CAPÍTULO 8 - IMPRESSÕES

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Fazia duas semanas que Gabriel fingia ser um aluno de ensino médio, um adolescente normal, e a cada dia ficava mais difícil manter o disfarce. Ainda não conseguira nada de Davi, nenhuma grande descoberta, a não ser que contasse descobrir a comida predileta, os horários do treino de futebol e que ele era apaixonado pela melhor amiga da sua irmã, uma loira chamada Beatriz. Bem, esse último nem era um segredo para ser descoberto, qualquer um que ficasse alguns minutos perto deles perceberia as faíscas.

Tudo bem que Gabriel ainda não fora convidado para ir à casa de Davi, porém numa ocasião que conseguiu olhar na mochila dele, não viu nada além do material escolar, equipamentos eletrônicos, HQs e, o mais surpreendente, camisinhas. Não deveria haver surpresa em se encontrar camisinhas na mochila de um adolescente, mas Gabriel, pelas histórias que Davi contava, estava muito seguro que ele fosse virgem.

Embora Davi fosse um garoto meio nerd, não poderia, de forma alguma, ser comparado aos personagens da série The Big Bang Theory. Davi não era muito estudioso, nem possuía qualquer dificuldade no convívio social. Ao contrário, ele parecia um rei na escola, todos demonstravam gostar e respeitar o garoto. Então a possível virgindade dele não era algo fácil de ser explicado baseado em algum juízo preconcebido.

Gabriel estava claramente se apegando ao rapaz, era um bom garoto e a investigação estava ficando mais difícil por algo que ele não esperava... a simpatia e amizade crescente que sentia por Davi, como se fosse um irmão que ele nunca teve.

Além da falta de rumo da sua investigação, para complicar mais ainda a mente do pobre Gabriel, ele não tirava da cabeça a megerinha da irmã de Davi.

Laura...

Linda Laura...

Linda e megerinha Laura.

Ele estava ferrado, tinha certeza que estava. Não conseguia parar de olhar para ela. Era como uma força invisível que ligava a atenção dele a ela. Tentava com bastante firmeza apenas olhá-la quando tinha certeza que ela não estava prestando atenção.

No entanto, hoje, na escola, quando estava novamente concentrado na beleza de Laura, fez algo que nem ele esperava. Absorvido na visão a sua frente, não percebeu que ela virara a cabeça na direção dele e o pegara no flagra. O esperado seria que ele fingisse não olhar para ela e a deixasse pensando que apenas observava um ponto indefinido que, coincidentemente, ficava na mesma direção. Porém, ele não fez isso. Ao contrário do que estava acostumado a fazer, desta vez, ele a encarou, acreditando, de forma errada, que a faria ficar com vergonha, diante do gesto ousado.

Na sua cabeça, a cena deveria se desenrolar da seguinte forma: ela ficaria "vermelha como um tomate" e, logo após, atarantada pela atenção fixa dele, desviaria seu olhar e fingiria que aquilo não acontecera.

Os fatos deveriam acontecer desta maneira. No entanto, a realidade foi um pouquinho diferente. A danada da irmã de Davi, em vez de desviar, continuou olhando para ele e, apesar de manter uma expressão séria, seus olhos pareciam sorrir. Céus! Ela estava paquerando com ele! E agora, quem estava encabulado era o adulto de vinte e dois anos. A garota conseguira deixar Gabriel sem reação. Quer dizer, ele até reagiu, mas não da forma que seria esperada de alguém que não estava ali com o objetivo de arranjar uma namorada.

Ele prendeu seu olhar no dela, primeiro sorrindo, depois mais sério, e esqueceu o mundo ao seu redor, sem dar-se conta do tempo que passara ao não ater sua atenção na tarefa que fora passada pelo docente. A batalha de olhares só teve o seu fim quando o sinal que indicava o término das aulas tocou, fazendo com que o encanto se quebrasse e ele voltasse para a realidade da sua missão ali.

Gabriel, que agora sorria com a lembrança, pensava sobre o joguinho infantil – e perigoso – que ele começou acreditando que venceria. O feitiço virara contra o feiticeiro, e o jogo, iniciado como uma brincadeira inocente, estava começando a mostrar suas consequências, já que Gabriel não conseguia parar de pensar no "fruto proibido".

Essa seria a palavra mais adequada para ele usar, cada vez que ousasse pensar na irmã de Davi. Proibida: isso que ela representava para ele. Proibição, perigo, fique longe, mantenha distância, placa com a imagem de uma caveira e dois ossos cruzados. Todas essas expressões deveriam servir para mantê-lo afastado dela, mas, neste exato momento, as palavras que flutuavam na cabeça dele ao pensar em Laura eram: linda, divertida, corajosa e sexy feito o inferno!

Irritado consigo mesmo, Gabriel decidiu tomar um banho e ir para a cama. Como Chico Buarque diz na canção: "amanhã há de ser outro dia". E, Gabriel esperava, que fosse um em que ele, finalmente, tomaria juízo.

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Acaso Destinado (AMOSTRA)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora