Finalmente em casa

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Ele aproveitou a vantagem e lançou um tipo de faca em minha direção. De forma instintiva, coloquei as mãos na frente do meu rosto. Após poucos segundos percebi que nada havia se chocado em mim. Abri os olhos e me assustei com o que vi. A faca estava girando no ar sem sair do lugar. Com o susto, rapidamente abaixei os braços, o que fez com que a faca despencasse no chão.
Percebendo a cara de assustado do gladiador, pulei de cima da árvore, peguei sua faca e a lançei em seu peito, fazendo com que ele despencasse no chão. Corri em direção ao Victor e o desamarrei.
— Como você fez aquilo!?— ele perguntou logo que tirei a corda que o impedia de falar
— Nem eu sei, estou assustada, mas não temos tempo para essa conversa. Temos que ir agora!— eu disse o levantando pela mão.
Virei os corpos dos quatro gladiadores atingidos pelas flechas e as retirei. Fui ao outro homem e peguei a faca que, em seu peito, estava fincada.
— Vamos precisar de todas as armas.— me justifiquei
Corremos o mais rápido que pudemos em direção a cidade, quando chegamos lá, agradeci, pela primeira vez, por minha casa ser uma das últimas, quase na fronteira da cidade com o território que um dia já tinha sido dos arqueiros. Os gladiadores ainda não haviam chegado lá, porque quando eu contei tudo para o meu pai ele ficou surpreso. Ele chamou Carlos, que por sorte já havia arranjado os cavalos. Me surpreendi quando vi o meu, era uma linda égua creme, com uma linda e longa crina branca.
— Pode ficar com ela, agora ela é sua.— Carlos disse ao perceber o quanto eu tinha gostado dela.
Juntamos nossas coisas e montamos em nossos cavalos, eles estavam sem sela ou qualquer outro acessório, me senti uma verdadeira amazona.
— Vamos?— estendi a mão ao Vitor com a intenção de ajudá-lo a subir na minha égua
— Não posso, tenho que ficar, ver como minha família está e ajudar o nosso povo.
— Se é assim, também ficarei. É meu dever protegê-los.
— Você é a única herdeira do trono, você não vai ajudar nada se estiver morta.
— Concordo. Agora vamos, antes que os gladiadores cheguem aqui.— meu pai alertou
Quando nós partimos, já dava para ouvir os gritos dos gladiadores ao longe.

Eu e meu pai seguimos Carlos até um lago, onde paramos para descansar.
— Com o ataque dos gladiadores, o acordo foi desfeito. Isso vai causar uma grande confusão. Pessoas que antes eram protetoras, vão voltar a ser guerreiras. Uma das mudanças será quanto o retorno dos jovens. Todos irão os sobreviventes irão retornar, o que te inclui você.— Carlos me explicou
— Então não é contra as regras retornar? Que bom, não teremos que passar por nenhuma burocracia.— comemorou meu pai
— Acho melhor nós irmos logo, os gladiadores já devem estar nos procurarando a essa hora.— conclui
— Concordo, vamos antes que escureça— disse Carlos
Subimos nos cavalos e partimos em velocidade. Após umas 3 horas chegamos a uma cachoeira no meio do bosque.
— Chegamos!— meu pai disse
— Como assim? Aqui no meio do nada!?— questionei-o
— Atrás da cachoeira está o nosso reino.— Carlos disse guiando seu cavalo em direção à queda d'água.

Meu pai fez o mesmo e eu os segui.
Quando atravessamos a cachoeira, um túnel escuro, iluminado apenas por algumas tochas, nos esperava. Cavalgamos por alguns longos minutos tediosos até vermos luzes. Era a vila, ou melhor, o meu reino.
Ao adentrar o reino, notei que dava para ver o céu. Questionei Carlos, ele me explicou que o nosso reino era localizado dentro de um antigo vulcão inativo a milhares de anos. Com o tempo, ele foi se desgastando e a abertura de cima dele acabou aumentando, nos permitindo a bela visão das estrelas.

Seguimos até o castelo, no caminho, muitas pessoas nos pararam para dar as boas-vindas. Me surpreendi ao ver a minha nova casa. Era o castelo mais bonito que eu já tinha visto na vida, na verdade eu nunca tinha visto outro castelo, mas com certeza mesmo que eu tivesse visto outros ele ainda seria mais bonito que todos. Era todo branco, com o topo das torres e as bordas das janelas azuis e decorado com diamantes e rubis. Se o nosso reino estava pobre, o meu povo realmente não conhecia a pobreza.
Dentro do castelo, o luxo não era menor: objetos de ouro e pedras preciosas que eu nunca havia visto decoravam o local. Uma voz me tirou do meu devaneio:
— Minha filha! É você mesmo? Achei que só vinha na próxima semana...— falou uma mulher alta, de cabelos escuros, com um belo vestido. Era a minha mãe. Eu definitivamente não estava preparada para aquilo.
A mulher correu e me abraçou, não consegui retribuir, fiquei paralisada com o choque. Ao perceber que eu estava sem reação ela me soltou.
— Oh, me desculpe. É que eu não te vejo a quase 16 anos. 16 anos contando cada minuto que faltava para eu reencontrar minha amada princesa. E agora, você está aqui, na minha frente. Tão crescida e mudada, nem parece aquele bebê que fui obrigada a deixar partir.
— Me desculpe... Eu não tive tempo para me preparar para isso. Durante toda a minha vida, eu achei que minha mãe havia morrido. Agora, eu tenho não só outra mãe como outro pai. Eu achava que tinha mais uma semana para me acostumar com a ideia, mas aí os gladiadores invadiram a cidade e eu fui obrigada a vir.
— Eles o quê!?— ela parecia surpresa
— Eles invadiram Warisland e mataram muitos arqueiros. Eu estaria morta se não fosse um amigo.
— Ai meu deus! Seu pai não vai gostar nem um pouco disso. Haverá guerra. Nós estamos nos preparando para ela há muito tempo e seu pai só estava esperando um motivo para atacar os gladiadores. Mas isso não interessa agora, vamos acomodar vocês três e amanhã nós conversamos, quero recuperar os 16 anos perdidos.
— Obrigado, mas eu já tenho minha casa aqui, preocupe-se com esses dois.— disse Carlos, fazendo uma reverência e se retirando
— Bom, essa é a Amélia, ela vai mostrar a vocês os seus quartos.—  ela fez sinal para que uma jovem moça se aproximasse — Ah, filha, ela será sua assistente, também conhecidas como criadas, mas não gosto desse termo, é pejorativo e despreza o essencial trabalho dessas moças neste castelo.
Não a conhecia bem, mas minha mãe parecia ser uma mulher muito sábia e justa. Amélia me levou ao meu quarto. Nem acreditei quando eu entrei nele, era maior que minha casa, minha cama era enorme e tinha um lindo dossel azul turquesa que combinava com a decoração. Cortinas de cetim cobriam toda a parede atrás da cama.
Abri o que parecia ser um armário e me deparei com um enorme closet que continha milhares de vestidos com todas as cores imagináveis. Apertei um botão em cima de uma mesa e uma gaveta cheia de joias abriu-se. Ela continha colares, brincos e pulseiras de diversos tamanhos e com pedras diferentes. Abri uma porta e me deparei com outro closet. Esse porém, só continha sapatos de todas as cores, alturas e estilos.
— Acho que estou no céu!— falei a Amélia. Ela riu.
— Uma reação muito apropriada, eu também ficaria assim se ganhasse um quarto desse de presente de aniversário.
— Ahm... Onde você dorme?— perguntei um pouco receosa
— Na ala oeste, próximo à cozinha e a lavanderia, onde ficam os funcionários. Não é um quarto de princesa, mas é muito melhor do que a sela que eu ficava.
—  Como assim? Você foi presa?
—  Ah, não. Quer dizer... Eu era prisioneira dos gladiadores. No ano em que eu estava sendo levada para Warisland, os gladiadores atacaram os protetores e sequestraram dezenas de protetores e bebês, eu fui um deles. Um dia alguns arqueiros se infiltraram no castelo deles e salvaram muitos de nós.
— Sinto muito... Eu também estava nesse grupo de crianças, mas por sorte, minha protetora conceguiu me esconder a tempo.
— Acho que não é hora de falar sobre isso, senhorita, está na hora de você tomar banho e dormir. Amanhã você terá um dia cheio.
— Senhorita não, por favor, me chame de Anna. E... posso te chamar de Lia?
— Claro, senho... Quer dizer, Anna. Agora vou te mostrar seu novo banheiro, acho que você vai gostar...

Nós saímos do closet e entramos em outra porta, era o meu banheiro. Ele tinha paredes cobertas de pequenos azulejos brancos que tinham um brilho meio azulado, no teto de cor azul, um lindo lustre de cristal iluminava o ambiente, o chão era todo de madeira e uma enorme banheira branca se destacava.
Disse para Amélia que eu sabia tomar banho, mas ela continuava insistindo.
— Princesa, esse é o meu trabalho. Você não deve tomar banho, se vestir, pentear os cabelos ou se maquiar sozinha. Se você fizer isso, para o que eu serviria?
— Você pode ser minha amiga, me ajudar a ser uma princesa. Que tipo de pessoa eu seria se nem ao menos tomasse banho sozinha?— ela fez uma cara de decepção— Que tal assim: eu deixo você me maquiar, pentear e me vestir já que eu não sei com uma princesa deve andar e você também pode preparar o meu banho, mas eu o tomarei sozinha.— ela pareceu mais feliz ao me ouvir:
— Sim, Princesa Anna. A senhorita, quer dizer, você pode esperar lá fora enquanto eu preparo seu banho.

Após meu longo banho, fui ao meu closet procurar algo para vestir. Reparei em um teclado ao lado do armário, o número 1 estava selecionado. Apertei o número 2 e os cabides andaram. Os vestidos chiques deram lugar a diversas saias. Apertei o 3 e foi a vez das calças, o 4 e muitas blusas apareceram, ao selecionar o 5 vários pijamas apareceram, todos vestidos de cetim, das mais diversas cores, estilos e tamanhos. Peguei um aleatório e fui aproveitar a minha cama dos sonhos.

A herdeira do arcoOnde histórias criam vida. Descubra agora