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|Zoe's POV|

Há já cerca de três dias que ando à procura do Ash, e por sua vez, daquele restaurante do pai da Selena mas parece ter desaparecido do mapa porque não encontro...

Paro o carro à frente de um café para saber se me conseguem dizer onde fica o restaurante mas, mais uma vez, não sabem. Sento-me numa das cadeiras frustrada, com o cartão numa mão e o telemóvel na outra. Já tentei ligar para lá umas quantas vezes mas parece que o telemóvel está desligado. Olho em volta e reparo no bar. É simples, de madeira, com uns quantos cartazes afixados nas paredes com frases cómicas e inspiradoras. As mesas parecem as que se vêm nos filmes americanos. Cadeiras de um tecido plástico encarnado e mesas castanhas daquelas com só um pé de apoio pregado ao chão. Nos bancos altos do bar uns quantos homens com ar de pifos estão sentados ou esparramados sobre o bar a criticar o jogo de rugby que está a passar na pequena televisão antiga.

O Barman fala animadamente com os homens que estão a jogar snoocar e goza com um terceiro jogador que está sentado com um ar de amuado. Nas casas de banho conseguem-se ouvir vómitos e coisas impróprias, como de costume.

Chamo a atenção ao Barman e peço uma Radler preta para beber e este serve-me animadamente como quem tem gosto no que faz mas dá para entender que ele apenas está como todos os outros homens aqui, bêbedo.

Verifico o telemóvel enquanto dou um golo na cerveja. Nenhuma chamada, nenhuma mensagem. Nada. Parece que ter saído de casa não foi algo que importasse a nenhum deles.

Suspiro e dou mais um golo na cerveja.

Lá fora, a chuva parece ter voltado, agora com trovoada. Pego na cerveja e no pacote de batatas que não pedi mas que o Barman me deu, juntamente com a minha carteira e sento-me numa das mesas encostadas às grandes janelas que dão para a rua.

Observo a estrada, vazia. Nos passeios vários grupos de pessoas passam. Alguns rapazes apenas de impermeável a ouvir música, uma rapariga que passa por grupos de amigos que vão alegremente a passear todos ensopados enquanto que ela, de guarda-chuva aberto a resguardar-se da chuva, chora aflita.

Dou por mim a pensar na minha vida. Em como ela tanto mudou...

Abro o mapa que arranjei num posto de turismo e marco mais quatro sítios por onde passei. O café onde estou, a marina e todas as praias. Também já verifiquei perto dos bosques e no centro da vila mas nada. Ninguém sabe onde fica o restaurante... Ninguém sabe de nada. Tento ligar ao Ash pela sexta vez só hoje mas parece que ele não tem sequer o telemóvel ligado. Talvez ele não queira ser encontrado, talvez eles estejam melhor sem mim... O Ash e o Joe pareciam já estar bem com o meu "desaparecimento". Talvez ter vindo para cá tenha sido um erro.

Se era suposto eu conseguir lembrar-me das coisas por estar no ambiente porque é que não me lembro do Ash? Do livro? Das idas ao cinema? Porque é que não me lembro do que os meus pais me fizeram? Porque é que não me lembro do meu próprio irmão? Dos meus melhores amigos? De quem tanto me fez falta na vida?

Talvez deva voltar para Portugal... Lá eu não estava confusa, lá a minha vida era boa. Já tinha amigos, não tinha problemas por não me lembrar do meu melhor amigo, do meu namorado, do meu irmão. As coisas eram tão simples... Talvez deva voltar... Mas não consigo deixá-los... Há algo que me prende, algo que me mantém aqui, algo que não quer ir embora. Por mais que a dor de não ter por cá a memória seja imensa eu não consigo partir... Não consigo deixar a minha família...

Suspiro e peço mais uma Radler visto que já tinha acabado a primeira.

Vem me à cabeça as paisagens do Alentejo, nos seus tons de amarelo, verde seco e castanhos. A minha casa em Lisboa, numa daquelas ruelas onde nada passa a não ser a multidão que vai para os bares, restaurantes ou discotecas. Lá bem no topo onde a vista é esplêndida, com a sala virada para a ponte 25 de Abril e por sua vez, virada para o cristo rei. O meu quarto azul claro com a mobília a branco e montes de livros nas várias estantes, todos eles lidos e relidos. O Porto e as suas ruas em pedra da calçada portuguesa que toda a gente conhece e detesta por ser cheia de falhas e por destruir tantos sapatos de salto em bico. Com os variados restaurantes típicos com o cheirinho a Cozido à Portuguesa, Bacalhau à Brás e o belo do Borrego...

Sky Full Of Stars | A. I. | ParadaOnde histórias criam vida. Descubra agora