pesados, já que há uma hipótese de ele ser um grande traficante... de drogas e possivelmente um audacioso sonegador. Era nesse cenário que poderia se dar a ligação com Davi, ao menos isso fora dito para Gabriel.

Além disso, foi falado na reunião sobre rumores de distribuição de drogas na escola em que o rapaz estudava, o que levantou mais ainda as suspeitas sobre esse ponto. Apesar de tudo, e embora seu chefe tenha lhe dito para focar sua investigação neste sentido, Gabriel tinha feito uma promessa a si mesmo de que manteria seus olhos e mente abertos para quaisquer outros indícios, seguindo sua intuição, como um bom investigador deve fazer.

Voltando ao presente, lembrou-se do episódio ocorrido mais cedo, condenando-se pela falta de sorte. Estava fingindo ouvir música enquanto esperava pelo seu alvo. Sua estratégia era: esperar Davi chegar, observar o local que ele iria se acomodar e sentar ao lado dele para tentar iniciar um diálogo simples, antes de começar a aula. Reconhecia agora que fora afoito, inexperiente, provavelmente colocara tudo a perder.

Ele tinha que consertar o que tinha acabado de fazer, fora um crápula com a irmã da pessoa a ser observada por ele. Como ela o tinha chamado...?

"Grosso", foi isso, ela o chamou de grosso. Sua expressão, porém, era de quem queria dizer muitos outros insultos. Ele sorriu com a lembrança.

Ela era muito bonita, muito mais baixa do que as garotas que ele costumava se relacionar, mas, senhor do céu!, ela era linda, e enraivecida ficava ainda mais. Balançando a cabeça como que para dissipar os últimos pensamentos, ele entrou na sala de aula com a esperança de que tudo saísse bem e em um curto período ele pudesse retornar para sua vida profissional com uma boa promoção pelos seus serviços.

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Acaso Destinado (AMOSTRA)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora