Próximo ponto

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E ali estava ela, mais pálida do que o normal, observando as curvas do horizonte, as tão famosas montanhas do Rio de Janeiro, com o por do sol espelhando seus olhos cor de mel, que tanto observava a beleza do lugar. Sentada na janela do ônibus, ao som da quinta sinfonia de Beethoven e vidrada no quinto capitulo de "Senhora" de José de Alencar se sentia bem, admiravelmente bem. Cadê o sentimento que a sufocava, que a fazia chorar como se fosse uma criança? Ele não estava lá, por enquanto, pois em algum lugar o relógio da confusão tocaria seus sinos e ela se derramaria em algum lugar qualquer, disfarçando ao máximo e se sentindo com mérito por atuar tão maravilhosamente.

Morfadas em seus pensamentos, olha seu celular e percebe que tinha duas chamadas perdidas da Carol, uma colega de classe;

Ótimo tudo o que eu queria! Uma tagarela me perturbando, aff se bem que gosto dela, por qual motivo não retornaria? Está chamando, Tun... Tun...

- Alô?

- Oi Carol, você me ligou?

- Quem é? Eu? Eu não liguei pra ninguém não... quem tá falando?

- Ca-ro-li-ne! Sou eu, Bruna tem certeza que não me ligou? É que tem duas cha...

- Aaaah Brum, para de ser lerda, liguei sim. Porque não disse que era você logo?

- Pensei que tinha meu número salvo ._.

- Mas tenho, não é o mesmo do whatsapp?

- É sim.

Meu Deus o que ela quer? -.-'

- Queria companhia para sair hoje, ai lembrei de você. Vamos?

- De mim? Ah não, tenho prova de história amanhã e...

- Aôô! Só pensa em estudar, vamos cara! Vai ser legal... Estava pensando em ir ao cinema. Vou chamar a Emília também, tem certeza que não quer ir?

- Bem, não sei... o dia não foi nada legal hoje. Talvez, seja melhor ficar em casa e relaxar um pouco. Agradeço por ter se lembrado de mim, mas...

- A cara! O Lucas vai, ele que me pediu pra te chamar. Não conta pra ele, mas ele tá afim de você, da uma chance pra ele.

Respira fundo, respira fundo; não joga o celular pela a janela, calma, não joga. Respira.

- Deixa pra próxima, ele é um cara legal. Você não tinha gostado dele? Porque não vai com ele?

- Tem certeza que não vai? Você tá tão caidinha esses dias, aconteceu alguma coisa?

- Não Carol, só é a pressão dos vestibulares, o enem... sabe como é né?

- Tem certeza que só é isso?

- Ahan, tenho. Se divirta, tchau.

Estranho, a Carol percebeu alguma coisa? Só pode está de deboche. Da ultima vez que a vi pensei que estava atuando perfeitamente... Talvez ela só chutou, ela sempre faz isso... 

Pausou a música, fechou o livro, desceria no próximo ponto.

Negras nuvens do sul invadiam o céu, jogando de lado o laranjado cor de rosa fascinante que floria o fruto da esperança de um dia melhor, mesmo só que por alguns minutos. Os pingos da chuva batucava o guarda chuva, o vento repeliam seus pelos, as lamas sujava seu All Star , o vento entrelaçava seus cabelos. A chuva aumentava, os pingos mais fortes, elevaram-se a frequência depois de dois minutos de caminhada até chegar em casa.

Foi direto para de baixo do chuveiro, precisava limpar sua mente e aaaah! Se seus pensamentos sai-se com água e shampoo. Mas, não saia e tinha que aceitar. Foi dez minutos de água quente, e seus pensamentos não evaporaram, estariam imune a qualquer formula de extinção?

Pegou a lasanha na geladeira, jogou no microondas. Livro de História, página 93, Segunda Guerra Mundial: "Ao final da I Guerra a Europa enfrentou (...)" já tinha lido aquele capítulo, são vinte folhas repetidas, poderia gabaritar aquela prova e precisava, só pra fazer sentido a sua existência, como seria lembrada? " A garota invisível".

Pin, pin, pin...

O jantar estava pronto. Estava só em casa, sua irmão ainda não chegou da escola, seus pais ainda estava no trabalho. Foi para o quarto, pegou seu notebook, nova nota:

"Tenho medo de mim mesma. Sou minha pior inimiga, sei todos os meus pesadelos, medos e frustrações. Sei o que penso, e a "outra" que vive em mim diz coisas assustadoras à meu respeito. Ela me deixa triste: filtrando meus sorrisos, dizendo que não vou conseguir, que meus sonhos não passam de nuvens que logo, logo o vento espalhará. Há dias em que diz que não sei amar e que ninguém se importa. Ela é verdadeira, "Ela" (a que vive trancada em um coração vazio, onde recebe visita do medo e da "a-mi-ga" solidão) vive em um terreno com a plantação desvatada, onde as plantas são regadas com o seu próprio sangue, um órgão que vive em uma completa terceira guerra mundial, com bombas de ódio, onde a fumaça da decepção e insegurança a intoxica. A segunda "eu" sente desprezo por si mesma, sente desprestígio pela a garota que rir a toa, mas quando para um minuto para pensar, chora. Apenas, chora e luta para segurar o choro. Tudo tão confuso, uma turbulência de pensamentos devastadores é o que elas enfrentam dia após dia. Com a grande possibilidade de contrair a gripe emocional, em um mundo onde não há vacinação contra a bipolaridade."

Segunda, 15 de Março de 2013

Estava faaaaaaaaaaarta! Será que o oxigênio que absorvia era necessário? Pensava.

Enfiou-se no edredom e o barulho da chuva no telhado incorporava uma orquestra de fundo. Nos últimos minutos de plena consciência ouviu: "Calma, clama coraçãozinho, logo, logo vai passar."

Obs.: Quem nunca passou por um dia ruim que atire a primeira pedra; Se gostou dê link, e veremos onde a gripe emocional a levará.


A ultima gotaOnde histórias criam vida. Descubra agora