O sequestro

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Acordou no meio da noite com o som de um assobio, que a fez levantar da cama em um pulo. Fecha a janela, mas antes coloca a cabeça para fora deixando o vento, da madrugada esbelta, vagar pelo o seu quarto, percebendo que aurora ainda não havia raiado retorna a sua cama, suspira fundo e pede aos céus uma noite tranquila. Volta a dormir, novamente um assobio que por sua vez é acompanhado por uma melodia,  onde a mais bela harmonia à faz abrir os olhos, dessa vez era o despertador. 

  Com a vista embaçada vê o relógio marcando exatamente: 6:00 horas .

Que saco! Não tô afim de levantar, arw ¬¬'

Era dias similares a esses em que não queria sair de casa. Dias que se perguntava constantemente o porque da sua veemência respiração, em um planeta de mais de oito bilhões de sofredores e rabugentos seres. Seus pensamentos estavam, naquele momento, se materializando em uma cachoeira que jorrava de suas reverberáveis pupilas, deixando como herança, um alívio que provavelmente desapareceria dali à algumas horas. Iria viver apenas, mais um dia em que lastimava a sonoridade do despertar melancólico do seu celular, convidando-a para se levantar.

"Calma menina, não fique assim tão triste, que tal tentar e vestir o seu mais doce sorriso? " 

Dizia uma vozinha lá no fundo, do fundo, do fundo — profundo isso não? —  Volta a dormi, com tanta birra qual seria o destino de Bruna?

 Sabe aqueles minutos extras de sono que você fica na cama e faz toda a diferença? Então, ela desfrutava eles nesse momento. Queria fugir, mas para onde? Não queria encarar mais um dia. 

Tic, tac, tic, tac...  6:15

— Tenho que me levantar, não posso chegar atrasada tenho prova no primeiro horário. 

Se levanta, arruma sua cama. De frente para o espelho, para. Olha seu reflexo se autoavalia, não tinha nada que a entregava, exceto as olheiras, resultados de noites em claro, onde ficava pensando da sua mera vida medíocre,  tudo "aparentemente" bem. No entanto, o cansaço mental que carregava era incrivelmente estrondoso."É estranho não é? Uma pessoa que sorrir todos os dias, ser uma pessoa triste", pensava. 

Banho, lanche, mochila. Já estava pronta:  Entrada franca, seja bem vinda a uma amostra do inferno! Essa era a visão que tinha quando saia de casa. Não negava que era pessimista e não via nada de mau nisso. Alias, o que é uma pessimista em um mundo em abundância de vaidades e hipocrisias?

O ônibus vinha lotado, como sempre. Deu sinal, um por um dos passageiros se espremia naquela lata em quatro rodas. 

— Todo dia a mesma coisa, não são nem 8 horas e já estou toda suada! Cadê o ar condicionado? Tudo culpa da Dilma! 

Dizia uma Senhora sentada em um dos bancos preferenciais.

— Tá certo. Vai entender esse clima do Rio de Janeiro, ontem tava um calor aí, começou a chover de uma hora para a outra minha fia... a vida é assim mesmo tem jeito não! 

Falou a "Sra. Meteorologista" arregalando os olhos e deixando os óculos inclinados para mais baixo do nariz. O volume em que elas falavam deixava bem claro que deveriam ir mais vezes ao otorrinolaringologista.

— Meu Nego que sofre! Tem tudo o côitado: renite, blefarite, pancreatite, epicondilite, gastrite, hepatite, artrite, bronquite, nefrite, faringite, laringite, miosite. Tem até celulite!

Dizia a primeira numerando com os dedos às doenças. Bruna estava de pé, quando entrou um rapaz— não devia ter mais de vinte e tantos anos. Aqui está o que Bruna pensou: "Nossa, que gato!" e aqui está a definição da narradora: o cara era bonitinho, concordo. Mas não é pra tanto, ele vestia roupa social, gravata azul cor do céu, alto, loiro, olhos claros, azuis? Acho que a Bruna sabe dizer mais do eu, já que não tirou os olhos dele. Trazia consigo uma bíblia, pedia licença entre a multidão de cidadãos que se direcionam todos os dias nessas condições horríveis para seus respectivos trabalhos.

A ultima gotaOnde histórias criam vida. Descubra agora