Faltava uma semana para os campeonatos e meu pai estava me fazendo treinar noite e dia. Já não errava nem um alvo sequer. Não tinha tempo para conversar com minhas amigas, sair com o Alan ou levar a Arrow para passear, era só treino. Faltando dois dias meu pai finalmente me liberou:
- Agora vá se divertir para não forçar muito os músculos.
- Sério? Obrigada pai! -disse dando-lhe um abraço e saindo correndo antes que ele mudasse de ideia.
Pulei o muro e bati duas vezes na janela de Alan, que quando me viu veio correndo para abri-la para eu entrar.
- Meu pai me liberou, temos que aproveitar!
- Que tal se nós formos nadar na cachoeira?
- Ótima ideia! Posso levar meu arco e flecha? Assim, eu vô treinando.
- Por mim tudo bem, desde que eu não seja o alvo!- ele falou brincando.
- Vou pegar minhas coisas e já volto.
- Okay.
Quando eu estava voltando para a janela vi um reflexo dourado com o canto do olho. Parei e olhei melhor. Era uma espada dourada que parecia ser muito antiga.
- O que é isso? Que linda! - eu falei indo em direção a espada e pegando-a. Assim que toquei na espada, senti uma sensação ruim, os meus pelos se arrepiaram e minha visão ficou branca. De repente, comecei a ver algo no branco infinito, eram dois homens conversando e uma mulher ajoelhada e com um arco e flecha na mão. Tentei ouvir o que os homens falavam, mas só o que eu ouvia era ruídos. De repente, a mulher começou a chorar. Eu não entendi o porquê, mas assim que o homem mais velho deu a espada dourada ao mais novo, que parecia com o pai da Lara, eu entendi. O homem com a espada fez uma cara de tristeza, mas logo se posicionou e cortou a cabeça da mulher. Foi então que a minha visão voltou e eu por impulso, soltei a espada no chão, fazendo muito barulho.
- Alan, está tudo bem aí?- disse uma voz que parecia ser a Lara, girando a maçaneta da porta. Não pensei duas vezes, me virei e pulei pela janela, dando um mortal e caindo abaixada na grama sem me machucar ou fazer barulho. Eu não sei como eu fiz isso, só sei que foi bem na hora, pois logo em seguida ouvi a voz já de dentro do quarto:
- Cuidado com essa espada. Se o papai ver ela no chão você vai ficar de castigo. Você sabe que é regra da aldeia cuidar bem das armas a nós concedidas. Elas são sagradas. Foram usadas na grande guerra, quando nós finalmente derrotamos os arqueiros e tomamos o território do sul.
Do que ela estava falando? Aldeia? Armas? Guerra? Arqueiros? De onde ela tinha tirado tudo isso? De livros de história? Era o que parecia. Já estava confusa o suficiente, então, pulei o muro discretamente e subi na casa da árvore para arrumar minhas coisas. Não peguei muita coisa, só meu arco e flecha, um biquíni e uma garrafa de água. Desci da árvore e falei com meu pai:
- Pai, eu e a Arrow estamos indo para a cachoeira, tudo bem para você?
- Claro, filha. Divirta-se.
Peguei minhas coisas e fui caminhando em direção à trilha onde eu me encontraria com o Alan. No caminho vi um garotinho tomando sorvete com a mãe e senti uma tristeza muito grande. Minha mãe morreu quando eu era bem pequena e eu sentia a falta de uma figura materna.
Me encontrei com o Alan na trilha e seguimos para a cachoeira, conversando.
- O que era aquela espada?
- Nada, só uma espada velha que está na minha família a muitas gerações.
- Ela tem alguma coisa estranha.
- Como assim?
- Quando eu toquei nela... Eu tive uma visão, ou sei lá o que foi aquilo.
- O que você viu?
- Uma mulher... uma arqueira, eu acho, sendo decapitada.
- Como era essa mulher?- ele perguntou meio assustado.
- Parecida comigo: cabelos escuros, olhos verdes e pele clara.
Quando eu disse isso ele ficou pálido e parou de andar.
- O que foi, Alan?- eu falei assustada.
- Ai, ai, ai. Não pode ser. Será?- ele falava sozinho andando em círculos, me ignorando completamente.
- Alan!- falei segurando ele pelos ombros e sacudindo.
- Hã?- ele falou confuso, como se não tivesse ouvido o que eu tinha dito.
- O que foi? Por que você está assim?
- Hum... Nada- ele falou pensativo- deixe prá lá. Vamos retomar nossa caminhada, se não só vamos chegar lá de noite.
- Okay, mas depois você vai me explicar essa história. Só mais uma pergunta: Sobre o que a Lara tava falando hoje sobre armas sagradas, guerras e sei lá mais o que?
- Não é nada, ela só está assistindo muita televisão...
- Sei...- falei desconfiada- Depois você me explica essa história, agora vamos logo para a cachoeira.- falei saindo correndo.- Quem chegar por último, pula da parte mais alta!- completei, deixando- o para trás.
Eu era menor, mais leve e ágil, ele não teve chance, chegou bem depois de mim.
Nós tomamos banho e deitamos na grama para observar o formato das nuvens.
- Sabe, Anna... algumas coisas da vida a gente não pode controlar. Então, eu só quero que você saiba que, independente do que aconteça, eu gosto de você de verdade e nunca quis te causar nunhum mal.
- Por que você está falando isso?
- Por nada, só quero que você saiba.
- Você tá cheio de mistério e "por nadas"
- Na hora certa você vai saber.
- Okay, okay, eu sou paciente.
- Mudando de assunto... Quando vai ser o seu campeonato mesmo?
- Daqui a dois dias, no centro de treinamento de Warisland.
- Eu posso ir assistir?- ele perguntou com uma cara de cachorrinho fofo.
- Claro! Eu vou chamar a Lara e a Milly, você pode ir com elas. A gente aproveita e conta logo a elas que nós estamos saindo a mais de dois meses e namorando a quase três semanas.
- Por mim tudo bem, já cansei de me esconder das pessoas.
- Ótimo, então está combinado.- falei feliz com a perspectiva de contar a verdade a minhas amigas.
- Acho melhor a gente embora logo pois eu ouvi boatos que um fugitivo estava se escondendo no
bosque.
- E você ainda me traz aqui, mesmo sabendo que tem fugitivo solto por aí?
- Não se preocupe, ele foi visto da última vez no extremo sul do bosque e Warisland fica bem no meio do bosque.
- Okay, okay. Mas, vamos logo, por quê já está escurecendo - falei isso olhando para o céu e percebendo que já estava escuro.
Nós estávamos andando pela trilha quando ouvi um barulho.
- O que foi isso?- perguntei ao Alan preocupada.
- Não foi eu... Corre!!!- ele falou entendendo o que estava acontecendo.
Não pensei duas vezes, corre o mais rápido que consegui. Quando olhei para traz para ver se o Alan está bem, vi um homem correndo atrás de nós. Devia ser fugitivo que o Alan tinha falado mais cedo. Quando olhei para a frente novamente vi um galho de uma árvore vindo em minha direção. Após a leve dor na testa, tudo ficou preto. Só ouvir a voz do Alan gritando, antes de apagar completamente:
- Ai meu Deus, Anna! Acorde, vamos lá!
VOCÊ ESTÁ LENDO
A herdeira do arco
AdventureAnna Archeer era uma garota normal antes de descobrir que é uma princesa de um reino de arqueiros. Agora, ela tem que assumir as responsabilidades de uma princesa e lidar com o fato de seus amigos serem do reino inimigo.